segunda-feira, 30 de dezembro de 2024
ERIC HOBSBAWM
[...] “Para deixar bem claro: o
objetivo de se traçar a evolução histórica da humanidade não é antever o que
acontecerá no futuro, ainda que o conhecimento e o entendimento histórico sejam
essenciais a todo aquele que deseja basear suas ações e projetos em algo melhor
que a clarividência, a astrologia ou ao franco voluntarismo. O único resultado
de uma corrida de cavalos que os historiadores podem nos contar com absoluta
confiança é o de um páreo já corrido. Menor ainda é a possibilidade de
descobrirem ou inventarem legitimações para nossas esperanças – ou receios –
quanto ao destino do humano. A história não é uma escatologia secular, quer
concebamos seu objetivo como um progresso universal interminável, como uma
sociedade comunista ou o que seja. Isso são coisas que lemos nela, mas podemos
deduzir dela. O que ela pode fazer é descobrir padrões e mecanismos da mudança
histórica em geral, e mais particularmente das transformações das sociedades
humanas durante os últimos séculos de mudanças radicalmente aceleradas e
abrangentes. Em lugar previsões ou esperanças, é isso que é diretamente
relevante para a sociedade contemporânea e suas perspectivas.”
"Sobre História", Eric Hobsbawm
(1917-2012). S. Paulo: Companhia das letras, 1998.
ERIC HOBSBAWM (1917-2012) foi um dos maiores historiadores contemporâneos. Nasceu no Egito, mas como o pai era inglês tinha cidadania britânica.
domingo, 29 de dezembro de 2024
CHARLES ASTOR
Costumava atravessar a rua Charles
Astor (Vila Mariana), que parece mais uma praça, e fiquei curiosa sobre o personagem
homenageado pela cidade. Aliás, assim costumam ser as homenagens das câmaras de
vereadores: sapecam o nome nos logradouros públicos cujas placas não dão a
mínima informação sobre pessoa que mereceu a deferência. E o homenageado
permanece ignorado pela maioria da população
Charles Astor foi o introdutor do
paraquedismo no Brasil e idealizador da criação do Serviço de Busca e Salvamento
da Força Aérea Brasileira – PARA-SAR – FAB*. Charles Astor (ou Achiles Hypólito
Garcia, seu nome verdadeiro) nasceu em 1900 em Castiglione, atual Bou Ismaïl, na
Argélia, então colônia francesa. Ele praticou vários esportes, foi artista de
circo e infante da Legião Estrangeira da França, onde se tornou piloto,
instrutor de paraquedismo e acrobata aéreo, tudo isso quando a aviação começara
há pouco mais de uma década.
Depois que deixou a Legião
Estrangeira, Astor preferiu se dedicar às acrobacias aéreas e viajou pelo mundo
fazendo shows. Ele desembarcou no Brasil em 1928, onde o paraquedismo, além de
ser visto como esporte, era pouco difundido, pois o material era escasso,
custoso, de difícil acesso e de baixa qualidade. Ele foi a primeira pessoa a
saltar de paraquedas no Brasil e em 1929 ficou famoso por atravessar a baía de
Guanabara fazendo acrobacias aéreas.
Astor difundia o uso de
paraquedistas nas operações de salvamento desde o início da década de 1940, com
a II Guerra em curso; uma ideia que não foi concretizada por causa dos riscos e
porque poucos tinham a coragem necessária para praticá-lo, ainda mais em
situações extremas e sem o devido treinamento. Astor foi convidado em 1941 pelo
ministro Salgado Filho para ser Instrutor de Ginástica Acrobática e de
Paraquedismo para os cadetes da Aeronáutica na antiga Escola de Aeronáutica
(Campo dos Afonsos). Ele, entretanto, não desistiu e em 1947 apresentou um
plano de preparação de paraquedistas para salvamento e resgate em um congresso
da Federação Aeronáutica Internacional, realizado em Petrópolis (RJ). Além de
receber menção honrosa, a ideia inspirou a criação dos serviços de salvamento
em outros países. Astor ficou conhecido na antiga Escola de Aeronáutica como o
Velho Águia e muitos dos seus ex-alunos tornaram-se oficiais.
Como escritor, sua obra mais conhecida é “Estórias Rudes”, livro em que conta sua experiência na Legião Estrangeira de forma romanceada. Durante 30 anos foi chefe da seção de Livros Raros da Editora Civilização Brasileira. Ele faleceu em 1972.
Astor foi casado com Elgita Leite Ribeiro. Normalista mineira, Elgita em 1940 mudou para o Rio de Janeiro, onde trabalhou no Diário da Noite; tirou brevê pelo Aeroclube e foi aluna de paraquedismo de Astor piloto. Em 1954 foi a primeira mulher a pilotar um avião de caça no Brasil e em 1959 em Paris tornou-se a primeira sul-americana e a quarta mulher do mundo a ultrapassar a barreira do som voando em um caça pilotado por Henry Suisse, famoso piloto de teste.
Fontes: CORREIO DA MANHÃ e “Homens de Honra – A História do PARA-SAR” – Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica. Rio de Janeiro, 2019..
*A
sigla Para-SAR significa Paraquedismo e Busca e Salvamento – SAR é a abreviação
do inglês Search and Rescue.
sábado, 28 de dezembro de 2024
UM PASSEIO À NOITE
Sampa
ontem à noite. O Teatro Municipal (1911), o Shopping Light, (1929) e o Anhangabaú.
Triste mesmo é o estado em que se encontra a Praça do Patriarca que, apesar dos
enfeites, não tem graça nenhuma. A rua Direita, vazia. Papai Noel se despedia no
Largo do Café... Não tive ânimo de ir até o Largo de São Bento – lojas fechando
e ruas com pouco movimento.
Edifício Matarazzo, sede da Prefeitura.
quarta-feira, 25 de dezembro de 2024
segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
FIM DA INVESTIGAÇÃO
Perguntei
à bibliotecária se ela poderia recomendar algum livro gênero policial moderno e
recebi três indicações. Nas estantes, distraidamente, dei uma folheada em dois
ou três livros e escolhi um escocês de quem nunca ouvira falar – Ian Rankin
(1960). Depois do almoço comecei a leitura. A trama parecia interessante e fui
me embrenhando por delegacias, pubs, problemas familiares do investigador até
que cansei, pois o autor se estende em fatos irrelevantes e já estava na página
100 sem que nada acontecesse, embora o detetive já tivesse ouvido dezenas de
pessoas. (Que falta fazem Raymond Chandler, Dashiell Hammett, Rex Stout, Andrea
Camilleri!) Fui espiar quantas páginas tinha o livro e, se não estivesse
sentada, cairia de costas: 538! Tratei de ler o final e dispensei Rankin. Na
quarta capa, a apresentação diz que ele entra na “história profunda de Edimburgo”,
mas a cereja do bolo, entretanto, foi descobrir que ele é “mestre do moderno romance
policial climático”. Nem sabia que havia o antigo...
domingo, 22 de dezembro de 2024
NATAL BRANCO
sábado, 21 de dezembro de 2024
VERÃO
O verão chegou hoje bem cedo a bordo de um céu nublado. Que o
Sol desembarque logo (vitamina D natural) por aqui, afinal é tempo de praia de
vida ao ar livre.
A VIDA DO VIAJANTE
“Minha vida é andar
por esse país
Pra ver se um dia descanso feliz
Guardando as recordações das terras onde passei
Andando pelos sertões e dos amigos que lá deixei
Chuva e sol, poeira
e carvão
Longe de casa, sigo o roteiro
Mais uma estação
E alegria no coração...”
CARMEN MIRANDA E PAPAI NOEL
É um recadinho à toa, recadinho à toa de Papai Noel
Recadinho que você vai ver
Que parece de criança que não tem o que fazer ..."
sábado, 14 de dezembro de 2024
THE ROCKETTES – "TOY SOLDIER DANCE"
O Radio City Music Hall faz parte do Registro Nacional de Lugares Históricos e fica no Rockefeller Center em Nova Iorque, e vai comemorar no próximo dia 27 de dezembro 92 anos. The Rockettes é uma companhia feminina de dança de precisão, criada em 1933, e esta coreografia foi apresentada em 2016. O vídeo não é profissional e, embora tenha dois pequenos problemas – um de iluminação e a senhora que resolveu tirar o casaco no meio do espetáculo –, vale a pena assistir até o final.
sexta-feira, 13 de dezembro de 2024
DANÇA DOS BRINQUEDOS
O
escritor alemão Ernst Theodore Amadeus Hoffmann (1776-1822) é o autor de “Quebra-nozes
e o rei dos Camundongos”, um conto infantil de Natal que inspirou Piotr Ilich
Tchaikovski (1840-1893) a compor a música de um balé quase sempre encenado no
Natal. Motivo simples: a história começa na véspera do Natal quando uma menina
ganha do padrinho um quebra-nozes na forma de soldadinho, mas os irmãos dela o
danificam, Triste, ela vai dormir e ao acordar percebe que o quebra-nozes
ganhara vida, mas a alegria é interrompida por um barulhão causado pelos ratos no
porão. O soldadinho convoca os brinquedos para a luta contra as ratazanas e
ganha a batalha. Para surpresa da menina ele se transforma em um príncipe que a
leva para conhecer o Reino das Neves e dos Doces. O bailarino Lev Ivanov
(1834-1901) foi o autor da coreografia original do balé que estreou em 1892 em S.
Petersburgo, Rússia.
“Dança dos brinquedos”
domingo, 8 de dezembro de 2024
SÃO SILVESTRE
Hoje comecei a estudar o percurso da Corrida São Silvestre, que ocorre (hum!) no último dia do ano. Os atletas percorrem 15 km atravessando bairros tradicionais da cidade como Bela Vista, Vila Buarque, Santa Cecília, Campos Elíseos, Pacaembu ... Já caminhei por quase todas as ruas do trajeto. Só não me lembro da rua Norma Pieruccini. Uma pena que os corredores não possam desfrutar de alguns lugares muito especiais ou com grandes histórias!
Os corredores – esperam-se pouco mais de 37 mil participantes – partem da avenida Paulista com rua Augusta, em direção à avenida Dr. Arnaldo. Uma avenida peculiar, com dois lados bem distintos – um concentra as principais unidades da USP dedicadas ao ensino e pesquisa na área da saúde e atendimento médico à população, e do outro, o Cemitério do Araçá que se estende em direção à avenida Pacaembu, enfeitada com o Estádio Municipal Paulo Machado de Carvalho. Dr. Paulo foi o comandante da vitória da seleção brasileira de 1958 na Suécia, quando o mundo conheceu Pelé. Seguimos pelas ruas Major Natanael e Desembargador Paulo Passaláqua; passamos pela avenida Mário de Andrade – o poeta da Pauliceia Desvairada–, continua pela Av. Abraão Ribeiro, Viaduto Pacaembu até a desconhecida (para mim) rua Norma Pieruccini. A avenida Rudge conheci logo que mudei para São Paulo; depois temos o Viaduto Orlando Murgel e já estamos na Av. Rio Branco, antes da rua Helvetia (onde ficava a agência do Banco Antônio de Queirós onde recebíamos o pagamento da Folha da Manhã). Quem não conhece a Av. Ipiranga “não é bom da cabeça ou doente do pé”. Chegamos à rua Barão de Limeira, endereço da Folha de S. Paulo. A Av. Duque de Caxias me remete aos tempos do Terminal Rodoviário da Luz, um monstrengo por onde passavam mais de três mil ônibus por dia conforme o anúncio do empreendimento nos anos 1960. Agora, rua Rego Freitas do famoso “Som de Cristal”, onde o pessoal da boemia se divertia dançando, mas que o tempo levou; das ruas Marquês de Itu e Bento Freitas chegamos ao Largo do Arouche do “Gato que Ri” e da feira de flores. Eis a rua Vieira de Carvalho, que tem como guardião o “Índio Caçador”, obra do escultor João Batista Ferri; agora é a vez da Praça da República, uma das mais bonitas de São Paulo, com lagos cercados por prédios históricos e modernos de arquitetura marcante. Avenidas Ipiranga e São João – a mais famosa esquina paulistana; o Largo do Paissandu com a igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, o tradicional Ponto Chic – não dá tempo para saborear um delicioso “bauru” –, e o prédio do antigo cine Paissandu; hora e vez da rua Conselheiro Crispiniano, endereço que todos os fotógrafos conheciam, pois ali se concentrava o comércio de equipamentos fotográficos. A Praça Ramos de Azevedo é o ponto de encontro dos amantes de ópera e ballet; passamos rapidamente pela rua Cel. Xavier de Toledo, Viaduto Nove de Julho, Rua Maria Paula – onde fica a Câmara Municipal de São Paulo. Enfim, a Av. Brigadeiro Luís Antônio com seus teatros tradicionais: Brigadeiro-Jardel Filho, Renault, Bibi Ferreira e Bandeirantes; após o Viaduto 13 de Maio chegada à Av. Paulista.
Ah! Não participarei da corrida. Detesto correr.😊
Vista da avenida Paulista a partir do Túnel José Roberto Fanganiello Melhem, que a liga à rua Consolação e av. Dr. Arnaldo.
quinta-feira, 5 de dezembro de 2024
DIA DE CÃES
Hoje o
ônibus estava cheio e monótono. Acho que se poderia dizer que estava cheio de
monotonia, ideal para se ficar de olho na rua, onde sempre tem algo interessante
acontecendo. Dito e feito! Na Praça General Polidoro, agora reduto canino,
devidamente cercada de grades para que os atrevidos não fujam. O discóbolo (ele
parece consultar o celular) estava cercado pelos funcionários da prefeitura que
limpavam o espelho d´água, enquanto um senhor com problema em um dos pés
manquitolava apoiado em uma bengala, acompanhado do cão. O cão estava muito
feliz com o espaço, pois corria de um lado para outro, voltava para perto do
dono que lhe fazia um agrado e o amigo saía em nova carreira até retornar para novo
carinho. O ônibus demorara no ponto porque um passageiro pedia detalhes do
percurso e, enfim, prosseguiu. Vamos pela rua Pires da Mota, passamos pela rua
dos Perdões (gosto do nome dessa via) e entramos na Bueno de Andrade. Quase na
esquina fica uma loja que tem um nome bem-humorado (ingrediente de que
precisamos muito nos últimos tempos): “Coisas e Coisinhas da Carla”. Tipo bazar
pelo que leio na placa. Acho que chegamos à Liberdade, afinal há vários
estabelecimentos com esse nome. Há lanchonetes e alguns restaurantes – como o
Jericó, de comida nordestina.
Por
ali nada de prédios muito altos – a maioria tem dois andares, com o térreo com
uso comercial. Um casarão é sede de uma escola infantil e mais adiante outro
casarão, que deve ter tido tempos melhores, parece uma casa de cômodos, mas ainda
é simpático.
No
início da rua funcionou durante muitos anos uma loja Laffer, famosa casa de
móveis, fundada em 1927 e que funcionou até 2022. O prédio está completamente
abandonado, sobrou apenas a placa do estacionamento para clientes. Ali, se virar à direita, vai-se para o Lavapés;
para a esquerda, encontra-se o final da rua da Gloria, já no bairro da
Liberdade – completamente decadente. O coletivo (como diria um amigo meu) logo
entra na rua Conselheiro Furtado em direção à praça João Mendes.
Os passageiros sobem e descem. Continuo observando o cenário urbano e então eu o vi à janela da sala de apartamento – a mais ampla, envidraçada e com cortinas semicerradas. Tranquilo – eram ainda dez e meia da manhã e o almoço ainda não devia estar pronto. Ele olhava o movimento da rua com muita atenção e fiquei imaginando o que o interessava tanto lá embaixo – o apartamento devia ser no quarto ou quinto andar. Tive vontade de descer do ônibus para fotografá-lo, mas corria o risco de me atrasar muito e ele também poderia se recolher. Ele era um cachorro vira-lata de porte médio, pelagem bege, estava com as patas dianteiras descansando no parapeito da janela como uma pessoa faria e como pessoa ele estava muito atento aos acontecimentos lá embaixo. Cães são meus animais domésticos preferidos e esse me conquistou!