quinta-feira, 27 de novembro de 2025

PAUL VALÉRY

 


“Já não sei e me pergunto, em meio a meus anéis de fumo, se irei esta tarde ao mar, através das árvores, ou até o monte carregado de rochas, ou então visitar alguns amigos em suas moradas; ou se deixarei puramente escorrer o bom tempo límpido, toda a massa do começo da tarde lento e tépido até a sua última luz? Oscilo, pinto-me o possível e apago. Digo-me sem querê-lo que os animais não o fazem nada mais que o útil. Até suas brincadeiras são justos dispêndios. Mas nós, o excesso de espírito turva e difere, com sua duração, todas as contas de nossa vida. Ganhamos, perdemos tempo, nosso saldo nunca é nulo. Sonho com essa moeda estranha. Ouço uma água que silva e segue não sei onde; um martelo não sei onde que martela não sei o quê...”

ALFABETO, do poeta e filósofo francês Paul Valéry (1871-1945). Tradução: Tomaz Tadeu.

“Je m’interroge au milieu de ma fumée si j’irai tantôt vers la mer à travers les arbres, ou sur le mont accablé de roches, ou bien visiter quelques amis dans leurs demeures; ou si je laisserai couler purement le beau temps limpide, toute la masse de l’après-midi lente et tiède jusqu’à sa dernière leur? Je varie, je me peins le possible et j’efface. Je me dis sans le vouloir que les bêtes ne font rien que d’utile. Même leurs jeux sont de justes dépenses. Mais nous, Le trop d’esprit trouble et differe tous les comptes de notre vie avec sa durée. Nous gagnons, nous perdons du temps, notre solde n’est jamais nul. Je rêve a cette monnaie étrange. J’entends une eau qui chuinte et se suit je ne sais où; un marteau je ne sais où qui martèle je ne sais quoi...”

Nenhum comentário: