domingo, 29 de dezembro de 2024

CHARLES ASTOR

 

Costumava atravessar a rua Charles Astor (Vila Mariana), que parece mais uma praça, e fiquei curiosa sobre o personagem homenageado pela cidade. Aliás, assim costumam ser as homenagens das câmaras de vereadores: sapecam o nome nos logradouros públicos cujas placas não dão a mínima informação sobre pessoa que mereceu a deferência. E o homenageado permanece ignorado pela maioria da população

            Charles Astor foi o introdutor do paraquedismo no Brasil e idealizador da criação do Serviço de Busca e Salvamento da Força Aérea Brasileira – PARA-SAR – FAB*. Charles Astor (ou Achiles Hypólito Garcia, seu nome verdadeiro) nasceu em 1900 em Castiglione, atual Bou Ismaïl, na Argélia, então colônia francesa. Ele praticou vários esportes, foi artista de circo e infante da Legião Estrangeira da França, onde se tornou piloto, instrutor de paraquedismo e acrobata aéreo, tudo isso quando a aviação começara há pouco mais de uma década.

Depois que deixou a Legião Estrangeira, Astor preferiu se dedicar às acrobacias aéreas e viajou pelo mundo fazendo shows. Ele desembarcou no Brasil em 1928, onde o paraquedismo, além de ser visto como esporte, era pouco difundido, pois o material era escasso, custoso, de difícil acesso e de baixa qualidade. Ele foi a primeira pessoa a saltar de paraquedas no Brasil e em 1929 ficou famoso por atravessar a baía de Guanabara fazendo acrobacias aéreas.

Astor difundia o uso de paraquedistas nas operações de salvamento desde o início da década de 1940, com a II Guerra em curso; uma ideia que não foi concretizada por causa dos riscos e porque poucos tinham a coragem necessária para praticá-lo, ainda mais em situações extremas e sem o devido treinamento. Astor foi convidado em 1941 pelo ministro Salgado Filho para ser Instrutor de Ginástica Acrobática e de Paraquedismo para os cadetes da Aeronáutica na antiga Escola de Aeronáutica (Campo dos Afonsos). Ele, entretanto, não desistiu e em 1947 apresentou um plano de preparação de paraquedistas para salvamento e resgate em um congresso da Federação Aeronáutica Internacional, realizado em Petrópolis (RJ). Além de receber menção honrosa, a ideia inspirou a criação dos serviços de salvamento em outros países. Astor ficou conhecido na antiga Escola de Aeronáutica como o Velho Águia e muitos dos seus ex-alunos tornaram-se oficiais.

Como escritor, sua obra mais conhecida é “Estórias Rudes”, livro em que conta sua experiência na Legião Estrangeira de forma romanceada. Durante 30 anos foi chefe da seção de Livros Raros da Editora Civilização Brasileira. Ele faleceu em 1972.

Astor foi casado com Elgita Leite Ribeiro. Normalista mineira, Elgita em 1940 mudou para o Rio de Janeiro, onde trabalhou no Diário da Noite; tirou brevê pelo Aeroclube e foi aluna de paraquedismo de Astor piloto. Em 1954 foi a primeira mulher a pilotar um avião de caça no Brasil e em 1959 em Paris tornou-se a primeira sul-americana e a quarta mulher do mundo a ultrapassar a barreira do som voando em um caça pilotado por Henry Suisse, famoso piloto de teste. 

Fontes: CORREIO DA MANHÃ e “Homens de Honra – A História do PARA-SAR” – Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica. Rio de Janeiro, 2019..


*A sigla Para-SAR significa Paraquedismo e Busca e Salvamento – SAR é a abreviação do inglês Search and Rescue.

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