Gosto muito de árvores. E por onde ando
sempre encontros exemplares maravilhosos. Na Itália, uma árvore me conquistou. Alta,
esguia, contida e elegante. De longe parece uma sombrinha verde. Chama-se Pinus
pinea, pinheiro-manso, uma espécie da região mediterrânea. Seus pinhões têm um papel
importante na alimentação dos povos da região desde a pré-história.
quarta-feira, 4 de junho de 2025
VIVA O PINUS PINEA
sexta-feira, 30 de maio de 2025
AOS VENCEDORES, AS BATATAS
Quem
diria! Hoje é o Dia Internacional da Batata, aquele tubérculo feioso ou
desajeitado, mas delicioso não importa a forma como seja preparado e servido. A
data foi designada pela ONU em 2023 “para aumentar a conscientização sobre os múltiplos valores nutricionais,
econômicos, ambientais e culturais do alimento”. A batata foi “descoberta”
pelos conquistadores espanhóis na região do Lago Titicaca, onde atualmente
Bolívia e Peru têm fronteira. E se deu muito bem do outro lado do Atlântico a
partir de onde ganhou o mundo. Cozida, assada ou frita, a batata agrada a praticamente
todos os paladares; combina com carne e verduras. Que tal um pãozinho de batata?
De acordo com a ONU, cerca de dois terços da
população mundial consomem batatas como alimento básico. A previsão é de que a
produção de batatas até 2030 atinja 750 milhões de toneladas anuais!
Atualmente, o título de maior produtor de batatas do mundo é da China, que
responde por um terço da produção mundial: 341 milhões de toneladas anuais.
Gastronomia – Para comemorar a data que tal
batatas ao murro, receita tradicional portuguesa? Depois de cozidas, aperte ligeiramente
as batatas com a mão – é recomendável fazê-lo com um pano seco para não se
queimar – e as coloque numa assadeira com duas colheres de azeite. Tempere com alho, alecrim, pimenta-do-reino, sal e regue com mais duas
colheres de azeite. Leve ao forno pré-aquecido por 40 minutos, virando as
batatas na metade do tempo. Retire do forno e... Saboreie com peixe ou carne
bovina.
Literatura – O romance é “Quincas Borba”, de Machado de Assis (1838-1908), publicado em 1891, e a frase que sintetiza a desilusão do personagem ao reconhecer que, na vida, vence o mais forte: "Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas”.
quinta-feira, 29 de maio de 2025
A CIDADE UNIVERSITÁRIA
O município de São Paulo com seus 1.521,11
km² abriga uma cidade de 4.800 km², com prefeito, um pequeno número de
moradores e uma grande população de passagem. Por suas ruas, avenidas e praças
arborizadas circulam diariamente milhares de pessoas. Ônibus lotados e carros
nem tanto entram por um dos três portões dessa cidade. Ela tem teatro, cinema,
orquestra e coral, clube, bibliotecas, museus, hospital, farmácia, correios,
bancos, dois jornais, uma estação de rádio e outra de televisão e um centro
esportivo. E até um apiário. Enfim, quase tudo que uma cidade precisa. Pela
manhã ciclistas disputam espaço com os praticantes de corrida. Muita gente
aparece para fazer as mais diferentes atividades físicas. Não apenas
passarinhos cruzam os céus, helicópteros também adejam sobre a cobertura verde para
observar o trânsito ao redor e informar os meios de comunicação sobre os
problemas de tráfego na região.
Um lugar para se esquecer do tempo? Não é bem
assim, porque há o horário das aulas, do trabalho, das refeições e não desculpa
para atrasos, pois existem duas praças que impedem que se perca a hora: a Praça
do Relógio e a Praça do Relógio Solar. Enfim, só visitando a Cidade
Universitária Armando de Salles Oliveira (Campus Butantã) para conhecer um dos
oito campi da Universidade de São Paulo. O investimento do Estado na USP
(Decreto 29.598 de 02/02/1989 e a LDO – Lei nº 16.511, de 27/07/2017*) é de
5,0295% da arrecadação de ICMS líquido do Estado de São Paulo.
A Universidade de São Paulo foi criada em 25
de janeiro de 1934 pelo governador Armando de Salles Oliveira (1887-1945), que
no ano seguinte nomeou uma comissão, presidida pelo Prof. Reynaldo Porchat
(1868-1953), para estudar e definir a localização da Cidade Universitária para
onde seriam transferidas as diversas faculdades da USP então espalhadas pela
cidade. Porchat era santista. O campus é formado por uma área equivalente a 200
alqueires paulistas, destacada da antiga Fazenda Butantã que fora
desapropriada. Embora a decisão tenha sido tomada na década de 1940, a
Prefeitura foi criada em dezembro de 1969 para planejar e implantar a
infraestrutura do campus. O desafio coube ao professor arquiteto Luciano
Bernini, primeiro prefeito da Cidade Universitária. A denominação atual é Prefeitura Campus Capital-Butantã da Universidade de São Paulo (PUSP-CB).
Agora o passeio pela Cidade Universitária
Armando de Salles Oliveira pode começar. A maioria das ruas e praças homenageia
professores da Universidade. Algumas unidades como a Academia de Polícia, Casa
de Cultura Japonesa, Centro Tecnológico da Marinha, Instituto de Pesquisas
Tecnológicas (IPT) não pertencem à USP. Logo na entrada encontra-se a Praça
Prof. Reinaldo Porchat, com uma escultura em sua homenagem. Mais adiante fica o
Relógio Solar, criação do professor da FAU/USP, Caetano Fraccaroli (1911-1987).
É de Fraccaroli também o Monumento à Liberdade, que adorna a entrada do
Hospital Universitário – escultura de quatro metros de altura em resina e fibra
de vidro.
A Torre Universitária ou Torre do Relógio
destaca-se nesse ambiente quase bucólico: obra do arquiteto Rino Levi
(1901-1965). Ela tem painéis criados pela escultora vicentina Olga Elizabeth
Magda Henriette Nobiling (1902-1975). No entorno do espelho d’água pode-se ler
que “No Universo da Cultura o centro está em
toda a parte”, frase do professor Miguel Reale, ex-reitor da USP.
O monumento em homenagem ao arquiteto Ramos de Azevedo tem lugar especial. Obra do artista ítalo-brasileiro Galileu Ementabili, o monumento foi inaugurado em 1934 na Avenida Tiradentes, próximo à Estação da Luz, mas em 1973 teve que ser removido por causa das obras do metrô e desde então está na USP (Avenida Almeida Prado) próximo à Escola Politécnica. (Foto.)
Como em todas cidades, o campus dispõe dos equipamentos necessários para a
vida cotidiana de alunos, professores e visitantes. Alunos,
funcionários e professores podem sempre fazer refeições no CRUSP. Nos tempos em
que trabalhei no JORNAL DA USP costumava almoçar no restaurante universitário;
contudo há vários restaurantes, lanchonetes e até comida de rua tanto para o
simples café da manhã como para uma refeição diferenciada.
É
bom saber que esta cidade conta com o Hospital Universitário. O HU, como é conhecido, é um hospital-escola regionalizado e integrado ao
Sistema Único de Saúde (SUS). Em 25 de março de 1976, o então governador do
Estado Paulo Egydio Martins assinou decreto alterando o Estatuto da USP e
instituindo o HU, após aprovação do Conselho Universitário da Universidade e do
Conselho Estadual de Educação. Houve um atraso para o início das atividades do
hospital por falta de recursos financeiros, mas no dia 6 de agosto de 1981 o
Hospital começou funcionar a partir do setor de Pediatria e em dezembro do
mesmo ano foi a vez do setor de Obstetrícia e Ginecologia iniciar as suas
atividades e assim sucessivamente até completar o complexo hospitalar. Há
também uma farmácia no campus.
Arte não falta: além do
CINUSP, há os museus de Arqueologia e Etnologia, de Geociências, Oceanográfico
– a Academia de Polícia mantém o Museu do Crime. Entre as várias bibliotecas do
campus, destaca-se a Biblioteca Brasiliana Guida e José Mindlin, aberta ao
público em 2013. O Centro de Práticas Esportivas – CEPEUSP é o local onde os
alunos praticam esportes e se confraternizam.
A partir de 2008 frequentei cursos da
Universidade Aberta para Terceira idade (UNATI) nos Museus Paulista e de
Arqueologia e Etnologia (MAE); Institutos de Astronomia e Geofísica, de Estudos
Brasileiros, Química, de Biociências e de Medicina Tropical, Faculdades de
Economia e de Educação.
O campus Butantã
fica afastado do Centro, mas dispõe de um bom serviço de ônibus, metrô (Linha
Amarela) e trem (9 – Esmeralda).
domingo, 25 de maio de 2025
HOJE TEM TICO-TICO NO FUBÁ
José
Gomes de Abreu ou simplesmente Zequinha de Abreu (1880-1935) é um dos músicos e
compositores brasileiros que faz sucesso internacional desde os anos 1940. E
por incrível que pareça foi a organista Ethel Smith (1902-1996) quem tornou o
chorinho “Tico-tico no Fubá” num sucesso, quando o interpretou no filme Bathing
Beauty (1944), estrelado por Esther Williams. O disco que ela gravou chegou a
alcançar o 14º lugar nas paradas de sucesso em novembro daquele ano e vendeu
dois milhões de cópias em todo mundo. Em 1945 Carmen Miranda, que já trabalhava
nos Estados Unidos, gravou o chorinho “Tico-tico no Fubá” com letra de Aloísio
de Oliveira (Bando da Lua) e em 1947 interpretou a música no filme “Copacabana”,
dirigido por Alfred E. Green.
Este
foi o início da carreira internacional da música, que foi gravada pelo
violonista espanhol Paco de Lucia (1967), pelo violista italiano Marco
Misciagna (2024), pelo guitarrista brasileiro
Raphael Rabelo em (2024), pelas orquestra Filarmônica de Viena, regida pelo
maestro Gustavo Dudamel e pela Filarmônica de Berlin, regência do maestro Daniel
Barenboin entre outros.
Zequinha de Abreu nasceu em Santa Rita do Passa Quatro, São Paulo.
Link para ver Carmen Miranda interpretando o chorinho no filme que estrelou com Groucho Marx (1890-1977):
https://youtube.com/shorts/pwTip5AKuT0?si=0hgCo2aU6qF4-JoN
sexta-feira, 23 de maio de 2025
A NOVA ARQUEOLOGIA
A Prefeitura está fazendo obras de infraestrutura no Centro Histórico. Outro dia achei que garimpeiros tinham se instalado na Rua Barão de Paranapiacaba atraídos pela alcunha de “rua do ouro”. Escavada do começo ao fim, homens trabalhavam no subsolo reformando a infraestrutura. Debruçados nos cavaletes que fechavam a rua, pedestres desocupados e o pessoal que distribui cartões das lojas de compra e venda de ouro observavam a obra. Sobrou uma nesga de calçada para os pedestres e comerciantes. Agora é a vez da Rua XV de Novembro. A Rua Padre Anchieta e a Praça Manuel da Nóbrega estão prontas. Todas essas obras no subsolo resultaram num achado arqueológico ao lado da Ladeira General Carneiro. Quando fui espiar o que tinham encontrado me deparei com trilhos de bonde. Trilhos de bonde já são arqueológicos? E eu que andei tanto de bonde... Como dizem os gaúchos: Barbaridade!
quarta-feira, 14 de maio de 2025
ESTRADA DO SOL
É
DE MANHÃ
Vem o Sol
Mas os pingos da chuva
Que ontem caiu
Ainda estão a brilhar
Ainda estão a dançar
Ao vento alegre
Que me traz esta canção...
Tom Jobim e Dolores Duran.
Há algum tempo comecei a fotografar o amanhecer
da minha janela. Levanto cedo todos os dias. Questão de hábito. Abro as janelas
e há sempre um novo espetáculo protagonizado pelo Sol e a coparticipação de
nuvens e um toque dos ventos, o que resulta num chiaroscuro único, no
pequeno espaço que me sobra do lado Leste da minha rua. Moro no quinto andar e
a copa das árvores dão um toque especial nesse quadro matinal.
Para as imagens que selecionei das minhas
manhãs, escolhi “Estrada do Sol”, na voz deliciosa de Agostinho dos Santos (1932-1973),
um dos meus cantores preferidos.
domingo, 11 de maio de 2025
“A XÍCARA DA HUMANIDADE"
“O chá era a princípio um remédio e se transformou
em uma bebida. Na China do século VIII, entrou para o campo da poesia como um
entretenimento refinado. O século XV viu o Japão elevá-lo à categoria de
religião estética, ou seja, à de ‘chaísmo’. O ‘chaísmo’ é um culto que se
fundamenta na veneração da beleza em meio à sordidez dos acontecimentos
diários. Incute a pureza e a harmonia, o mistério da caridade mútua, o
romantismo da ordem social. É essencialmente a veneração do imperfeito, uma
tentativa singela de conquistar o possível em meio a esta coisa impossível que
conhecemos como vida.” O LIVRO DO CHÁ – tradução Leiko Gotoda.
quinta-feira, 8 de maio de 2025
VOCÊ SABE DE ONDE EU VENHO?
Há 80 anos terminava a II Guerra Mundial (1939-1945). As retaliações da
Alemanha contra o Brasil começaram em 1942, quando o governo brasileiro rompeu relações
com Itália e Alemanha. Como consequência, o Brasil teve 34
navios torpedeados e desse total apenas uma embarcação era de guerra – o “Vital
de Oliveira”, abatido em 19 de julho de 1944. Todos os demais eram da marinha mercante.
Esses ataques causaram a morte de 1.081 pessoas.
A COBRA
VAI FUMAR – A mobilização fora decretada em 1942, mas a convocação só aconteceu
em 1943, com a criação da Força Expedicionária Brasileira – FEB. A demora para a decisão de embarque da força
expedicionária para a Europa por uma série de problemas políticos e de
treinamento dos pracinhas tornou-se motivo de ironia e dizia-se que era “mais
fácil uma cobra fuma do que a FEB lutar”. A chacota virou desafio e o bordão
depreciativo virou grito de Guerra e um símbolo da FEB. Dos 25.334 homens
embarcados morreram 451.
O poeta Guilherme
de Almeida e o maestro Spartaco Rossi são os autores da Canção do
Expedicionário, gravada por Francisco Alves, em 1944. Em 1960, quando foi
inaugurado o Monumento Nacional aos Mortos da Segunda Guerra Mundial no
Rio de Janeiro, Guilherme
de Almeida contou que: "Era já a madrugada de 8 de março de 1944 quando escrevi a
última sextilha da 'Canção do Expedicionário'. (...) Apenas uma rapsódia. Mapa
lírico do Brasil: fragmentos de canções do povo, com que o 'pracinha' – o novo,
desconhecido soldado dos Exércitos Aliados – havia de apresentar-se a gentes
outras, terras de outrem, dizendo: Você sabe de onde eu venho?” O poeta usou
referências musicais, poesias populares e fragmentos literários que tornam o
poema comovente, o que certamente contribuiu para o grande sucesso da
música.
Você sabe de onde
eu venho?
Venho do morro, do engenho
Das selvas, dos cafezais
Da boa terra do coco
Da choupana, onde um é pouco
Dois é bom, três é demais.
Venho das praias
sedosas
Das montanhas alterosas
Dos pampas, do seringal
Das margens crespas dos rios
Dos verdes mares bravios
Da minha terra natal
Por mais terras que
eu percorra
Não permita, Deus, que eu morra
Sem que volte para lá
Sem que leve por divisa
Esse V que simboliza
A vitória que virá.
(...)
Porreta Terme, Itália: monumento em homenagem aos soldados da FEB.
(Infelizmente, o sol não ajudou na hora da foto.) 2011.
segunda-feira, 5 de maio de 2025
TACNOLOGIA FACILITANDO A VIDA
Ouço pessoas
reclamarem das tarefas domésticas cotidianas e penso que elas se queixam sem
saber do que escaparam, pois ainda em meados do século passado não dispúnhamos
de tantas facilidades como nos dias atuais. Houve uma grande evolução
tecnológica que nos livrou de coisas que para as novas gerações parecem
absurdas, mas chegaram a ser consideradas “muito práticas”.
Gosto
demais da avó das geladeiras elétricas, a chamada “caixa de gelo” porque funcionava com
uma pedra de gelo que era entregue diariamente em casa pela Fábrica de Gelo que
em Santos era na Vila Matias. Em casa tínhamos uma grande, que só foi substituída
por uma geladeira elétrica Frigidaire em 1950. Já escrevi sobre a enceradeira
de casa, igualzinha à da foto. Cresci ouvindo rádio que funcionava com válvulas
e ficava em um lugar especial na sala de visitas ao lado do qual minha avó fazia
crochê escutando a programação; tínhamos também um telefone de parede na copa, bem
mais moderninho do que o exibido no museu. Nos anos sessenta ganhei uma vitrola
portátil e um rádio Spica de pilha, que me acompanhou por muitos anos.
Os
museus guardam essas preciosidades – sim, preciosidades, inclusive muita coisa com
que a minha geração ainda conviveu já faz parte dos acervos. Um exemplo: a
máquina do cartão de crédito. O funcionamento era simples: o lojista colocava
um impresso do cartão devidamente preenchido com o valor da compra, imprimia
manualmente e o cliente assinava, ficando com uma via. Isso ainda no final do
século XX.
Museu da Energia: Alameda Cleveland, 601 - Campos Elísios.
Museu Histórico Nacional: Praça Marechal Âncora, Rio de Janeiro.
Museu Tribunal de Justiça de São Paulo: R. Conde de Sarzedas.
domingo, 4 de maio de 2025
LEMBRANÇAS
Hoje
estou me desfazendo das lembranças físicas das viagens que fiz pelo exterior –
ou seja, mapas de cidades e dos sistemas de transportes, folhetos – alguns com
anotações – dos locais que visitei: museus, igrejas, monumentos, galerias,
pinacotecas etc. Há vários que peguei na rua e nunca fui. Guardarei apenas
alguns catálogos que são muito bonitos. A caixa organizadora ainda se mantém
cheia e não me considero acumuladora...
Precisava
de um critério para a “limpeza”. Pensei no assunto e achei que o melhor seria
começar por aqueles lugares a que não voltarei. Logo me lembro da Bélgica e da
Áustria. A primeira, porque Bruxelas não me interessava, mas a velha e boa VASP, já nos
estertores da existência, oferecia a passagem mais barata para a Europa. A
segunda porque, apesar de linda, nela não me senti bem-vinda em Viena e me restou a
impressão de que o vienense carece de polidez.
Difícil
mesmo foi mexer nos guardados da Grã-Bretanha, França e Itália, países de que
gosto muito e tive a oportunidade de visitar várias vezes. Beleza, cultura, acolhimento
excepcionais. A primeira vez que vi Paris foi no outono, tempo encoberto e
frio. Achei a cidade cinza, mas aproveitei cada momento peregrinando por museus
e lugares que a História, a música e a literatura me haviam revelado. Até
estendi a visita por mais três dias. De Paris embarquei num trem noturno para
Roma (isso antes dos trens de alta velocidade). E Roma foi um deslumbramento –
sol, calor, gente maravilhosa e me descobri num museu a céu aberto. Na verdade,
a Itália foi uma paixão à primeira vista. Paris me conquistou mesmo na segunda
visita. Como não sabia se haveria outra chance de voltar à Europa, escolhi
cuidadosamente os lugares que eram essenciais para mim. Na Itália, fui a Pompeia,
Veneza e Florença. Beleza de tirar o fôlego. Próxima parada: Grécia – Atenas e
algumas ilhas. Descobri a Grécia ainda na infância com a turma de Monteiro
Lobato, que vivia no Sítio do Pica-pau Amarelo. Valeu cada minuto!
Como
acumulei tanta papelada? Quando pude, voltei à França, Itália e Grã-Bretanha –
meus roteiros sempre foram baseados principalmente em História e minha
curiosidade por conhecer os principais museus do mundo (faltou o Hermitage). E
a papelada foi aumentando... Sem contar os caderninhos, diários de viagem, com
anotações sobre coisas que não lembro. Idade? Não, as coisas anotadas não
deviam ser relevantes; entretanto, recordo-me de coisas banais, pessoas e
lugares que deixaram impressão forte.
Aprendi
muito observando, mas também com pessoas que ajudaram a achar um endereço,
indicaram um caminho melhor e até me pediram ajuda. Viajar sozinha foi um
desafio que me impus – como eu reagiria em situações difíceis, sem conhecer
idiomas, lugares e sem a proximidade de amigos (à distância tive muito apoio).
Para minha surpresa acho que me saí muito bem. Me perdi, me achei, briguei,
bati boca com um espertalhão que me seguiu em Atenas e, muito antes da invenção
da Internet, quantas vezes cheguei a cidades sem reserva de hotel confiando nos
escritórios municipais de apoio ao viajante que faziam booking na hora,
forneciam mapas e ainda desejavam uma feliz estadia (nem todos).
Passei
o sábado viajando... Viajando no tempo.
quarta-feira, 30 de abril de 2025
TRABALHO CAPRICHOSO
Ele cuida da limpeza do vidro e para que as pessoas possam admirar o cenário e fazer fotos. Fica de plantão observando o movimento e, faz-se então uma pausa, para ele limpar as digitais deixadas pelos visitantes mais entusiasmados com essa visão de uma parte do Centro Histórico de São Paulo... À esquerda do Vale do Anhangabaú, vê-se o Edifício Martinelli e o Edifício Matarazzo, sede da prefeitura, com seu jardim suspenso. No centro, o edifício o prédio CBI Esplanada, que deixa apenas uma nesga do Teatro Municipal à vista. À direita o centenário prédio dos Correios. Sampa Sky, 24 de julho de 2023. Foto: Hilda Araújo.
segunda-feira, 28 de abril de 2025
O CALCETEIRO
Há
alguns anos eu atravessava a Praça Ramos de Azevedo quando o vi trabalhando na
calçada. Um calceteiro! Lembrei-me dos tempos de Santos, onde vi pela primeira
vez o trabalho minucioso desses homens que revestem calçadas com pedras
portuguesas – pedrinha por pedrinha, formando desenhos que admiramos sem
lembrar quem os executou. Uma profissão em extinção pelo que observo atualmente
no Centro Histórico de São Paulo, onde placas de concreto cinzentas cobrem os
calçadões reformados – seguras para os pés apressados do paulistano, porém,
monótonas para os olhos que passeiam pela paisagem.
As
calçadas portuguesas estão desaparecendo silenciosamente. O chão calcetado é
usado desde a Antiguidade, mas a calçada portuguesa data do século XIX e é uma
arte genuinamente lusitana e que faz parte do patrimônio cultural de Portugal. A
Praça do Rossio foi a segunda área de Lisboa ganhar uma calçada portuguesa,
iniciativa que se espalhou pela cidade, pelo país e pelas colônias.
A
Câmara de Lisboa criou em 1986 a Escola de Jardinagem e Calceteiros para renovar o efetivo de profissionais
municipais e preservar e divulgar o calcetamento. Na escola, homens e
mulheres aprendem a “arte de calcetar ao quadrado, o desdobrar da pedra e o
malhetar”, expressões comuns entre os mestres calceteiros. As pedras usadas são
geralmente de calcário branco e preto ou basalto; encontram-se também o
vermelho e o verde. As cores tradicionais são o preto e o branco.
Anotei o nome do calceteiro que
trabalhava na Praça Ramos, mas infelizmente o papelzinho perdeu-se.
A Escola de Calceteiros funciona na Avenida Dr. Francisco Luís Gomes 1800, no Arroios, Lisboa.
domingo, 27 de abril de 2025
O JARDINEIRO
Os jardineiros em São Paulo têm um trabalho inglório: nas praças e nos parques lineares, plantam flores e plantas ornamentais com muito cuidado. Deixam a cidade bonita, com muito colorido; porém, infelizmente, uma parte da população ignora esse trabalho e insiste em fazer dos jardins da cidade sua lata de lixo. Mas, como dizem os poetas
"SEGUE o teu destino,
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
De árvores alheias.
A realidade
Sempre é mais ou menos
Do que nós queremos.
Só nós somos sempre
Iguais a nós-próprios.
(...)."
Ricardo Reis (heterônimo de Fernando Pessoa).
Praça Marechal Deodoro, na Barra Funda: a escultura de Murilo Vaz Toledo faz parte de um conjunto em homenagem aos trabalhadores terceirizados
de São Paulo.
O GARI
Quase ninguém sabe quem ele é, entretanto,
milhões de pessoas falam seu nome diariamente pelo Brasil. Era francês; na década
de 1870, ainda bem jovem veio para o Brasil, estabelecendo-se no Rio de Janeiro
onde criou uma empresa de limpeza – aliás, como bom observador, percebera que limpeza
não era exatamente uma qualidade da cidade. Quando o lixo se tornou um sério
problema de saúde pública, o Ministério do Império instituiu a limpeza
sistemática das ruas Rio e no dia 10 de outubro de 1876 foram
contratados os serviços de Aleixo Gary para cuidar da limpeza pública do Rio de
Janeiro e transportar todo o lixo para a ilha de Sapucaia, na baía da Guanabara.
Os trabalhadores da limpeza eram populares na cidade e os cariocas referiam-se
a eles como os “os meninos de Gary” e com o tempo eles passaram a ser chamados apenas
de “Garys”. O nome se popularizou. Essa é a origem da palavra
gari – um ótimo exemplo de metonímia para as aulas de Português da garotada.
O contrato de Aleixo Gary durou até 1891 – já no período republicano, mas o pessoal da limpeza pública continua firme e forte até hoje levando, sem saber, o nome dele pelas cidades brasileiras num trabalho sem fim, já que as pessoas continuam ignorando as boas maneiras e jogando o lixo onde não deve. No Dia do Trabalho, uma homenagem a esses trabalhadores anônimos que participam de nossas vidas e que a maioria da população nem um bom dia lhes deseja. A escultura faz parte de um conjunto em homenagem aos trabalhadores terceirizados de São Paulo, na Praça Marechal Deodoro, obra de Murilo de Sá Toledo.
Em tempo: as ilhas de Sapucaia, dos Pinheiros, de Bom Jesus e do Fundão foram aterradas na década de 1940 para a construção da Cidade Universitária.
Foto: Otávio Ástor Vaz Costa.
sábado, 26 de abril de 2025
RUAS DE DICKENS
“Poucos
de nós compreendemos a rua. Até quando pisamos nela, pisamos desconfiados, como
se entrando numa casa ou numa sala em que há estranhos. Poucos de nós vemos através
do luminoso enigma da rua, as estranhas pessoas só pertencem à rua – caminhante
da rua ou o árabe da rua, os nômades que sob a luz do sol, geração após
geração, guardaram seu antigo segredo. Sobre a rua noturna muitos de nós
sabemos ainda menos. A rua noturna é uma grande casa trancada. Mas se alguém jamais
teve a chave da rua, essa pessoa é Dickens. Suas estrelas eram as luzes da rua,
seu herói era o homem da rua. Ele podia abrir a porta mais interna da sua casa –
a porta que leva ao corredor secreto ladeado de casas e tem um teto de estrelas.”
G. K. Chesterton (1874-1936).
Charles
Dickens é um dos meus escritores favoritos. Na adolescência deliciei-me com os livros
dele. Li uma biografia resumida em algum dos cursos de inglês que frequentei e
só agora soube que ele era um caminhante prodigioso, de acordo com Merlin
Coverly, escritor e livreiro britânico, adepto da psicogeografia. Esta é outra
novidade para mim – a Psicogeografia definida como "o estudo das leis precisas e dos efeitos específicos do
ambiente geográfico, conscientemente organizados ou não, sobre as emoções e o
comportamento dos indivíduos". (Leis precisas num tema como esse me
parece algo exagerado.)
Coverly, citando outros autores, conta que Dickens em uma carta escreveu que se não pudesse caminhar rápido e até a um lugar distante, explodiria e morreria”. Em seus romances há muitas cenas de caminhadas por Londres, protagonizadas pelos habitantes sofridos da cidade, uma tentativa de “explicar a metade que caminha para a metade que anda sobre rodas”. O escritor britânico diz que apenas em “A loja de antiguidades” (1841) um personagem faz uma longa caminhada fora de Londres.
Há pesquisas bem estranhas, como a do escritor britânico Miles Jebb (1930), que compilou as andanças dos personagens de Dickens: Oliver Twist andou 20 milhas para roubar uma casa Chertsey; David Copperfield andou 23 milhas de Blackheath até Chatham e de outra vez andou 25 milhas do Pickwick Club (que financiava viagens pelo interior da Inglaterra); a fuga de Nickleby e Smike de Dotheboys Hall em Yorkshire para Londres; e a caminhada de Chuzzlewit e Pinch para jantar em Salisbury. Se alguém quiser conferir...
terça-feira, 22 de abril de 2025
ERRO DE PORTUGUÊS
Oceano Atlântico, 22 de abril de 1500. O grumete balançando na gávea da caravela gritou “Terra à vista”. Foi aí que tudo começou – Pindorama, Santa Cruz e Brasil...
"Quando o
português chegou
Debaixo de uma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena!
Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português."
"Erro de Português" –-Oswald de Andrade.
LEGENDA DO PAINEL
"Na década de 1440, surgem as primeiras referências a “caravelas
de descobrir” a qual passa a ser o principal tipo de navio utilizado pelos
exploradores portugueses nas seguintes décadas do século XV.
Navio robusto, apresentando excelentes qualidades náuticas,
o seu tamanho acompanhou as viagens que se tornaram cada vez mais longas,
passando de dois para três mastros de pano latino (velas triangulares), que lhe
permitiam navegar mesmo com ventos contrários (bolinar).
Mais tarde, a partir de 1500, surge um novo tipo de navio, a “caravela redonda” ou “de armada”. Trata-se de um tipo distinto de navio, destinado ao apoio das grandes naus de viagem ou à guerra do mar. Com aparelho misto de pano latino e redondo (vela quadrangular) no traquete (mastro de vante), o que lhe confere maior velocidade e manobrabilidade, características necessárias àquelas funções." Museu da Marinha, Lisboa, 2023.
Bolina – navegação com vento lateral. (Dic. Michaelis)
segunda-feira, 21 de abril de 2025
FELIZ PÁSCOA
TODO ANO É A MESMA COISA: AS GALINHAS PÕEM OVOS E OS
COELHOS LEVAM A FAMA.