sexta-feira, 20 de setembro de 2024

Forget Domami!!

 Guarda che luna! Hoje é o que importa. Ontem, foi ótimo e amanhã não existe, portanto, temos que aproveitar o momento presente. Admirar a paisagem e tentar absorver um pouco da cultura local que no momento está sofrendo com o turismo de massa. 

Lembro dos tempos de Santos, que na temporada de verão se tornava insuportável para nós, moradores: tudo mais caro, filas para compra de pão, falta de água... E falávamos todos a mesma língua. Turistas estrangeiros não eram muito comuns. Nos tempos atuais, o comerciante local se vê às voltas com idiomas de todos os continentes e, compreensivelmente, no meio do dia, já está exausto tentando entendê-los. Muitas vezes são rudes. Muitos não escondem a insatisfação. Torna-se difícil dividir com o outro essa lindíssima lua cheia pendurada na varanda do hotel. 

A música de Norman Newell e Riziero Ortolani, gravada por Frank Sinatra, referia-se a um casal apaixonado, eu a uso porque gosto da canção e muito, muito mais de Frank Sinatra. Messina, 20 de setembro.


 https://youtube.com/watch?v=sPkL7cw7J7Q&si=rZvK7eUvZBr8oOcX

quinta-feira, 19 de setembro de 2024

CAMINHOS

Abro a janela da varanda e vejo uma enorme nuvem negra no céu. Imagino chuva; volto pensando no que vestir. Perda de tempo porque logo depois está tudo azul; mais tarde podem até cair alguns pingos. Nada demais. Aqui na Sicília o tempo é assim.
Destino: Giardini Naxos. Um lugar gracioso à beira do mar em Taormina. A beleza da paisagem compensa a simplicidade urbanística. Na avenida costeira, calçada é um luxo. Pedestres convivem bem com todo tipo de transporte. Alguns monumentos atraem atenção dos visitantes, como a homenagem aos jovens locais que morreram na Primeira Guerra Mundial ou da garota que se exercita. Na Passagem dos Pescadores, uma parede forrada de pratos e peixes de porcelana colorida dá uma certa graça a um lugar sem atrativo algum.
Que tal Isola Bella? Fica na subida para Taormina e para ir à praia é preciso descer uma escadaria enorme cujas laterais são usadas pelos camelôs como vitrine de seus produtos - vestidos e mais vestidos, óculos e lembrancinhas.
Praia de pedregulho, o que não importa para a multidão que toma sol. Não há quase espaço para caminhar até a Isola, que fica numa das extremidades da praia e, além de tudo, o chão é de cascalho que serve para evitar a formação de poças que causem tombos. Se isso acontecer, não se preocupe: há vários ortopedistas na ilha. 
Não fui até a Isola. As pedras podem ser traiçoeiras. A Isola lembra muito a ilha Porchat em São Vicente, que perdeu o status de ilha quando foi feito o aterro para os carros poderem subir. Nos idos de 1975,  as praias do José Menino e Itararé à noite eram dos namorados, elas eram o famoso motel das estrelas, como população denominou as áreas. Só lembranças...

segunda-feira, 16 de setembro de 2024

TEMPORADA DE CASAMENTOS

 Acerale. É onde estamos, de acordo com o serviço de informações do trem. Partiremos logo. Sábado em Taormina fui a um casamento que se destaca das aventuras vividas. O restaurante tinha mesinhas na calçada, todas ocupadas, mas em destaque a do centro, onde os noivos estavam sentados. À frente do restaurante um conjunto musical tocava a tarantela. Os noivos sorriam felizes. Turistas tiram fotos. Parece uma festa pública.  Contínuo o caminho. Mais tarde passa um cortejo - padrinhos e alguns convidados especiais. Será que poderei cantar "lá vem a noiva de véu e grinalda"? Outra lembrança : Cauby Peixoto! Ah! Que pena! Nem ela nem o noivo aparecem. 

A temporada de casamentos continua. A festa é noturna e na Catânia. Os noivos dançam na praça. Uma cantora de voz suave enternece uma pequena plateia de estranhos curiosos. Fotógrafos e cinegrafistas registram momentos de enlevo do casal. Do outro lado da praça um casal mais velho com uma daminha de honra desfila para o público e fotógrafos. A garotinha anda com segurança. Caminha como modelo. A vida é bela, cheia de promessas.

Quem sabe amanhã veja outros. 


sábado, 14 de setembro de 2024

GUARDA CHE SOLE, GUARDA CHE MARE!

 Catânia. Sexta-feira 13. Final de verão tórrido. Interessante como o tempo pode alterar algumas recordações. Vou caminhando em direção ao arco que vejo numa extremidade da rua, onde creio que irei rever o elefante... No caminho um café e um panino com ligeiro sabor de era-doce. O arco está sendo restaurado e entorno pouco tem de atrativo. Um senhor interrompe uma conversa e explica que o elefante fica do outro lado da cidade. As lembranças se misturam. Volto, sem pressa, apreciando a arquitetura, as placas do comércio e tentando sobreviver ao trânsito e aos buzinaços de um povo impaciente.

Chego à Praça do Elefante, que está linda. E repleta de visitantes. Há missa na igreja de Santa Agatha e me dirijo à outra igreja, onde também há missa, que não impede os negócios. Na entrada, vendem-se ingressos para visita à cúpula e concerto com música de Bellini à noite. Lá no altar, o padre celebrante vai chegando à parte principal do ofício. Tem um corte de cabelo moderno e usa sandálias.  

Escadarias à vista! No terraço, um vento gostoso ameniza o calor. Um mar de telhados se estende a perder de vista. Lá embaixo as pessoas se movimentam de um lado para outro tentando não perder detalhes da praça, do mercado ou dos citadinos. Num dos cantos do terraço vejo o campanário, os velhos sinos agora silentes.

Hora de ir à cúpula. Ao pé da escadinha um semáforo, que está no vermelho. Aguardo o verde para subir. Lembranças da primeira visita ao Vaticano: uma escadinha estreita, ingrime e lotada. Impossível se arrepender e voltar. Uma péssima experiência. Esta solução é perfeita. Verde: subo com facilidade e chego logo ao tipo. O horizonte se amplia e abrange o Tirreno. Guarda que mare!

Hora de descer. Hora do almoço. Noto que o vento transporta areia que se infiltra entre os cabelos e arranha a pele. Será o velho Siroco que sopra do Saara e transporta areia para o Sul da Europa?

quinta-feira, 12 de setembro de 2024

O TREM, O BARCO E O MAR

 Estou de volta à Sicília, que visitei há 31 anos e conquistou meu coração. Como daquela vez, começo pela Catânia. Em 1997 vim de avião, passagem com desconto para viajantes dispostos a permanecer uma semana na ilha. Agora, nada de repetições. Mais emoções. Chegar de trem. E fui atrás da passagem no balcão da Treni Italia, na Termini. Um atendimento perfeito. Embarquei hoje às 7 h 28 na carroza 4, assento A 11. À minha frente um gordinho carente desejoso de participar da conversa de um grupo masculino viajando a serviço. Acabou incluído. No outro lado do corredor, dois militares. 

Em 30 anos, com as novas tecnologias, desapareceu aquele funcionário que agitava a bandeira ou apitava autorizando a partida do comboio, o rapaz do carrinho de café, água, sanduíches e doces, pessoal da plataforma que ajudava confusos como eu... Imagino que o maquinista seja guiado pelo GPS e as ordens sejam dadas pela internet. Máquinas imóveis e sem graça, recheadas de porcarias gordurosas ou salgadas, substituíram os carrinhos. E se você precisar de uma informação tem que importunar passageiros experientes, mas não oniscientes. Sobrou o fiscal de bilhetes.

A viagem foi tranquila. Paisagens bucolicas e urbanas se alternavam nas janelas. Passam ligeiras. Vívidas. Numa das paradas sobe um jovem simpático, gordinho também (o outro continua incluído no grupo). Lembra meu amigo Tonico. Logo noto que fala  sozinho sobre o que vê lá fora, algo que viu no celular. Ele parte logo.

Agora vejo o mar Tirreno, tranquilo. Quanta beleza! Agora chega uma família: pai, mãe e filha adulta. Confusos. A mãe briga com o pai, o pai com a mãe e a filha tenta contornar a situação. Liga o filhinho e acontece uma "live"(acho que a expressão é essa) que todo o vagão ouve.

O trem começa a dar marcha à ré. Então percebi que chegamos ao barco. E para minha surpresa vamos atravessar no trem e continuaremos nele na ilha. Descemos para apreciar a paisagem até chegar a Messina. 

 Valeram as 10 horas de viagem, a convivência com pessoas interessantes, que gostam de ouvir a própria voz e se expressam em uma língua muito bonita.

quarta-feira, 11 de setembro de 2024

NOMES SÓ PARA OS INTIMOS

 Hoje troquei a Antiguidade pelo mundo Medieval. Fui a Viterbo. E mais uma vez essa viagem me lembra de outra que fiz para Porto Alegre a serviço. A empresa reservou um hotel a que cheguei de táxi e não me dei ao luxo de verificar o nome do hotel, pois o taxista logo disse que era na rua da Praia. No final do dia, decidi retornar ao hotel a pé porque o escritório do entrevistado era perto. Perguntei pela rua e segui as indicações. Não achei. Refiz o caminho, procurando com mais calma e .. nada. Achei um policial e expliquei a situação. Ele riu: "Nem vai encontrar porque essa rua não existe, nós é que a chamamos por esse nome.." e realmente eu passara por ela. Fiquei bem zangada.

    Ontem comprei a passagem de trem para Viterbo e vi no bilhete que desceria em Viterbo Porta Prima. Quase duas horas depois li no na telinha de avisos do vagão que a próxima parada seria Viterbo Porta Prima. Que beleza! O problema é que na placa da estação constava Porta Romana. Como muitas cidades antigas conservam nomes históricos, achei que haveria outra parada e desta vez na Prima, mas resolvi perguntar e me disseram que ali era o final da linha. Então fique sabendo que ao chegar a Viterbo não espere pela Prima, desça na Romana. 

AQUI E ALI

 Quem diria que de férias lembraria da professora dos tempos do Liceu Feminino Santista? Aliás, pensando bem, todos os motivos para lembrar me dela. Ela era professora de História e estou de volta a Roma, que transborda História. Minha professora não se enquadrava no modelo conservador do Liceu. Era bem atrevida para o final dos anos cinquenta. 

A caminho de Viterbo, embarco na linha do metrô que vai para Laurentina. Laurentina, era o nome da mestra.

(Oh! Céus! Não é que mudei a mestra de gênero? Que história é essa, Hilda?)

domingo, 8 de setembro de 2024

BORGES

 bengala, as moedas, o chaveiro,

A dócil fechadura, as tardias
Notas que não lerão os poucos dias
Que me restam, os naipes e o tabuleiro,
Um livro e em suas páginas a desvanecida
Violeta, monumento de uma tarde
Sem dúvida inesquecível e já esquecida,
O rubro espelho ocidental em que arde
Uma ilusória aurora. Quantas coisas,
Limas, umbrais, atlas, taças, cravos,
Servem-nos, como tácitos escravos,
Cegas e estranhamente sigilosas!
Durarão para além de nosso esquecimento;
Nunca saberão que partimos em um momento.

JORGE LUIS BORGES (1899-1986).





sábado, 7 de setembro de 2024

ÁGUAS TURBULENTAS

Um domingo com Elvis Presley, interpretando a composição de Paul Simon e grande sucesso da dupla que ele fazia com  Garfunkel. Anos 1970. Depois de ouvir esta gravação fica a sensação de que Elvis não morreu.



Presley https://www.youtube.com/watch?v=H9s7f2hJZdI

quinta-feira, 5 de setembro de 2024

HÁ SEMPRE O QUE VER

 

SEMANA DA PÁTRIA



Chocante o Largo Sete de Setembro que tem como único “monumento” à data tão importante para a nação o respiradouro do Metro. O largo não passa de um pequeno espaço entre a rua da Glória, avenida da Liberdade e a Praça João Mendes.


A cidade é sempre surpreendente. Ao passar por uma das laterais do Fórum João Mendes vi a placa contando que ali se iniciava o Caminho do Mar usado pelos nativos que viviam no planalto e foi adotado pelos portugueses no período colonial dando origem à Estrada Velha de Santos.

Rua da Glória, onde começava a trilha.



quarta-feira, 4 de setembro de 2024

INDEPENDÊNCIA

“Não é o solo, como não é a raça, o que faz uma nação. O solo fornece o substrato, o palco da luta e do trabalho; os homens fornecem a alma. O homem é tudo na formação dessa entidade sagrada que é chamada de povo. Nada (puramente) material é suficiente para isso. A nação é um princípio espiritual, o resultado das profundas complicações da história [...] O homem não é escravo da sua raça, nem da sua língua, nem da sua religião, nem do curso dos rios ou da direção das cadeias de montanhas. Um grande grupo de homens de mente sã e rico de coração cria um tipo de consciência moral que chamamos de nação. Enquanto essa consciência moral der provas de sua força com sacrifícios que exigem a abdicação do individual em favor da comunidade, ela é legítima e tem o direito de existir. (Ernest Renan, citado por Luís Cláudio Villafañe G. Santos em “O dia em que adiaram o Carnaval”, Editora UNESP.)


"...Brasil, de amor eterno seja símbolo
O lábaro que ostentas estrelado
E diga o verde-louro dessa flâmula
Paz no futuro e glória no passado."

Hino Nacional Brasileiro: Letra: Joaquim Osório Duque Estrada / Música: Francisco Manuel da Silva.