segunda-feira, 27 de novembro de 2017

A FRAGILIDADE DO SUCESSO

O santista aproveitou bem o feriado de Ano Novo de 1921. Os cinemas ofereciam uma programação variada. No Teatro Guarani (Praça dos Andradas) estava em cartaz A casa misteriosa e O Intolerável. Tom Mix era a atração do Polytheama (Praça Rui Barbosa). O destaque, entretanto, podia muito bem ser o filme Castidade (“o nu purificado... e apresentado numa genuína e elevada expressão de arte”), com a Vênus americana Andrey Munson (1891-1996). Em uma época em que fotos eram raras em jornal, há uma ilustrando a matéria sobre essa atração: a lânguida Andrey Munson coberta por um véu diáfano revelador de um corpo esbelto. Justifica-se: afinal, Munson protagonizara o primeiro nu do cinema norte-americano em “Inspiration”, de 1915.
Não há notícia de que a liga dos moralistas tenha se mobilizado contra a apresentação do filme. “Castidade”, de 1916, era o segundo filme de Andrey Munson e foi o único dos três filmes dela que se salvou. E por pouco!  Foi descoberto em 1993 na França numa “coleção de pornografia”, sendo adquirido pelo arquivo nacional de cinema daquele país.  
Andrey Munson começou a carreira no teatro com 17 anos, mas foi como modelo para artistas que se tornou famosa depois que o escultor Isidore Konti (1862-1938) convenceu-a a posar nua para as “Três Graças” criadas por ele para o Grand Ballroom do Hotel Astor em Times Square, Nova York. Em 1915 foi escolhida pelo escultor Alexander Stirling Calder (1870-1945) como modelo da Exposição Universal* em S. Francisco (já recuperada do terremoto de 1906).
Foi em 1915 que Andrey Munson apareceu no primeiro filme – apareceu porque ela só fez as cenas de nudez, pois o estúdio contratou uma atriz parecida com ela para a atuação. O terceiro filme parece que nunca foi distribuído.

A carreira e o sucesso terminaram por volta de 1921. Envolveu-se numa história policial – o dono da pensão em que morava com a mãe, apaixonou-se por ela e matou a esposa para que pudessem casar-se. Andrey Munson negou qualquer envolvimento no caso. Um filme de 1921 baseou-se na biografia dela que estava sendo publicada em vários jornais e numa série de artigos que ela escrevera para a Sunday Magazine, da cadeia Hearst. Sem trabalho, tentou o suicídio e em 1931, após diagnóstico de esquizofrenia, Andrey Munson foi internada em uma clínica psiquiátrica de onde nunca saiu. (Fotos: Wikipedia)
 

"Star Maiden", de Stirling Calder (1915), atualmente no Museu de Oakland (CA)

Nenhum comentário: