Todos os dias passam sob minha janela os vendedores de frutas
fresquinhas, ovos, pamonha e o padeiro, além do amolador de facas, tesouras e alicates
oferecendo seus serviços. O padeiro usa moto e uma buzina azucrinante para
vender os pães acomodados em uma caixa gigante, enquanto o amolador usa a
tradicional gaita, que não ofende os ouvidos de ninguém. Os demais aparecem de
carro e com um sistema de som capaz de levantar defuntos. Pensava eu com meus
botões se a publicidade não teria nascido com o comércio, afinal, na feira cuja
origem se perde no tempo, quem não grita não vende sua mercadoria.
Os primeiros
anúncios de que me lembro eram transmitidos pelas ondas do rádio, pois cresci
ouvindo rádio que ocupava um lugar de destaque na sala. Nas revistas e jornais,
havia propagandas em preto e branco, pois publicações em cores eram raras até
mesmo em CRUZEIRO, a principal revista brasileira que circulava em casa. Na edição
de 13 de janeiro de 1945, que encontrei em um sebo anos atrás, a atriz americana
Evelyn Keyes* (quem lembra dela?) recomenda “PAN CAKE MAKE UP BATON TRU-COLOR
ROUGE E PÓ em Harmonia de cores, a criação exclusiva da Max Factor em preto e
branco”. O anúncio, entretanto, não é colorido.
Sabonetes, cremes, remédios, material de limpeza movimentavam as páginas das publicações. Na mesma edição encontro o tradicional sabonete Lifebuoy, o creme Rugol (‘20, 30 ou 40 primaveras... sempre conquistando corações – graças a Um Só Creme!”), Eno “sal de fructa” entre tantos outros. A velha e boa Guaraná Antárctica... E as canetas tinteiro Parker 51, um sonho de consumo...
Havia ainda os anúncios da Cera Parquetina – naquela
época ainda se encerava a casa que brilhava lindamente, quando se terminava de
passar a enceradeira. (A fábrica foi comprada nos anos 1990 pela Reckitt
Benckiser e desapareceu do mercado.) O anúncio do Biotônico Fontoura,
único remédio que eu gostava de tomar, dizia que “Todo mundo lá em casa tem
saúde por isso toma Biotônico Fontoura. Quem não toma Biotônico Fontoura é um
só Au Au Au, o tadinho do Totó.” Em casa só eu tomava o biotônico porque
era muito magrinha e não gostava de comer. O reforço era a detestável colherada
do “óleo de fígado de bacalhau”.
E para terminar o jingle da Auris-Sedina que também era muito bom para os ouvidos dos ouvintes de rádio, pois a intérprete era ninguém menos que Dircinha Batista (1922-1999), considerada patrimônio nacional nos anos 1940.
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