A FRAGILIDADE DO SUCESSO
O santista aproveitou bem o feriado de Ano Novo de
1921. Os cinemas ofereciam uma programação variada. No Teatro Guarani (Praça dos Andradas) estava em
cartaz A casa misteriosa e O Intolerável. Tom Mix era a atração do
Polytheama (Praça Rui Barbosa). O destaque, entretanto, podia muito bem ser o filme Castidade (“o nu purificado... e
apresentado numa genuína e elevada expressão de arte”), com a Vênus americana
Andrey Munson (1891-1996). Em uma época em que fotos eram raras em jornal, há
uma ilustrando a matéria sobre essa atração: a lânguida Andrey Munson coberta
por um véu diáfano revelador de um corpo esbelto. Justifica-se: afinal, Munson protagonizara
o primeiro nu do cinema norte-americano em “Inspiration”,
de 1915.
Não há notícia de que a liga dos moralistas tenha
se mobilizado contra a apresentação do filme. “Castidade”, de 1916, era o
segundo filme de Andrey Munson e foi o único dos três filmes dela que se salvou.
E por pouco! Foi descoberto em 1993 na
França numa “coleção de pornografia”, sendo adquirido pelo arquivo nacional de
cinema daquele país.
Andrey Munson começou a carreira no teatro com 17
anos, mas foi como modelo para artistas que se tornou famosa depois que o
escultor Isidore Konti (1862-1938) convenceu-a a posar nua para as “Três Graças”
criadas por ele para o Grand Ballroom do
Hotel Astor em Times Square, Nova York. Em 1915 foi escolhida pelo
escultor Alexander Stirling Calder (1870-1945) como modelo da Exposição Universal*
em S. Francisco (já recuperada do terremoto de 1906).
Foi em 1915 que Andrey Munson apareceu no
primeiro filme – apareceu porque ela só fez as cenas de nudez, pois o estúdio
contratou uma atriz parecida com ela para a atuação. O terceiro filme parece
que nunca foi distribuído.
A carreira e o sucesso terminaram por
volta de 1921. Envolveu-se numa história policial – o dono da pensão em que morava
com a mãe, apaixonou-se por ela e matou a esposa para que pudessem casar-se. Andrey Munson negou qualquer envolvimento no caso. Um filme de
1921 baseou-se na biografia dela que estava sendo publicada em vários jornais e
numa série de artigos que ela escrevera para a Sunday Magazine, da cadeia Hearst. Sem trabalho, tentou o suicídio
e em 1931, após diagnóstico de esquizofrenia, Andrey Munson foi internada em
uma clínica psiquiátrica de onde nunca saiu. (Fotos: Wikipedia)
"Star Maiden", de Stirling Calder
(1915), atualmente no Museu de Oakland (CA)
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