Hoje o
ônibus estava cheio e monótono. Acho que se poderia dizer que estava cheio de
monotonia, ideal para se ficar de olho na rua, onde sempre tem algo interessante
acontecendo. Dito e feito! Na Praça General Polidoro, agora reduto canino,
devidamente cercada de grades para que os atrevidos não fujam. O discóbolo (ele
parece consultar o celular) estava cercado pelos funcionários da prefeitura que
limpavam o espelho d´água, enquanto um senhor com problema em um dos pés
manquitolava apoiado em uma bengala, acompanhado do cão. O cão estava muito
feliz com o espaço, pois corria de um lado para outro, voltava para perto do
dono que lhe fazia um agrado e o amigo saía em nova carreira até retornar para novo
carinho. O ônibus demorara no ponto porque um passageiro pedia detalhes do
percurso e, enfim, prosseguiu. Vamos pela rua Pires da Mota, passamos pela rua
dos Perdões (gosto do nome dessa via) e entramos na Bueno de Andrade. Quase na
esquina fica uma loja que tem um nome bem-humorado (ingrediente de que
precisamos muito nos últimos tempos): “Coisas e Coisinhas da Carla”. Tipo bazar
pelo que leio na placa. Acho que chegamos à Liberdade, afinal há vários
estabelecimentos com esse nome. Há lanchonetes e alguns restaurantes – como o
Jericó, de comida nordestina.
Por
ali nada de prédios muito altos – a maioria tem dois andares, com o térreo com
uso comercial. Um casarão é sede de uma escola infantil e mais adiante outro
casarão, que deve ter tido tempos melhores, parece uma casa de cômodos, mas ainda
é simpático.
No
início da rua funcionou durante muitos anos uma loja Laffer, famosa casa de
móveis, fundada em 1927 e que funcionou até 2022. O prédio está completamente
abandonado, sobrou apenas a placa do estacionamento para clientes. Ali, se virar à direita, vai-se para o Lavapés;
para a esquerda, encontra-se o final da rua da Gloria, já no bairro da
Liberdade – completamente decadente. O coletivo (como diria um amigo meu) logo
entra na rua Conselheiro Furtado em direção à praça João Mendes.
Os passageiros sobem e descem. Continuo observando o cenário urbano e então eu o vi à janela da sala de apartamento – a mais ampla, envidraçada e com cortinas semicerradas. Tranquilo – eram ainda dez e meia da manhã e o almoço ainda não devia estar pronto. Ele olhava o movimento da rua com muita atenção e fiquei imaginando o que o interessava tanto lá embaixo – o apartamento devia ser no quarto ou quinto andar. Tive vontade de descer do ônibus para fotografá-lo, mas corria o risco de me atrasar muito e ele também poderia se recolher. Ele era um cachorro vira-lata de porte médio, pelagem bege, estava com as patas dianteiras descansando no parapeito da janela como uma pessoa faria e como pessoa ele estava muito atento aos acontecimentos lá embaixo. Cães são meus animais domésticos preferidos e esse me conquistou!
Nenhum comentário:
Postar um comentário