Nunca houve tantos idosos no mundo como nos tempos atuais: 1,1 bilhão de pessoas com mais de 60 anos em 2022 de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU). A expectativa é de que até 2050 o número de pessoas com 60 anos ou mais duplique e mais do que triplique até o final do século XXI, alcançando os 3,1 mil milhões em 2100!
Se por um lado o fato é alvissareiro, por
outro, é bastante preocupante pelos impactos sociais que causará em vários
setores da sociedade. O mais urgente, do meu ponto de vista, diz respeito aos
preparativos para o envelhecimento, que devem começar bem cedo cuidando tanto
do “pé-de-meia” para os dias chuvosos como da saúde, adotando um estilo de vida
saudável para que possa usufruir no futuro sua merecida aposentadoria, colocar
em prática planos elaborados em dias de correria, quando costuma bater o
desânimo, dar aquela vontade de sair correndo para uma praia ou campo e
esquecer o chefe e as obrigações.
Com a carta de aposentado na bolsa, siga o conselho do filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900): “Ficar ‘chumbado na cadeira’, repito-o, é o verdadeiro pecado contra o espírito”. Sempre é bom começar com um checkup para pôr em prática atividades físicas. Todo idoso vai ouvir do seu médico mais cedo ou mais tarde a ordem para praticar exercícios – coisa de que fujo desde os tempos da escola, quando Educação Física fazia parte do curriculum. Assim, por uns tempos optei pela dança (atividade aeróbica) e mais tarde por caminhadas e passeios pela cidade.
Para caminhar ou passear, além de disposição, basta um calçado confortável, roupa adequada ao clima, chapéu e água. Na sacola ou mochila, o mínimo indispensável: levo um anoraque, o celular para eventuais fotos, água, uma maçã verde e identificação. Na minha cidade, costumo caminhar duas ou três horas, mas quando viajo perco totalmente o sentido do tempo e costumo caminhar o dia todo sem cansaço. O professor francês de filosofia, Frédéric Gros (1965), é taxativo: “Caminhar não é um esporte”. Gros afirma que “quando se anda a pé, só há um desempenho que de fato conta: a intensidade do céu, o viço das paisagens”. Para mim há também as surpresas do caminho, acontecimentos inesperados que obrigam o caminhante a improvisar, enfrentar desafios... É fundamental prestar atenção aos obstáculos para não cair e se machucar.
O filósofo francês Jean-Jacques Rousseau
(1712-1778) depois de uma existência bastante agitada, nos seus últimos anos resolveu
dedicar o tempo a caminhadas por Paris. “(...)
não vi maneira mais simples e mais segura de realizar essa empresa do que
manter um registro fiel de minhas caminhadas solitárias e dos devaneios que as
preenchem quando deixo minha mente livre por inteiro e minhas ideias seguirem
suas inclinações, sem resistência e sem dificuldade. Essas horas de solidão e
de meditação são as únicas do dia em que sou eu mesmo por inteiro e pertenço a mim
sem distração, sem obstáculo, e em que posso dizer de verdade que sou o que a
natureza quis.”
Na segunda
caminhada, realizada no dia 24 de outubro de 1776, o ilustre francês após o
jantar passava pela área que hoje pertence ao 20º arrondissement, quando
houve o incidente: viu as pessoas se afastarem para a lateral da rua e logo
avistou um enorme cão dinamarquês que corria à frente de uma carruagem. Nem o
cão nem Rousseau conseguiu se desviar. O filósofo, com 64 anos, achou que evitaria
a queda dando um grande e preciso salto, permitindo que o cão passasse por
baixo dele enquanto ele estivesse no ar. Na verdade, Rousseau não sentiu nem o
golpe nem a queda: desmaiou.
Jovens o acudiram e quando voltou a si, contaram-lhe que a queda fora violenta, caíra de cabeça. Rousseau não lembrava de nada: nem país, cidade ou bairro. Aos poucos foi se recuperando até chegar em casa. No dia seguinte, um exame minucioso mostrou o rosto inchado, lábios e nariz extremamente machucados, mãos feridas, braço esquerdo deslocado, joelho esquerdo inchado e muito contundido. “Mesmo com todas essas repercussões, nada de quebrado” – escreveu ele.
Todo cuidado é pouco...
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