quinta-feira, 31 de julho de 2025

BONS DE CONVERSA

 

Eu já disse e repito. Admiro muito pessoas que estão sempre dispostas conversar não importa quem seja o ouvinte (ou ouvintes). Elas sabem como iniciar a prosa e mesmo que você não tenha a mesma habilidade, isso não as intimida. Ao longo desses anos tenho encontrado muitas dessas pessoas que se sentam ao meu lado na condução e logo estão me contando suas vidas. Nem preciso pesquisar para dizer que ônibus e pontos de ônibus são onde as encontro mais; depois esquinas onde aguardo para atravessar ruas e seguem as salas de espera.  

Foi num ponto de ônibus na Avenida Ricardo Jafet, que encontrei Francisca. Eu pretendia esperar o Jardim Saúde-Parque D. Pedro II, que deve fazer a mesma rota do cometa Halley. Estava disposta a esperar uns dez minutos e se ele não aparecesse, minha opção era o metrô. Quando cheguei ao ponto um senhor estava perguntando a uma senhora baixinha, cerca de cinquenta anos, pelo tal ônibus e comentei que ele costumava demorar muito.  Ela disse que ele iria passar em cinco minutos, pois era o horário que costumava sair do emprego. Fiquei mais animada e, como teria que voltar na semana seguinte, memorizei o horário. Dito e feito. Uns dez minutos depois surgiu o difícil.

Quando retornei dias depois, estava pensando na vida quando a senhora apareceu, conversou com a moça que, por falta de um banco, sentara no meio-fio, mas logo foi premiada com a chegada do ônibus. A senhora me reconheceu, se aproximou e iniciou a conversa. Nos cinco ou dez minutos de espera, soube que se chama Fran, trabalha nas imediações, sai sempre naquele horário para pegar a netinha na escola e de quebra ainda me recitou todos os horários do Jardim Saúde. O ônibus apareceu. Ela subiu, foi saudada festivamente pela tripulação, se aboletou no banco da rainha –nome que dei ao banco da frente que fica no topo de dois degraus – e começou uma longa conversa bem humorada com motorista e cobrador. Eu a encontrei outras vezes e ela no meio de uma das histórias comentou que pelo menos o nome ela sabe assinar.  Não resisti e a incentivei a fazer um curso de alfabetização. Toda sorridente me disse que faz parte dos planos dela.

Fran é uma daquelas pessoas que enfrenta as dificuldades da vida sem lamúrias e distribui simpatia por onde passa.   

terça-feira, 29 de julho de 2025

A COBERTURA DO SHOPPING LIGHT

 

Ao fundo do lado direito, o prédio do antigo Othon Palace Hotel e o Edifício Matarazzo com o jardim suspenso.


Creio que nunca a meteorologia foi tão popular. Há algum tempo surgiu a possibilidade se “seguir” pessoas e sites e sei mais lá o quê. Tempos atrás seguir alguém era um caso de importunação; porém, de uns tempos para cá virou moda. Confesso que não sigo nada nem ninguém. Comento isso porque praticamente todas as pessoas que encontro me informam sobre as condições do tempo para amanhã, para o final de semana ou do mês, o que me leva à conclusão que “seguem” algum site meteorológico. Sem contar meu computador que, sem ser consultado, exibe na barra inferior, a temperatura do momento. No aparelho de TV, o Google exibe a hora e a temperatura. A Defesa Civil faz um bom trabalho, alertando sobre tempestades e enchentes.

Abro a janela e lá está um céu azul, um ventinho gelado... Irei visitar a cobertura do Shopping Light (Rua Coronel Xavier de Toledo, 23), porque ontem, passando por lá, vi a placa com o convite para a visita, mas não quis esperar até o meio-dia, hora em que começam a funcionar o elevador histórico (pantográfico) e o restaurante (considerado por dois anos consecutivos como o melhor de São Paulo pela revista VEJA).

Fiz um caminho diferente da Sé para o Anhangabaú – via Rua Benjamin Constant, que está com as entranhas abertas – trabalhadores trocam encanamento e fiação do subsolo. Paro para um cafezinho amigo na Líbero Badaró antes de atravessar o viaduto. Como ainda faltam cinco minutos para meio-dia vejo algumas vitrines no shopping.

No hall do elevador estranhei muito a fila para ir à cobertura, mas descobri que o pessoal ia mesmo para o quinto andar, espaço gastronômico do shopping. Pensei com meus botões que teria sido mais rápido se eles tivessem usado as escadas rolantes.

Enquanto aguardo o elevador, vejo a placa pedindo aos passageiros paciência com a demora porque, afinal, o equipamento tem 96 anos. Que ninguém se espante com a idade dele, pois funciona muito bem. Apenas as luzes do mostrador dos andares por onde ele passa não funciona, o que deixaria Mr. Mackenzie aborrecido, já que ali era a sede e ele diretor da poderosa The São Paulo Tramway, Light and Power Co. Ltd., responsável pelo fornecimento de energia da cidade.

Desembarquei em um hall muito elegante, atendida por uma jovem simpática e fui até a varanda ver a paisagem urbana. Não me surpreendi muito com o fato de já ter visto cenários mais bonitos do centro da cidade – como o que oferece o Edifício Matarazzo, logo ao lado, com seu jardim suspenso; ou do alto do Sampaio Moreira na Rua Boa Vista ou ainda do prédio Martinelli na esquina da São João com São Bento. Basta olhar da Praça Ramos para observar que o Edifício Alexandre Mackenzie, inaugurado em 1929, está ladeado por prédios mais altos e modernos tanto do lado da Rua Xavier de Toledo quanto do lado da Praça do Patriarca. Ele tem nove andares e cinquenta metros de altura – o CBI Esplanada em frente tem 31 andares e 110m de altura.

Como a visita não demorou muito e o sol estava agradável caminhei até a Avenida São Luís para pegar condução. Foi um ótimo início de tarde.

Ah! O acesso ao restaurante da cobertura é pela Rua Formosa, 157. Tem estacionamento.

Vista da Praça do Patriarca.






sábado, 26 de julho de 2025

Anjos Desavisados

“Anjos Desavisados”, escultura de bronze do artista canadense Timothy Schmalz (1969), inaugurada em 29 de setembro – Dia Mundial dos Migrantes e Refugiados, na Praça de São Pedro no Vaticano. Setembro, 2024.




sexta-feira, 25 de julho de 2025

IVANHOÉ E ROBIN HOOD

 

Estou na fase de amenidades. Ontem assisti ao filme americano Ivanhoé, o Vingador do Rei (1952), uma adaptação do romance de Sir Walter Scott (1771-1832), que li na adolescência. A direção foi de Richard Thorpe (1896-1991). No elenco encabeçado por Robert Taylor (1911-1969), tem Elizabeth Taylor (1932-), no frescor dos seus 20 anos, mas ainda uma atriz imatura. A experiente John Fontaine (1917-2013) parece mais a mãe aborrecida com o namoro da filha do que a noiva enciumada.

Dizem que Walter Scott foi quem criou o romance histórico – ou seja, usou elementos da história inglesa recheados de paixões e intrigas. No caso, a época é o século XII. A Inglaterra era governada por João Sem Terra, irmão do rei Ricardo I, mais conhecido como Ricardo Coração de Leão. Ricardo, após participar da III Cruzada (1189-1182), no retorno para casa, foi sequestrado pelo rei Leopoldo da Áustria que o manteve preso. O romance (e o filme) trata apenas do episódio do resgate – Ivanhoé em busca de Ricardo, já considerado morto, o encontro do monarca e a luta para levantar a quantia exorbitante estipulada para sua libertação. O filme mostra os cavaleiros medievais em justas – competições em arenas (liças), e torneios munidos de lanças bem animados. Tudo promovido pelo João Sem Terra e seus acólitos. 

Ivanhoé é um personagem lendário e, quanto ao rei Ricardo verdadeiro, ele pouco se importou com o fato de que a Inglaterra foi à bancarrota para pagar o seu resgate, pois logo em seguida atravessou o Canal Inglês para cuidar de interesses ingleses na Normandia (França) e nunca mais retornou - o que o filme não conta. É um bom filme para diversão e, quem sabe, despertar o interesse de alguém por História  a real é bem diferente. Assisti à série feita para TV (1958) estrelada por Roger Moore (1927-2017).


                                  

Ontem, foi a vez de outro “capa e espada”: As Aventuras de Robin Hood (1938), que recebeu três Oscar – melhor trilha musical original, melhor direção de arte e melhor edição de filme. Errol Flynn interpretou Robin e Olivia de Havilland, Lady Marian; a direção ficou primeiro com William Keighley, logo substituído por Michael Curtiz. As cenas das batalhas entre os nobres e os plebeus são muito boas. O arqueiro responsável pelos lançamentos foi Howard Hill (1899-1975), o maior profissional de arco e flecha de sua época. Ele interpretou o capitão dos arqueiros derrotado por Robin Hood, que consegue partir uma flecha ao meio. Em tempos de fantásticos efeitos especiais é bom saber que, na verdade, foi Hill quem realizou a proeza. A cena foi feita em apenas uma tomada! Um ótimo entretenimento.  Acima o arqueiro Howard Hill.


sábado, 19 de julho de 2025

DIA NACIONAL DO FUTEBOL

Dia Nacional do Futebol: 19 de julho. A data escolhida refere-se à fundação do Sport Club Rio Grande, da cidade de Rio Grande (RS), há 125 anos. O “Vovô”, como é chamado, continua firme e forte em ação.

    Com todo respeito ao “Vovô”, eu prefiro homenagear nesse dia a Seleção Brasileira de Futebol que venceu a Copa do Mundo em 29 de junho de 1958, na Suécia.

    Feola (técnico), Djalma Santos, Zito, Belini, Nilton Santos, Orçando, Gilmar, Garrincha, Didi, PELÉ, Vavá e Zagalo. 

   Fizeram também parte da seleção: Castilho, De Sordi, Oreco, Moacir, Joel, Dida, Mazzola (86 anos), Moacir (89) e Pepe (90 anos) e Dino Sani (93 anos).

    E lá se foram 67 anos ...

terça-feira, 15 de julho de 2025

CERBÈRE E WALTER BENJAMIN


Cerbère está situada nos Pirineus Orientais (França), na fronteira com a Espanha, em uma região cuja ocupação se perde no tempo. Há ruínas pré-históricas e, naturalmente, os romanos estiveram por lá. Aliás, o nome da cidade está relacionado à mitologia greco-romana, segundo a qual o cão Cérbero é o guardião do Hades (inferno). Mas existe muita discussão sobre o assunto e outras explicações, mas gosto desta porque me parece bem óbvia. 

A cidade fica em uma pequena baia no Mediterrâneo e, além da paisagem marítima, o que se destaca são os arcos da ferrovia, construída em 1880 (Eiffel). A rodovia corta a cidade, desce o morro por uma plataforma que cobre o cais e a marina. Duvido que alguém chegue de trem à cidade e desça a pé até a Avenida General De Gaulle sem que a população toda saiba. 

A economia baseia-se na vinicultura e no turismo – pesca, mergulho submarino e praias. Cerbère tem 1.560 habitantes* que, tradicionalmente, fazem a sesta. A vida retoma seu curso depois das 16h30. Da varanda do hotel ouço os sinos da igreja (que fica na encosta do morro) que chamam para alguma cerimônia; vejo o pai com o filho aproveitando o fim de tarde na praia, onde um pequeno grupo pratica mergulho. Aparecem algumas pessoas na praça onde se destacam hotel, restaurante, loja de lembranças...

Em um canto da praça há um grupo de esculturas em homenagem aos produtores rurais, que por longo tempo tiveram de fazer à mão o transbordo dos produtos agrícolas (especialmente laranjas) comercializados entre Espanha e França. O motivo: a diferença de bitola das duas ferrovias, que impedia a circulação de trens entre os dois países.

Há dois monumentos em homenagem aos cinco ferroviários fuzilados pelos nazistas durante a II Guerra Mundial (1939-1945). As lembranças do conflito estão presentes na cidade – Avenue du General De Gaulle, Rue 18 de Juin 1940 (data em que o general De Gaulle deu início à Resistência) etc.

        Na verdade, lembrei-me dessa viagem, ao ler um ensaio de Walter Benjamin sobre os livros e seus colecionadores.

Crítico, ensaísta e filósofo Walter Benjamin (1892-1940) teve uma vida atribulada. Judeu alemão, filho de comerciantes, com a ascensão do nazismo, seu trabalho deixou de ser publicado na Alemanha e em 1935 refugiou-se na França. Em 1939 havia perdido a cidadania alemã e estava praticamente na miséria. Com a deflagração da guerra e a posterior ocupação da França pelos alemães em 1940, Benjamin decidiu fugir com um grupo de amigos para Portugal, via Espanha, para se estabelecer nos Estados Unidos.

As dificuldades dessa viagem até Cerères deterioraram ainda mais seu estado de saúde e de espírito de Benjamin. Na última parte da jornada, ele mal aguentou subir os Pirineus e quando jornada clandestina terminou no posto de fronteira da Espanha – Cerbère-Portbou, todos foram barrados porque era essencial o visto francês de saída. Sem cidadania alemã e sem documentação francesa, a situação do escritor era dramática. Os fugitivos conseguiram permissão para ficar aquela noite na aldeia próxima. Benjamin, entretanto, sentiu-se encurralado – não podia sair da França nem voltar – e decidiu que o único caminho era a morte e para isso usou morfina. Foi uma agonia lenta.  Horas depois de sua morte, o grupo fugitivo conseguiu autorização para prosseguir viagem. Antes, porém, eles cuidaram dos despojos do companheiro de jornada e pagaram o funeral no cemitério de Portbou (Espanha).

Walter Benjamin nasceu em 15 de julho de 1892 em Berlim e morreu em 26 de setembro de 1940 em Cerbère.

         *Pelo censo de 2018, 1.351 habitantes. Crônica de 2006, ano em que cheguei à França procedente da Espanha. .


segunda-feira, 14 de julho de 2025

JÚLIO CÉSAR

Semana passada circulando na livraria da Unesp vi e comprei “Júlio César”, de Shakespeare (1564-1616). Nos anos de 1980, quando ainda existia o vendedor de livros e enciclopédias, que visitava residências, escritórios, redações e escolas com clássicos da literatura mundial, comprei dois livros com as principais tragédias e comédias de Shakespeare, onde infelizmente faltaram algumas obras como “Henrique V” e “Júlio César”. “Henrique V” comprei logo depois, mas Júlio César lamentavelmente ficou esquecido.  Li a peça no mesmo dia. Atemporal como são os clássicos, a obra provoca reflexões sobre o homem, o poder, a ambição e a inveja, o amor e a morte. 

Procurei mais informações sobre os eventos que levaram ao assassinato de César e notei que ele nasceu no dia 13 do mês que os romanos chamavam de “Quintilis”, quinto mês do calendário romano, que começava em março. Em 44 a. C., ano em que ocorreu o assassinato de César, o Senado Romano o homenageou trocando a denominação de mês de seu nascimento para Júlio, daí Julho em Português. Estava pensando em escrever algo sobre a peça e sobre César, quando abri o site do CINEMA LIVRE e vi que uma das novidades era exatamente o filme “Júlio César” (1953), de Joseph L. Mankiewicz (1909-1993), autor do roteiro que manteve fiel ao texto original.

Que coincidência! E no elenco James Mason (Brutus), John Gielgud (Cássio) e o jovem Marlon Brando (Marco Antônio). O filme, indicado para cinco categorias, ganhou o Oscar de 1954 na categoria de Melhor Direção de Arte em Preto e Branco e Marlon Brando foi indicado na categoria de Melhor Ator. Assisti ontem ao filme. Um espetáculo imperdível. Marlon Branco não fica a dever nada ao desempenho de James Mason, um ator inglês shakespeariano, e a cena de seu discurso diante do corpo de César é impecável.

No filme, entretanto, há um anacronismo.  O ano é 44 antes de Cristo: um personagem tira da toga um códice que folheia e depois o guarda. Naquela época os romanos escreviam em pergaminho que eram enrolados e guardados em tubos. Foi no início da era cristã, século I d. C., que surgiram os códices que consistiam no resumo do conteúdo dos rolos feito em folhas costuradas, o que permitia o manuseio e o transporte mais fácil. Posteriormente, no filme, Marco Antônio tira da túnica o testamento de César escrito em um pergaminho como era usual na época.

            Meu interesse por Caio Julius Caesar (100 a.C-44 a. C.) é antigo, pois como jornalista não poderia ignorá-lo: ele foi o criador das famosas Acta Diurna Populi Romani ou Acta Publica, que publicava diariamente as atas do Senado, éditos, discursos dos tribunos e as ocorrências de interesse público da República – casamentos, óbitos, acontecimentos militares, falências, espetáculos e banquetes (coluna social?). Isso em 69 a.C. As informações eram escritas em tábua branca, denominada álbum e afixadas nos muros das cidades.

A Acta Diurna Populi Romani ou Acta Publica circulou até a queda do Império Romano que ocorreu em 476 d. C.



Marlon Brando na cena do discurso em louvor a César, que jaz a seus pés.


sábado, 12 de julho de 2025

AS COSTUREIRAS


Não sei qual superlativo dar à arte do compositor Heitor Villa-Lobos (1887-1959). E quem desejar conhecer a grandiosidade dele pode visitar o Villa-Lobos Chanel, sem fins comerciais, ele é dedicado exclusivamente para divulgação da obra do compositor.

Foi lá que conheci “As Costureiras”, interpretado por um coral feminino de Trondheim, cidade norueguesa.

AS COSTUREIRAS
Música e letra Heitor Villa-Lobos.

Com alma a chorar!
Alegre a sorrir!
Cantando os seus males!
As costureiras, somos nesta vida!
Até amores unimos à linha,
Nós trabalhamos sempre alegres na lida!
Como alguém que adivinha,
O belo futuro que nos vai a sorrir!

Cose, cose, cose a costureira,
Cose a manga, a blusa, a saia,
Cose com interesse e mostra-te faceira,
Bem faceira a quem provares o ponteado,
O alinhavado, o costurado, o chuleado, o pregueado.


https://www.youtube.com/watch?v=RW6iU2m-2v4 
Trondheim Women Student Choir.



"As costureiras" (1950), Tarsila do Amaral (1886-1973).




sábado, 5 de julho de 2025

VIVA GABRIEL

Ah! O sol está de volta e o dia bem agradável, o que me levou à Vila Prudente para localizar um lugar onde terei de ir segunda-feira cedo. Para evitar problemas, fui “passear” por lá. A estação do metrô já é velha conhecida. Uma funcionária explica o caminho e diz que são apenas cinco minutos de caminhada. Lá fora, as coisas se complicam. Peço informações a três pessoas – nenhuma é do bairro. Já ia para um terminal de ônibus, quando vi o rapaz com uma sacolinha de comida. Resolvi tentar. 

– Bom dia. Você mora por aqui?

– Mais ou menos...

    Mais ou menos? Quem mora mais ou menos? Expliquei onde eu ia e ele logo ajeitou o celular, começou a pesquisar e localizou o endereço.

– Vamos atravessar a rua aqui porque é naquela direção – apontou a transversal.

Agradeci e já ia me despedindo, mas ele fez questão de me acompanhar. Perguntou meu nome e me vi na obrigação de perguntar o dele – Gabriel. Gabriel é uma simpatia. Deve ter uns 22 ou 23 anos. Expliquei que não conhecia a região, morava na Vila Mariana – estação que ele disse conhecer bem pois faz conexão do metrô com o ônibus para ir trabalhar. Ele presta consultoria em segurança (?). A rua vira uma ladeira íngreme que enfrento bravamente (treino todos os dias nas ladeiras da Aclimação, bem mais suaves). Então chegamos, agradeço muito a gentileza e desejamos boa sorte um para o outro.

Na volta, resolvi conhecer uma igreja que vi numa travessa e por isso cheguei à Praça Padre Damião Kleverkamp, pequena e agradável. A Igreja de Santo Emídio foi inaugurada em 1948. Santo Emídio (179 d. C.-309 d. C.) foi um bispo cristão, a quem se atribuem muitos milagres. Ele é o santo protetor dos terremotos, enchentes e chuvas intensas. Fora os terremotos, está no lugar certo. Damião Kleverkamp foi o primeiro pároco da igreja São Emídio. 

Na hora da foto, chegou o fusquinha ... Fazer o quê?

A preguiça fez com que eu descobrisse um suave caminho para retornar à estação do Metrô – quase plano! Detesto esses aplicativos que "indicam" caminho, mas sem Gabriel não teria chegado ao meu destino.  

sábado, 28 de junho de 2025

À PROCURA DE UMA PAPELARIA

 

Cresci ao lado de uma ótima papelaria – a "1001".  Isso muito antes que a agência McCann Erickson lançasse na década de 1970 a peça publicitária da lã de aço mais famosa do Brasil. Era lá que o meu material escolar era comprado. Havia ainda a Papelaria e Tipografia Reis. Tenho certeza de que não eram as únicas de Santos, mas é delas que me lembro bem.

Aqui em São Paulo conheci algumas ótimas, como a Papelaria Rosário, na Rua Xavier de Toledo no Centro Histórico, que infelizmente fechou em 2024. Outra que fechou funcionava no Conjunto Nacional, ao lado da Li
vraria Cultura. A Papelaria Umabel, na Rua Cristóvão Colombo, agora vende mochilas, e a Papelaria Estadão, no Viaduto Nove de Julho, resiste. Eu sempre senti grande atração pelas papelarias onde ia comprar lápis, tinta para as canetas tinteiro – só usei canetas esferográficas quando fui trabalhar no jornal –, fita para máquina de escrever, papel carbono, crepom, manteiga, de seda branco ou colorido (ah! os tempos de balões!). E as caixas de lápis de cor?

No ônibus a caminho do Centro Histórico me lembrei de duas pequenas papelarias pertinho da Sé; porém, como é sábado, não me preocupei em descer lá. Fiquei pela Rua Boa Vista, mas decidi atravessar o Anhangabaú e resolvi entrar no Shopping Light. Com tantas lojas, tudo é possível. Dito e feito! E achei logo no térreo – papelaria e livraria. Passei um bom tempo por lá procurando cartões e vendo as novidades da papelaria. Os cartões foram frustrantes: todos com mensagens descartáveis, óbvias, infantis... Alguns até bonitos, mas nenhum com o interior em branco para que se escreva a própria mensagem.

O que me chamou atenção foi a prateleira do material escolar: Na parte de cima, um objeto denominado “Caderno Argolado”, cheio de parangolés. Ora, ora vejam só! Lembrei-me com saudade do meu fichário, que me acompanhou no curso ginasial.

terça-feira, 17 de junho de 2025

FUI DE TÁXI

 


Se na Europa o viajante tem o conforto dos trens conectados a linhas de metrô para ir ou sair de aeroportos, nos Estados Unidos, a situação é diferente. Felizmente, os norte-americanos inventaram o shuttle, serviço de transporte bem mais barato do que táxi (geralmente vans), e que deixa o passageiro no hotel. Entretanto, em alguns lugares o serviço é disponível em horários que não são adequados (às 6 horas, às 13h etc.) e o jeito é usar táxi ou similares. Não se esqueça de que a praxe nos Estados Unidos é pagar a corrida e acrescentar de 15 a 20% de gorjeta.

Esse momento pode ser desfrutado como uma parte bem interessante do passeio seja qual for a cidade. Desta vez peguei vários táxis (algo raro nos roteiros europeus) e me vi sendo conduzida por motoristas de diferentes nacionalidades e todos muito satisfeitos com a nova vida que encontraram nos Estados Unidos, embora o trabalho seja exaustivo. O segredo é a oportunidade, que encontram nesse país feito de imigrantes. Assim, conheci um chinês, um vietnamita, um camaronês, um iraquiano, um indiano e um armênio.

O chinês mostrou-se o mais nervoso de todos e resmungou muito com os percalços do trânsito (muito bom por sinal) em Honolulu. O vietnamita falou com saudade das belezas do Vietnã. Nenhum ressentimento com o passado trágico entre o país de nascimento e o adotivo. O indiano surpreendeu-se quando elogiei o cinema da Índia. O iraquiano, quando soube que ia de San Francisco para Las Vegas de avião, me aconselhou a economizar dinheiro, usando o shuttle que servia os hotéis da região. O camaronês acha Las Vegas uma fantasia no meio do deserto, comentou a derrota da seleção nacional para o Brasil em 2014 e ainda estava estarrecido com a chacina que matara 59 pessoas no início da semana.

Um deles, quando soube que eu era do Brasil, suspirou nostálgico pela Xuxa. Xuxa? Foi-se o tempo em que falavam de Pelé ou de Reinaldo, mas Xuxa? Céus!

O armênio? Este não era de falar muito. Trânsito livre até o aeroporto, onde encontramos um imenso congestionamento para chegarmos ao terminal da empresa aérea que me traria de volta a São Paulo. Foi só então que perguntou para onde eu ia e aproveitei para perguntar a nacionalidade dele. 

Cá entre nós, o Trump nunca conheceu o país em que vive e muito menos as pessoas de verdade que trabalham na sua construção.

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Em português a grafia correta é táxi, mas por aí afora encontra-se sempre um taxi. O relato refere-se à viagem aos Estados Unidos feita em 2013.

terça-feira, 10 de junho de 2025

DIA DE PORTUGAL

 

O restaurante Martinho da Arcada, situado no Terreiro do Paço em Lisboa, tem mais de duzentos anos e era o café preferido do poeta Fernando Pessoa (1888-1935). O poeta teria sido convidado pela Coca-Cola para escrever o slogan da bebida que estava para ser lançada em Portugal,. mas a venda do refrigerante foi proibida no país durante a ditadura salazarista. A Coca-Cola só pôde ser comercializada em Portugal após o final da ditadura.

“Primeiro estranha-se, depois entranha-se” – este foi o slogan criado por Pessoa para a Coca-Cola lá pelos idos de 1927. A foto é de 2023, quando passei pelo restaurante.

DIA 10 DE JUNHO – DIA DE PORTUGAL, da Língua Portuguesa, de Camões e das Comunidades Portuguesas. 




segunda-feira, 9 de junho de 2025

LITERATURA DE CORDEL

 

 "A poesia de cordel é uma das manifestações mais puras do espírito inventivo, do senso de humor e da capacidade crítica do povo brasileiro, em suas camadas modestas do interior. O poeta cordelista exprime com felicidade aquilo que seus companheiros de vida e de classe econômica sentem realmente. A espontaneidade e graça dessas criações fazem com que o leitor urbano, mais sofisticado, lhes dedique interesse, despertando ainda a pesquisa e análise de eruditos universitários. É esta, pois, uma poesia de confraternização social que alcança uma grande área de sensibilidade.” Carlos Drummond de Andrade (1902-1987).

O Google hoje lembra a Literatura de Cordel, herança portuguesa que floresceu no Brasil.

A Biblioteca Mário de Andrade tem em seu acervo de seis mil folhetos a “Tragedia do Marquez de Mantua & do Emperador Carlos Magno” (1692) e a “Pregação de João Coelho” (1787), ambos impressos em Lisboa.

A Universidade de Poitiers, na França, mantém o maior acervo da Europa sobre o tema: cerca de quatro mil documentos pesquisados pelo professor Raymond Cantel (1914-1986). O professor veio ao Brasil em 1959 para estudar temas como messianismo, mas mudou o rumo do trabalho quando conheceu a literatura de cordel. Ele retornou várias vezes ao Brasil até os anos 1980.

https://cordel.edel.univ-poitiers.fr/collections/show/3

Em 1988 foi fundada no Rio de Janeiro a Academia Brasileira de Literatura de Cordel (ABLC) para resguardar e divulgar a arte nordestina. Funciona na Rua Leopoldo Fróes, 37, em Santa Tereza.

Fotos: Exposição "Vidas em Cordel", promovida pelo Museu da Pessoa, na Estação da Luz em março de 2025.



sábado, 7 de junho de 2025

A VOLTA AO MUNDO EM 80 DIAS

        

David Niven e Cantinflas sobrevoam os Alpes. A única cena que usou efeitos especiais.

Revi esta semana o filme “A Volta ao Mundo em Oitenta dias”, o clássico de 1955 baseado no livro de Julio Verne (1828-1905), dirigido por Michael Anderson (1920-2018) e produzido por Michael Todd (1909-1958). Que obra extraordinária! Se o livro de Verne é fantástico, o filme sob diversos aspectos é insuperável a começar pela abertura com “Viagem à Lua” (1902) também com base na obra de Verne, filme dirigido por outro francês, Georges Méliès (1861-1938). Tanto Julio Verne quanto Méliès são pioneiros do gênero ficção científica na literatura e no cinema, respectivamente. 

            Em 1873, quando o livro foi lançado, o trem era o veículo terrestre mais veloz de que se dispunha e os navios (paquetes) ainda eram a vela ou a vapor. O enredo se passa em um clube londrino, onde um grupo joga cartas e discute o roubo audacioso de um banco da City e o destino do ladrão fugitivo – afinal, ele poderia ter ido para qualquer país do mundo. Logo discutia-se o encolhimento da Terra, pois era possível dar a volta ao mundo em três meses. Phileas Fogg, um cavalheiro enigmático, afirma que o feito poderia ser alcançado em oitenta dias e, após muita discussão, acontece a aposta que põe em risco a fortuna do desafiador, Mr. Fogg. Aliás, Fogg já tem até o roteiro pronto a partir de Dover-Calais:

De Londres a Suez pelo Monte Cenis e Brindisi, ferrovias e paquetes: 7 dias

De Suez a Bombaim, paquete: 13 dias;

De Bombaim a Calcutá, ferrovia: 3 

De Calcutá a Hong Kong (China), paquete: 13 dias

De Hong Kong a Yokohama (Japão), paquete: 6 dias

De Yokohama a São Francisco, paquete: 22 dias

 De São Francisco a Nova York, ferrovia: 7 

De Nova York a Londres, paquete e ferrovia: 9 dias

Total: 80 dias.

            Na adaptação para o cinema, entretanto, Fogg e seu criado mexicano Passepartout (no livro ele é francês) saem da França a bordo de um balão de ar quente, sobrevoando os Alpes. Um anacronismo, já que a primeira viagem tripulada em um balão de ar quente só aconteceria na década seguinte. Há outros. Não vou me estender sobre o livro ou o filme, que merecem ser lido e visto. Em tempos em que a viagem da Terra à Lua leva em torno de três ou quatro dias, o que vale mesmo são as aventuras, as paisagens naturais e urbanas e a recordação de grandes estrelas do cinema mundial.

A produção ambiciosa de Michael Todd, que fazia sua estreia no cinema, merece atenção. As cenas externas do filme foram feitas em treze países e a filmagem durou 75 dias – a maioria nos estúdios das sete maiores produtoras da época. Entre agosto de 1955 quando começou a ser produzido até dezembro do mesmo ano, aconteceram muitos problemas: Todd despediu o diretor e contratou Michael Anderson, com quem ele se entendeu muito bem; despediu também Gregory Peck por não gostar da interpretação dada ao personagem; mas encontrou tempo para se apaixonar e casar com Elizabeth Taylor. Aliás, como eram outros os tempos, o casamento deu o que falar porque ela estava com 21 anos e ele com 47.

Para a realização do filme a equipe viajou pelos cinco continentes, percorrendo seis milhões de quilômetros (Todd fez um acordo com companhias aéreas para conseguir essa “milhagem”); foram construídos 140 cenários; 68.894 figurantes trabalharam no filme; noventa domadores foram contratados para controlar 8.500 animais – muitos de grande porte; para o figurino foram confeccionadas 74.685 peças encomendadas em alfaiatarias de Hollywood, Londres, Hong Kong e Japão. O rei da Tailândia emprestou a embarcação usada na filmagem, mas Todd comprou um barco a vapor de verdade e o desmontou, o que se pode constatar no filme.

Para quem tem mais de 60 anos o filme oferece um jogo delicioso: reconhecer os grandes atores que tiveram uma pequena participação especial. Lá estão Noel Coward (ator e dramaturgo inglês), John Gielguld, Marlene Dietrich, Martine Carol, o toureiro espanhol Luís Miguel Dominguin, George Raft, Buster Keaton, Charles Boyer, Frank Sinatra, Red Skelton, Peter Lorre e Ava Gardner entre a multidão. As estrelas do filme são David Niven, Cantinflas e Shirley MacLaine (aos 21 anos e em seu terceiro filme).

“A Volta ao Mundo em 80 Dias” estreou em 17 de outubro de 1956 em Nova York. O filme recebeu cinco Oscar em 1957: melhor filme, melhor roteiro adaptado, melhor montagem, melhor fotografia e melhor trilha sonora. Levou o Globo de Ouro como melhor filme (comédia ou musical) e melhor ator (Cantinflas). E ganhou o Prêmio NYFCC 1956 – New York Film Critics Circle Awards. Nada mal para um estreante.

Shirley MacLaine, David Niven e Cantinflas.

Michael Todd morreu em 1958 num acidente em seu avião particular, no Novo México.

quarta-feira, 4 de junho de 2025

VIVA O PINUS PINEA

Gosto muito de árvores. E por onde ando sempre encontro exemplares maravilhosos. Na Itália, uma árvore me conquistou. Alta, esguia, contida e elegante. De longe parece uma sombrinha verde. Chama-se Pinus pinea, pinheiro-manso, uma espécie mediterrânea. Seus pinhões têm um papel importante na alimentação dos povos da região desde a pré-história.

O pinheiro-manso adorna os caminhos romanos. Piazza Venezia, 2024.


Proporciona paz no Cemitério Americano Militar em Netuno. 2024.

No sítio arqueológico de Ostia Antica, a 27 km de Roma. 2019.


Faz parte do cenário nas Termas de Caracala, 2024.


sexta-feira, 30 de maio de 2025

AOS VENCEDORES, AS BATATAS

 

"Os comedores de batata", Vincent Van Gogh (1853-1890).

Quem diria! Hoje é o Dia Internacional da Batata, aquele tubérculo feioso ou desajeitado, mas delicioso não importa a forma como seja preparado e servido. A data foi designada pela ONU em 2023 “para aumentar a conscientização sobre os múltiplos valores nutricionais, econômicos, ambientais e culturais do alimento”. A batata foi “descoberta” pelos conquistadores espanhóis na região do Lago Titicaca, onde atualmente Bolívia e Peru têm fronteira. E se deu muito bem do outro lado do Atlântico a partir de onde ganhou o mundo. Cozida, assada ou frita, a batata agrada a praticamente todos os paladares; combina com carne e verduras. Que tal um pãozinho de batata? 

De acordo com a ONU, cerca de dois terços da população mundial consomem batatas como alimento básico. A previsão é de que a produção de batatas até 2030 atinja 750 milhões de toneladas anuais! Atualmente, o título de maior produtor de batatas do mundo é da China, que responde por um terço da produção mundial: 341 milhões de toneladas anuais.  

Gastronomia – Para comemorar a data que tal batatas ao murro, receita tradicional portuguesa? Depois de cozidas, aperte ligeiramente as batatas com a mão – é recomendável fazê-lo com um pano seco para não se queimar – e as coloque numa assadeira com duas colheres de azeite. Tempere com alho, alecrim, pimenta-do-reino, sal e regue com mais duas colheres de azeite. Leve ao forno pré-aquecido por 40 minutos, virando as batatas na metade do tempo. Retire do forno e... Saboreie com peixe ou carne bovina.

Literatura – O romance é “Quincas Borba”, de Machado de Assis (1838-1908), publicado em 1891, e a frase que sintetiza a desilusão do personagem ao reconhecer que, na vida, vence o mais forte: "Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas”.

quinta-feira, 29 de maio de 2025

A CIDADE UNIVERSITÁRIA

 


O município de São Paulo com seus ‎1.521,11 km² abriga uma cidade de 4.800 km², com prefeito, um pequeno número de moradores e uma grande população de passagem. Por suas ruas, avenidas e praças arborizadas circulam diariamente milhares de pessoas. Ônibus lotados e carros nem tanto entram por um dos três portões dessa cidade. Ela tem teatro, cinema, orquestra e coral, clube, bibliotecas, museus, hospital, farmácia, correios, bancos, dois jornais, uma estação de rádio e outra de televisão e um centro esportivo. E até um apiário. Enfim, quase tudo que uma cidade precisa. Pela manhã ciclistas disputam espaço com os praticantes de corrida. Muita gente aparece para fazer as mais diferentes atividades físicas. Não apenas passarinhos cruzam os céus, helicópteros também adejam sobre a cobertura verde para observar o trânsito ao redor e informar os meios de comunicação sobre os problemas de tráfego na região. 

Um lugar para se esquecer do tempo? Não é bem assim, porque há o horário das aulas, do trabalho, das refeições e não desculpa para atrasos, pois existem duas praças que impedem que se perca a hora: a Praça do Relógio e a Praça do Relógio Solar. Enfim, só visitando a Cidade Universitária Armando de Salles Oliveira (Campus Butantã) para conhecer um dos oito campi da Universidade de São Paulo. O investimento do Estado na USP (Decreto 29.598 de 02/02/1989 e a LDO – Lei nº 16.511, de 27/07/2017*) é de 5,0295% da arrecadação de ICMS líquido do Estado de São Paulo.

A Universidade de São Paulo foi criada em 25 de janeiro de 1934 pelo governador Armando de Salles Oliveira (1887-1945), que no ano seguinte nomeou uma comissão, presidida pelo Prof. Reynaldo Porchat (1868-1953), para estudar e definir a localização da Cidade Universitária para onde seriam transferidas as diversas faculdades da USP então espalhadas pela cidade. Porchat era santista. O campus é formado por uma área equivalente a 200 alqueires paulistas, destacada da antiga Fazenda Butantã que fora desapropriada. Embora a decisão tenha sido tomada na década de 1940, a Prefeitura foi criada em dezembro de 1969 para planejar e implantar a infraestrutura do campus. O desafio coube ao professor arquiteto Luciano Bernini, primeiro prefeito da Cidade Universitária. A denominação atual é Prefeitura Campus Capital-Butantã da Universidade de São Paulo (PUSP-CB).

Agora o passeio pela Cidade Universitária Armando de Salles Oliveira pode começar. A maioria das ruas e praças homenageia professores da Universidade. Algumas unidades como a Academia de Polícia, Casa de Cultura Japonesa, Centro Tecnológico da Marinha, Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) não pertencem à USP. Logo na entrada encontra-se a Praça Prof. Reinaldo Porchat, com uma escultura em sua homenagem. Mais adiante fica o Relógio Solar, criação do professor da FAU/USP, Caetano Fraccaroli (1911-1987). É de Fraccaroli também o Monumento à Liberdade, que adorna a entrada do Hospital Universitário – escultura de quatro metros de altura em resina e fibra de vidro.

A Torre Universitária ou Torre do Relógio destaca-se nesse ambiente quase bucólico: obra do arquiteto Rino Levi (1901-1965). Ela tem painéis criados pela escultora vicentina Olga Elizabeth Magda Henriette Nobiling (1902-1975). No entorno do espelho d’água pode-se ler que “No Universo da Cultura o centro está em toda a parte”, frase do professor Miguel Reale, ex-reitor da USP.

O monumento em homenagem ao arquiteto Ramos de Azevedo tem lugar especial. Obra do artista ítalo-brasileiro Galileu Ementabili, o monumento foi inaugurado em 1934 na Avenida Tiradentes, próximo à Estação da Luz, mas em 1973 teve que ser removido por causa das obras do metrô e desde então está na USP (Avenida Almeida Prado) próximo à Escola Politécnica. (Foto.)

Como em todas cidades, o campus dispõe dos equipamentos necessários para a vida cotidiana de alunos, professores e visitantes. Alunos, funcionários e professores podem sempre fazer refeições no CRUSP. Nos tempos em que trabalhei no JORNAL DA USP costumava almoçar no restaurante universitário; contudo há vários restaurantes, lanchonetes e até comida de rua tanto para o simples café da manhã como para uma refeição diferenciada.

É bom saber que esta cidade conta com o Hospital Universitário. O HU, como é conhecido, é um hospital-escola regionalizado e integrado ao Sistema Único de Saúde (SUS). Em 25 de março de 1976, o então governador do Estado Paulo Egydio Martins assinou decreto alterando o Estatuto da USP e instituindo o HU, após aprovação do Conselho Universitário da Universidade e do Conselho Estadual de Educação. Houve um atraso para o início das atividades do hospital por falta de recursos financeiros, mas no dia 6 de agosto de 1981 o Hospital começou funcionar a partir do setor de Pediatria e em dezembro do mesmo ano foi a vez do setor de Obstetrícia e Ginecologia iniciar as suas atividades e assim sucessivamente até completar o complexo hospitalar. Há também uma farmácia no campus.

Arte não falta: além do CINUSP, há os museus de Arqueologia e Etnologia, de Geociências, Oceanográfico – a Academia de Polícia mantém o Museu do Crime. Entre as várias bibliotecas do campus, destaca-se a Biblioteca Brasiliana Guida e José Mindlin, aberta ao público em 2013. O Centro de Práticas Esportivas – CEPEUSP é o local onde os alunos praticam esportes e se confraternizam.

A partir de 2008 frequentei cursos da Universidade Aberta para Terceira idade (UNATI) nos Museus Paulista e de Arqueologia e Etnologia (MAE); Institutos de Astronomia e Geofísica, de Estudos Brasileiros, Química, de Biociências e de Medicina Tropical, Faculdades de Economia e de Educação.

O campus Butantã fica afastado do Centro, mas dispõe de um bom serviço de ônibus, metrô (Linha Amarela) e trem (9 – Esmeralda).

domingo, 25 de maio de 2025

HOJE TEM TICO-TICO NO FUBÁ

José Gomes de Abreu ou simplesmente Zequinha de Abreu (1880-1935) é um dos músicos e compositores brasileiros que faz sucesso internacional desde os anos 1940. E por incrível que pareça foi a organista Ethel Smith (1902-1996) quem tornou o chorinho “Tico-tico no Fubá” num sucesso, quando o interpretou no filme Bathing Beauty (1944), estrelado por Esther Williams. O disco que ela gravou chegou a alcançar o 14º lugar nas paradas de sucesso em novembro daquele ano e vendeu dois milhões de cópias em todo mundo. Em 1945 Carmen Miranda, que já trabalhava nos Estados Unidos, gravou o chorinho “Tico-tico no Fubá” com letra de Aloísio de Oliveira (Bando da Lua) e em 1947 interpretou a música no filme “Copacabana”, dirigido por Alfred E. Green.

Este foi o início da carreira internacional da música, que foi gravada pelo violonista espanhol Paco de Lucia (1967), pelo violista italiano Marco Misciagna  (2024), pelo guitarrista brasileiro Raphael Rabelo em (2024), pelas orquestra Filarmônica de Viena, regida pelo maestro Gustavo Dudamel e pela Filarmônica de Berlin, regência do maestro Daniel Barenboin entre outros.

Zequinha de Abreu nasceu em Santa Rita do Passa Quatro, São Paulo.

Link para ver Carmen Miranda interpretando o chorinho no filme que estrelou com Groucho Marx (1890-1977):

https://youtube.com/shorts/pwTip5AKuT0?si=0hgCo2aU6qF4-JoN


https://www.youtube.com/watch?v=PsNcDkwhBMA

sexta-feira, 23 de maio de 2025

A NOVA ARQUEOLOGIA


                                  Praça Manuel da Nóbrega.

A Prefeitura está fazendo obras de infraestrutura no Centro Histórico. Outro dia achei que garimpeiros tinham se instalado na Rua Barão de Paranapiacaba atraídos pela alcunha de “rua do ouro”. Escavada do começo ao fim, homens trabalhavam no subsolo reformando a infraestrutura. Debruçados nos cavaletes que fechavam a rua, pedestres desocupados e o pessoal que distribui cartões das lojas de compra e venda de ouro observavam a obra. Sobrou uma nesga de calçada para os pedestres e comerciantes. Agora é a vez da Rua XV de Novembro. A Rua Padre Anchieta e a Praça Manuel da Nóbrega estão prontas. Todas essas obras no subsolo resultaram num achado arqueológico ao lado da Ladeira General Carneiro. Quando fui espiar o que tinham encontrado me deparei com trilhos de bonde. Trilhos de bonde já são arqueológicos? E eu que andei tanto de bonde... Como dizem os gaúchos: Barbaridade!  


Ladeira General Carneiro.

Rua XV de Novembro.
 Arqueologia é a “ciência que trata das culturas e civilizações antigas e desaparecidas, estudando-as por meio de artefatos, fósseis, habitações, monumentos e outros testemunhos materiais que delas restaram”.  Não é o caso desse achado porque bondes continuam circulando mundo afora.