domingo, 12 de outubro de 2025
HORA DO CAFÉ
terça-feira, 7 de outubro de 2025
GAROA BOA
Ontem, calor de 30 graus. Hoje, 18
graus e garoa. Ah! São Paulo da garoa! São Paulo que terra boa! Música de
Alvarenga e Ranchinho, que o papagaio lá em casa sabia cantarolar... Café com
amiga, muita risada e boas histórias. Final de tarde na Praça da República.
Gente para lá e para cá, agasalhada ou à vontade, de guarda-chuva ou como eu,
mãos abanando, apreciando o momento. Hora de voltar para casa e descansar os
pés.
PRIMAVERA
Neste
país tropical, estações do ano são pouco definidas, mas a sibipiruna aqui da
praça está toda enfeitada. O ipê floriu novamente, talvez para abrigar o sabiá
que o escolheu para fazer o ninho. Aliás, com tantas árvores para se proteger
do sol, da chuva e de predadores, ele escolheu uma quase pelada para construir
o ninho. Pelo menos a ninhada terá uma “casa” com jardim. Flores brancas é o
que não falta. Outro sabiá montou residência na árvore que fica embaixo das
minhas janelas – canta o dia inteiro e, como se não bastasse, lá pelas quatro
da manhã decreta alvorada. Substitui um galo aqui das imediações que por muitos
anos saudou as manhãs chovesse ou fizesse sol. Calou-se, levado pelas famílias
que venderam as casas substituídas pelos condomínios sem graça.
Por
aqui há uma grande variedade de passarinhos – rolinhas-caldo-de-feijão, cambacicas (manhã
dessas uma veio me visitar), bem-te-vis e sabiás; há também um bando de periquitos
instalados numa palmeira da esquina. José, taxista do ponto ao lado do prédio, me
garante que também tem um pica-pau na praça, mas nunca consegui vê-lo. Enfim, boa
companhia o ano inteiro.
sexta-feira, 3 de outubro de 2025
POR ONDE ANDEI
Quantos lugares, quantas
cenas, quantos personagens... Setembro foi um mês de muitas andanças.
Fui conhecer a Casa Piauí, que antiga residência de Francisco de Paula Rodrigues Alves (1848-1919), presidente do Brasil no período de 1902-1906. O casarão em estilo eclético, situado na esquina da Rua Piauí com Itacolomi, foi tombado em 2012, passou por restauro e parte do terreno da propriedade abrigará um prédio de alto padrão.
Na Rua Manoel da Nóbrega, os policiais da Cavalaria da PM costumam fazer
uma pausa para descanso das montarias. Cavalos são animais muito bonitos e elegantes.
Paro para uma prosa rápida com um dos policiais – queria saber se os animais têm
nome ou apenas o número de registro tatuado, se eles são dóceis, se a cavalhada
era composta apenas de machos e se os cavaleiros trabalham sempre com o mesmo animal.
Enquanto o policial vai respondendo as perguntas, o cavalo toca a cabeça de
leve no ombro dele – tem grandes olhos castanhos como a pelagem, numa
demonstração (creio eu) de carinho. Sim, os animais têm nome que é registrado, o
comportamento varia de indivíduo para indivíduo – uns são mais impulsivos; a
cavalaria emprega tanto fêmeas como machos – estes são castrados. As fotos foram tiradas em outra ocasião.
Fiz uma
excursão a Caieiras de trem (Linha 7 Rubi) e ônibus pela serra da Mantiqueira que
permanecerá bastante tempo na memória pelo desapontamento final. Uma igreja
medieval, luxuosa, com toques de Sainte-Chapelle, construída em pleno século XXI
escondida numa região pobre. Caieiras é um município situado na sub-região
norte da grande São Paulo. O desenvolvimento da cidade aconteceu com a produção
de cal e daí veio seu nome – caieira é a denominação do forno de cal.
quarta-feira, 1 de outubro de 2025
DIA DO IDOSO
No que
estou pensando? Hoje é dia do idoso. Já faz pouquinho mais de vinte anos que
estou nesse grupo e muito satisfeita por ser baby boomer e ter vivido
uma época de transformações fantásticas. Embora adore bondes, mantenha meu DVD
player em funcionamento e ache o corte Chanel um luxo (como o Nº 5) não
significa que sofra de saudosismo. Espero bater perna por aí ainda por algum
tempo – sem exageros. Nada de centenário.
JORNAL "A TRIBUNA"
Parabéns a alunos, professores e ao diretor Roger Marques Ribeiro da Escola Estadual Parque dos Sonhos, de Cubatão (SP), que recebeu ontem o prêmio World’s Best School Prize, na categoria Superação de adversidades. A premiação é promovida pela T4 Education, uma plataforma global voltada para a melhoraria da educação, oferecendo ferramentas, programas e eventos para professores e escolas.
(JORNAL A TRIBUNA, SANTOS, SP)
terça-feira, 30 de setembro de 2025
MOMENTO DE TERNURA
Esperava
a luz verde do semáforo na praça Clóvis Bevilacqua, onde o cenário é
invariavelmente deprimente, quando notei a cambacica no chão em plena
atividade. Ela hesitou quando me viu chegar, mas continuou sua atividade, me
observando vez por outra, pronta para voar caso sentisse algum risco. Achei que
ela estava comendo, mas estava coletando umas farpas que alguma árvore ou
arbusto deixara cair ou o vento trouxera. Havia duas e logo três no bico, uma
caiu e ela tratou de pegar novamente, sempre atenta à minha presença. Ora, pensei,
ela está recolhendo material para o ninho. Quando chegou outro pedestre, vi que
a luz verde se acendera e antes de iniciar a travessia percebi que o passarinho
desaparecera. Tão pequena, tão delicada e colorida, abrandando o cenário de
concreto e tragédia da praça...
Fiquei curiosa e pesquisei para saber como é o
ninho da cambacica. Elas
fazem dois tipos de ninho: um para reprodução e outro para descanso – muito espertas.
O primeiro recebe um acabamento melhor com entrada menor para se proteger dos
predadores. Ela usa palha, folha, capim e teia de aranha na confecção do abrigo.
domingo, 28 de setembro de 2025
FEIRA EM SANTA CECÍLIA
Depois da caminhada pelo Viaduto João Goulart, vulgo Minhocão, decidi que era hora de explorar o entorno dele e nada melhor do que começar pela Rua Sebastião Pereira. Motivo da escolha foi a feira que observei do alto do viaduto. Dizem que é a melhor feira do Centro da cidade, é enorme e costuma ir até as 16 horas.
Aproveitei o domingo de sol e de
temperatura amena para ir até lá via Praça da República. Para variar peguei o ônibus
errado e tive que descer na Praça Júlio de Mesquita, que separa a Avenida São
João da Rua Barão de Limeira. Na Avenida São João, lembrei-me de uma foto de Claude
Levi Strauss, tirada no Carnaval de 1934, de um grupo de foliões. Que diferença!
Dela sobrou apenas o prédio do Banespa/Santander. Entro na Rua Pedro Américo e
saio na Praça da República, de onde sigo pela Rua do Arouche porque a Avenida Vieira
de Carvalho estava fechada para um show.
Gostaria muito que algum estudioso
me informasse qual o polígono que se aplica à configuração do Largo do Arouche.
Enfim, lá estão a Academia Paulista de Letras e o restaurante La Casserole; o
mercado das flores continua uma atração agradável à vista e ao olfato. Há uma
feira de alimentos onde algumas pessoas tomam o café da manhã. Passo pelo restaurante
O Gato Que Ri. Lá o que restou do antigo
Cine Arouche, agora dirigido a público adulto – entenda-se programação pornô. Há
várias famílias, casais e idosos passeando pelos jardins, mas o pessoal da
cracolândia também está presente, dormindo ou alheio à realidade.
Enfim, passo sob o elevado e estou na
Rua Sebastião Pereira e na feira. O público é heterogêneo – vai de donas de
casa fazendo as compras da semana, regateando preços, até pessoas como eu,
curiosas e mais tentada a consumir um pastel com caldo de cana (que eu não gosto)
ou água de coco. Frutas da época em alta – morango e jabuticaba (que eu adoro).
Bananas nanicas bonitas com bom preço. Escolho uma barraca simpática e peço o
pastel de queijo (que estava bom).
Das feiras gosto do colorido, do
alarido e da única coisa fiada disponível – as conversas entreouvidas nas barracas.
Terminei a visita e me dirigi à Alameda Glete, segui até o Terminal Princesa
Isabel para pegar o ônibus para casa. O pé dói e o estômago reclama – hora do
almoço.
sexta-feira, 26 de setembro de 2025
SÃO PAULO E O TRÓLEBUS HISTÓRICO
O trólebus, aquele veículo enorme, confortável, sem
solavancos, seguro, desliza macio pelas ruas da cidade, silencioso, preso por uma
alça a uma rede elétrica, faz parte da minha história. Em Santos o trólebus da
linha 54 Centro – Orquidário passava em frente à minha casa, na Rua Constituição
e, quando fui para a Faculdade em 1967, era ele que eu tomava todas as noites na
esquina com a Rua Sete de Setembro para descer na Rua Euclides da Cunha, perto
do Orquidário, onde ficava a Faculdade de Filosofia. E, num desses acasos da
vida, quando me instalei em São Paulo na Aclimação, novamente, lá estava o trólebus
passando em frente do prédio em que morava. Dessa vez, era o 408 A – 10, a linha
de trólebus mais antiga do Brasil: 76 anos.
São Paulo foi pioneira no Brasil na implantação de veículos
elétricos. Eles eram importados dos Estados Unidos e Inglaterra e começaram a
rodar em 22 de abril de 1949. Inicialmente, o trajeto se estendia da Praça
General Polidoro e à Praça João Mendes. Foi bem mais tarde que a linha se
estendeu da Aclimação a Perdizes, passando por sete bairros.
Espero
que os trólebus continuem rodando por São Paulo ou pelo menos a linha Cardoso
de Almeida/Machado de Assis. Encostá-los é desperdício de dinheiro público, pois
significa abandonar toda a rede elétrica e a mão de obra especializada... A
Prefeitura ressalta o fato de que os veículos novos movidos à bateria não são
poluentes; ora, os – os trólebus (210) também não são poluentes, rodam com
energia elétrica.
Aqui
fica a proposta de um passeio de uma hora aproximadamente por sete bairros de
São Paulo – Aclimação, Liberdade, Centro, Vila Buarque, Higienópolis, Pacaembu
e Perdizes, repletos de pontos históricos, casas de espetáculos, museus,
igrejas e paisagens pitorescas. Se der sorte pode ser até que haja um trólebus
circulando, o que reforçará o aspecto históricos da viagem.
quinta-feira, 25 de setembro de 2025
ÔNIBUS 408A-10 TEM TRAJETO CULTURAL
Um roteiro para conhecer os lugares históricos e
culturais ao longo do trajeto entre a Rua Machado de Assis (Aclimação) e Rua
Cardoso de Almeida (Perdizes) do trólebus 408 A – 10. O ponto inicial da linha é na Praça Rosa Alves da Silva –
que já foi garagem de ônibus da antiga Companhia Municipal de Transportes
Coletivos (CMTC) – com a Rua Machado de Assis, na Aclimação.
·
Parque da Aclimação – Rua Topázio com Rua Muniz de
Souza.
·
Museu da Imigração Japonesa – Rua S. Joaquim, 381.
·
Acesso à Praça da Liberdade.
·
Templo Lohan (budista) – Rua Conselheiro Furtado,
445 (ao lado do Viaduto do Glicério).
·
Museu do Livro Esquecido – Rua Santa Luzia, 31. Só
abre aos sábados.
·
Museu da Justiça – Rua Conde de Sarzedas.
·
Capela do Menino Jesus e Santa Luzia – Rua
Tabatinguera, 104.
·
Comando do Corpo de Bombeiros de São Paulo: Rua
Anita Garibaldi, 25.
·
Igreja do Carmo – Rua Rangel Pestana, 230.
·
Poupa Tempo, SESC Carmo e Igreja Nossa Senhora da
Boa Morte –– Rua do Carmo.
·
Tribunal de Justiça, Catedral da Sé e Centro
Cultural Caixa – Praça da Sé.
·
A centenária Padaria Romana, na Praça da Sé.
·
Pátio do Colégio e Museu da Favela.
·
Casa da Marquesa de Santos, Museu da Imagem, Beco do
Pinto – Rua Roberto Simonsen.
·
Centro Cultural Banco do Brasil – Rua Álvares
Penteado, 112.
·
Museu da Bolsa do Brasil – Rua XV de Novembro, 275.
·
Edifício Sampaio Moreira: Casa Godinho – Rua Líbero
Badaró, 346. Acesso à Faculdade de Direito do Largo de São Francisco.
·
Farol Santander – Rua João Brícola, 24.
·
Banco São Paulo – Praça Antônio Prado, 19/ Rua XV de
Novembro, 347.
·
Edifício Martinelli – Rua São Bento, 405.
·
Ladeira Porto Geral – acesso à Rua Vinte e Cinco de
Março.
·
Largo de São Bento – Mosteiro de São Bento.
·
Edifício Sampaio Moreira (346) e Mercearia Godinho
(340) – Rua Líbero Badaró,
·
Centro Cultural dos Correios – Praça Pedro Lessa
(Praça do Correio),
·
Prédio Mirante do Vale – Praça Pedro Lessa, 110.
·
Igreja de Santo Antônio – Praça do Patriarca, 49.
·
Galeria subterrânea Prestes Maia.
·
Edifício Matarazzo (Prefeitura) – Viaduto do Chá, 18.
·
Viaduto do Chá /
Anhangabaú.
·
Passagem subterrânea da Xavier de Toledo com Praça
Ramos de Azevedo. (Fechada)
·
Antigo Hotel Esplanada, atualmente Secretarias de Agricultura e Abastecimento e de Turismo e
Viagens – Praça Ramos de Azevedo, 254.
·
Teatro Municipal – Praça Ramos de Azevedo.
·
Cine Marrocos (fechado) – Rua Conselheiro
Crispiniano, 397.
·
Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens
Pretos – Largo do Paissandu.
·
Cine Paissandu (fechado) – Largo Paissandu, 60.
·
Praça das Artes – Avenida São João, 281.
·
Centro Cultural Olido – Avenida São João, 473.
·
Esquina das Avenidas São João com Ipiranga.
·
Avenida Ipiranga: Cine Marabá (757) e Cine
Ipiranga (786) – Arquiteto: Rino Levi. (Fechados.)
·
Colégio Caetano de Campos, atual Secretaria Estadual
da Educação – Praça da República.
·
Hospital, Museu e Capela da Santa Casa de
Misericórdia de São Paulo – Rua Dr. Cesário da Mota Jr., 212.
·
Vila Penteado – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
(FAU/USP). Rua Maranhão, 88.
·
Praça Villaboim.
·
Fundação Armando Álvares Penteado: Faculdade, Museu
e Teatro – Rua Alagoas, 903.
·
Praça Charles Miller – Antigo Estádio Municipal do
Pacaembu e Museu do Futebol.
· Rua Cardoso de Almeida. Acesso à Casa Guilherme de Almeida. Rua Macapá, 187.
Retorno? Essa é outra história que fica para amanhã.FOTOS: INTERNET,
Não se esqueça: cumprimente motorista e cobrador. Não custa nada e melhora o dia de todos.
segunda-feira, 22 de setembro de 2025
VIVA A SIBIPIRUNA!
Dias
atrás notei que a sibipiruna estava quase sem folhas, galhos à vista e fiquei
preocupada. Ela estaria morrendo? Seria muito triste perder uma árvore tão
bonita! Fui atrás do sr. Benedito que entende de tudo um pouco, inclusive de
plantas. Ficou admirado com a pergunta e me garantiu que ela estava muito bem.
Se ele disse... E não é que hoje ela está maravilhosa! A folhagem verdinha e na
copa os primeiros indícios de que irá florescer em breve. Vai ver estava só se
preparando para a Primavera.
domingo, 21 de setembro de 2025
CORRER E ANDAR
Em
um desses impulsos inexplicáveis, peguei emprestado na biblioteca um livro do médico
Drauzio Varella (1943) sobre corridas. Quantas vezes vejo o ônibus lá no ponto se
abastecendo de passageiros e penso que se desse uma corrida poderia me juntar
ao grupo; mas prefiro “deixar para lá” e esperar o próximo. Correr por esporte
nunca foi uma opção. Maratona então nem pensar. Ao ler o título completo – “Correr
– O exercício, a cidade e o desafio da Maratona” – deduzo que foi a cidade que
me atraiu para essa leitura.
Foi uma boa escolha, mas gostei
mesmo de acompanhá-lo nas corridas que ele fez pelo Minhocão e pelo Centro da
cidade, porque encontrei muita semelhança com a minha experiência de caminhante.
Claro que não vou andar às seis da manhã, nem pelo elevado e tampouco no
Centro. Prefiro horários mais amenos. Fui duas vezes caminhar no viaduto João
Goulart e apreciei a paisagem, os frequentadores e “a altura privilegiada que
oferece ao transeunte possibilidade de bisbilhotar o interior dos apartamentos”.
Coisa que gosto de fazer. Foi assim que o garotinho sentado na varanda, devidamente
protegida por uma tela, me acenou todo sorridente quando me viu passar; que notei
uma cozinha tão bem organizada que me deu vontade de cumprimentar o/a proprietário
(a); ou ser desestimulada de bisbilhotar por uma máscara de caveira estrategicamente
colocada à janela. Roupas secando dependuradas em varais ou estendidas no
peitoril das janelas. Sapatos e tênis tomando sol. E as cortinas branquinhas balançando
ao vento de um domingo quente? Um bichano junto à rede de proteção da varanda parece
muito interessado no que se passa lá embaixo na São João...
Já percorri o viaduto da Praça Roosevelt
ao Largo Padre Péricles que desconhecia completamente. Pergunto a um senhor
onde é o metrô da Barra Funda, ele indica o caminho e afirma que caminhar faz
bem. Com certeza – só o viaduto tem 3,4 km.
Já a corrida do Dr. Varella pelo
Centro é peculiar e um dia vou reproduzi-la à minha moda – ou seja, andando. À medida
que corre, ele registra aspectos arquitetônicos e históricos dos lugares por
onde passa. Ele começa na Rua Maria Antônia, segue pela Rua Consolação em
direção à avenida Ipiranga, passa pela boate Love Story (Rua Araújo) – que fechou
faz tempo; na Praça da República, entra no calçadão da Barão de Itapetininga (“e
já estou no meio dos prédios mais encantadores da cidade”).
Dr. Varella traça um retrato realista dos
moradores de rua, usuários de crack, desocupados que se espalham pelo Centro,
mas nem por isso escapa ao seu olhar o casal que dormia juntinho num colchão em
um canto abrigado da rua... A descrição que ele faz da primeira vez que se viu
em meio à Cracolândia, na esquina das Ruas Helvétia e Dino Bueno, foi muito
semelhante à minha experiência naquele local: uma visão chocante, que no
primeiro instante causa dúvida – seguir em meio àquela gente maltrapilha (homens,
mulheres de todas as idades e crianças), suja, alucinada que andava de uma lado
para o outro ou se mantinha no chão? Avaliei o que vi e resolvi seguir,
caminhando normalmente, passei por eles e ninguém sequer reparou em mim. Ocupavam
apenas um quarteirão. Hoje espalham-se pela cidade. Passo por eles quase todos os dias na região da Sé. É um gravíssimo problema
social.
O livro é de 2015, Companhia Das Letras.
terça-feira, 16 de setembro de 2025
AH! ESSAS CRIANÇAS!
O ônibus para, o motorista abre a porta, subo, dou boa tarde,
mas já sei que não terei resposta. O motorista é um mal-humorado crônico. Sentei-me
num banco da frente e lá fomos nós! Dois pontos depois alguns passageiros
aguardam e, entre eles três ou quatro estudantes do ensino básico. Devem ter
dez anos, mas estão agitados. Correm, riem e se estapeiam. O motorista para o
coletivo, os adultos entram e os garotos continuam a brincadeira até que um
gritou para o motorista esperar e coleguinha vem correndo sobe os dois degraus,
ri e desce dizendo que não vai. Do meu camarote imagino a cara do motorista. Com
uma cara marota, o moleque para em frente à porta que o motorista não fechara. Diante
do silêncio, ele joga a isca:
– Por que
não fechou a porta? Eu não vou.
Uma
atitude obviamente desafiadora. Uma isca que o zangado ao volante engoliu,
quando perguntou calmamente:
– O que você está aprendendo na escola?
O rostinho
do moleque brilhou:
–
Porra nenhuma! – gritou o sapeca mal-educado.
Silenciosamente,
o motorista fechou a porta e entrou no trânsito modorrento de uma terça-feira da
última semana de inverno.
sexta-feira, 12 de setembro de 2025
VIDA NOTURNA
Ontem,
a caminhada noturna pelo Centro Histórico foi decepcionante: em vez de caminhar o grupo foi convidado para assistir a um espetáculo gratuito
do Festival Internacional de Palhaços. O evento tem importância
cultural, sem dúvida, mas não gosto de palhaços. Assim, bati em
retirada. De todo jeito valeu caminhar da Rua da Consolação até a Praça
Roosevelt, que fica melhor à noite do que durante o dia.
No
caminho, vejo um quarto de uma parede só... Sem ninguém, embora não pareça
abandonado. No chão, o colchão com a coberta bem arrumada; há uma mesinha posta
e três livros. Duas cadeiras e vasos com plantas dão uma certa privacidade ao
leito. Há duas lixeiras. Cenário?
Lembro-me,
não sei porquê, da música de Noel Rosa “O orvalho vem caindo”, embora não haja
semelhança com a cena. A cama não é uma folha de jornal; a noite tem lua às
vezes envolta em nuvens, nada de orvalho e as poucas estrelas visíveis ainda
estão lá no céu... Caminho até a Avenida São Luís, agora tranquila, para pegar
o ônibus. No ponto, dois homens aguardam sentados e conformados.
sábado, 6 de setembro de 2025
CENA BUCÓLICA
Hoje, na Vila das Mercês, depois de alguma andança, me dirigia ao ponto de ônibus, quando observei mais à frente um casal em plena colheita. Ah! Que cena! Lembrei-me da infância quando a nespereira do quintal de casa ficava carregadinha, fazendo a alegria da família e dos passarinhos, sem contar os nossos papagaios que adoravam a fruta. A árvore da Vila das Mercês também estava carregada e, generosa, estendeu os galhos para a calçada.
PAISAGEM
Minha
rua quinta-feira. Um luxo só. Inverno chegando ao fim com ares de primavera e
uma lua cheia para lobisomem nenhum botar defeito.
domingo, 31 de agosto de 2025
DOMINGO NO MINHOCÃO
Hoje o
passeio foi pelo Elevado Costa e Silva que, de acordo com a população, é simplesmente Minhocão. Fico com o povo:
fui passear no Minhocão. O elevado tem 2.500 m de extensão; liga
a Zona Oeste a partir da Praça Roosevelt à Zona Leste, terminando na Avenida
Francisco Matarazzo. Os cinco acessos intermediários contribuem com mais 900 m.
O objetivo da obra: desafogar o trânsito da cidade. O projeto do arquiteto Luiz Carlos Gomes Cardim Sangirdadi foi
recusado pelo prefeito Faria Lima; quando o engenheiro Paulo Maluf assumiu a
prefeitura paulistana, construiu o viaduto em onze meses e deu à obra o nome do
seu padrinho: General Costa e Silva. O povo, entretanto, não perdoou e a obra-prima
de Maluf virou Minhocão. A inauguração aconteceu em 24 de janeiro de
1971, com um tremendo congestionamento.
Não
vou contar a história do Minhocão, porque daria uma novela – aliás, a polêmica
foi registrada por Jorge Andrade na novela O Grito (1975/1976), mas ele já apareceu
também em filmes. Passei poucas vezes por lá e, provavelmente, de ônibus; estou
mais familiarizada com os baixos do viaduto – que eu me lembre da Avenida
Amaral Gurgel até a praça Marechal Deodoro. Neste domingo, achei que era tempo
de corrigir essa falha e assim fui até a Praça da República de metrô, segui
pela Avenida Ipiranga até a Rua da Consolação, onde começa o viaduto. Ainda
deu tempo de olhar o velho Teatro de Arena Eugenio Kusnet e a Igreja da
Consolação em restauro.
É
estranho ver o viaduto sem veículos e pessoas caminhando despreocupadas. Parece
verão. Público heterogêneo – jovens, adultos e idosos; alguns sentados de olho
no celular ou conversando com amigos; outros lendo (sim, lendo) livros. Há um
espaço com jogos (dama e xadrez) e brinquedos. Um pai ensina a filha a jogar
xadrez; muita gente toma sol como se aqui fosse o Gonzaga e saboreia água de
coco. Não há vendedores. Em caso de necessidade, não faltam banheiros químicos.
O
que me surpreende? A tranquilidade que paira pelo viaduto. Que bom! Estou
interessada nas ruas lá embaixo – Major Sertório, General Jardim, Marques de
Itu, Santa Isabel, Jaguaribe... De repente uma algazarra. Localizo a origem: uma
enorme feira de domingo lá embaixo na Rua Sebastião Pereira. Uma infinidade de
barraquinhas. Último dia de agosto, último domingo do mês e a freguesia parece
disposta a gastar. Adiante, o Largo Santa Cecília. Hora de voltar.
Gostei muito da experiência e retornarei no sentido contrário – a partir do Largo Padre Péricles, em Perdizes. O lado negativo é a falta de recipientes na entrada do viaduto na Consolação para os vendedores de coco jogarem o lixo.