domingo, 14 de dezembro de 2025

ALEXINA E OS PURITANOS


Filha de cafeicultor, quando completou vinte anos, Alexina Magalhães Pinto (1870-1921) deixou Além Paraíba (MG) e foi descobrir a Europa. Sozinha. Aproveitou a viagem para fazer vários cursos e, quando voltou, trouxe na bagagem uma bicicleta. O veículo só deu aborrecimentos à Alexina, que pedalava por São João Del Rey, usando calças compridas – o que a cidade considerou uma afronta e o bispo de Mariana, caso de excomunhão. Alexina estava acima dessas futricas. Ingressou no magistério e lecionou na Escola Normal de São João Del Rey, mas em 1886 pediu exoneração e mudou para o Rio de Janeiro, onde foi convidada a lecionar. Alexina escreveu vários livros de cunho pedagógico e sobre as raízes brasileiras – cantigas de roda e brinquedos, sendo considerada a primeira folclorista brasileira. Ela morreu em um acidente de trem aos cinquenta anos. Há vários trabalhos importantes publicados sobre o papel dela como educadora.

    Lembrei-me dela quando revi a foto da pintura de Jean Béraud (1849-1935) em que ele registrou as pioneiras do ciclismo em momento de descanso em um café no Bois de Boulogne em Paris. A pintura é do início do século XX. Imagino que Alexina tenha trazido modelos franceses como esses para pedalar por aqui. Que escândalo!😉

“Le Chalet du Cycle au Bois de Boulogne". C. 1900.




sexta-feira, 12 de dezembro de 2025

FUTURAS LEMBRANÇAS

 


Você olha o cometa, acha bonito e, quem sabe, pensa que no próximo mês já estará esquecido por todos. Não é verdade. Cena rápida. Mãe e filha saíram do Shopping Light. A mãe parou, pediu para a filha ir para a frente da “estrela”, afastou-se e orientou a menina para fotografá-la. Examinou o celular, aprovou o resultado e as duas de mãos dadas caminharam pelo Anhangabaú. Daqui há muitos anos uma moça ou uma senhora olhará a foto e lembrará os bons momentos de uma noite que passaram juntas. 1º de dezembro de 2025.


quinta-feira, 11 de dezembro de 2025

PIQUERI, HERANÇA DO CONDE

 

Difícil percorrer São Paulo sem esbarrar em algum legado de Francesco Antonio Matarazzo (1854-1937), o empresário e industrial ítalo-brasileiro que foi um dos homens mais ricos do mundo: ao morrer tinha uma fortuna estimada em vinte bilhões de dólares, que correspondem nos dias atuais a mais de 440 bilhões de dólares. Em 1927 Francesco ou Francisco Matarazzo comprou um terreno de 250 mil m² no Tatuapé, então zona rural de São Paulo, para construir uma casa de campo. Nos tempos coloniais, aquela região junto ao rio Tietê, era habitada pelos índios Piqueri, nome que a população manteve ao longo dos séculos. Piqueri em Tupi significa “rio de peixes miúdos”.

            A Chácara do Tatuapé, como Matarazzo a denominou, tinha o estilo do conde (nessa altura ele já recebera o título do rei da Itália): uma bela casa, criação de cavalos argentinos, búfalos americanos e gado bovino. Como na época o Tietê ainda seguia o curso natural, uma de suas curvas adentrava a propriedade, o que proporcionava passeios de barco – dessa época restam apenas os vestígios de um ancoradouro. Em 1934 quando Matarazzo completou oitenta anos o jornalista Assis Chateaubriand (1892-1968), proprietário dos Diários Associados, visitou a Chácara e publicou uma reportagem na revista CRUZEIRO bem ao seu estilo, ou seja, parecia uma homenagem ao octogenário, mas era mais uma de suas investidas cheias de más intenções. O lado bom é que as fotos registraram a beleza do lugar. Na década de 1950, a família decidiu desfazer-se da propriedade e em 1971 após várias negociações a área foi declarada de utilidade pública e em 1976, desapropriada. Com a justificativa de que o Tatuapé tinha pouca área verde, em 16 de abril de 1978 a prefeitura criou o Parque Municipal do Piqueri.

Dos tempos de Matarazzo restou apenas a casa do administrador da Chácara, o italiano Saulo Carpinelli, onde foi instalada a administração do parque. O imóvel é tombado. O parque tem muitas atrações. O frequentador dispõe de múltiplas escolhas: pista do cooper, bicicletário, campo de futebol, quadras poliesportivas, playground e até cancha de bocha entre outros equipamentos de lazer.  Para o público mais contemplativo, a flora é bastante diversificada e os destaques são o bosque de sibipirunas, bambuzais, jacarandá-mimoso, paineira, cedro e pau-brasil entre outros. A fauna também é bem variada. Há oitenta espécies – desde pica-pau, sabiá até gavião-carijó. Já viu um ouriço-cacheiro? Uma boa oportunidade para conhecer esse mamífero que vive no parque.

 

Francesco Matarazzo.


PARQUE MUNICIPAL DO PIQUERI: Rua Tuiuti, 515. Foto: site da Prefeitura de São Paulo.

Metrô: Linha 3 – Vermelha, Estação Tatuapé. No Terminal  de Ônibus consultar linha mais adequada.


 


domingo, 7 de dezembro de 2025

CASA DO TATUAPÉ

 

Rua Guabiju, 49. Tatuapé.

Minha incursão pela Zona Leste continuou com uma visita à Casa do Tatuapé, uma herança dos tempos coloniais. O imóvel construído em meados do século XVII, provavelmente entre 1668/1698 em taipa de pilão, é “o testemunho da primeira configuração urbana implementada naquela área da cidade”, de acordo com a Prefeitura de São Paulo. Ela está localizada na Rua Guabiju, 49 e, para quem não tem carro ou outro veículo, o passeio começa na Estação Tatuapé onde, no terminal de ônibus, embarca no ônibus da linha Jardim Brasil e pede ao motorista para descer entre a Rua Ulisses Cruz e Avenida Celso Garcia e caminhar uma quadra até a Guabiju, primeira travessa da Ulisses Cruz.

            O terreno pertenceu ao padre Matheus Nunes de Siqueira, como o religioso contava com Mathias Rodrigues da Silva para administrar seus bens, a construção da casa é creditada a ele. Na primeira metade do século XIX, começou a funcionar no sítio uma olaria que fabricava apenas telhas; em 1880, a proprietária do imóvel Antônia Maria Quartim casou-se com o imigrante italiano Basílio Pacini, que passou a produzir também tijolos. Em 1945 com a morte de Elias Quartim de Albuquerque, a propriedade foi vendida para a Tecelagem Textilia S/A e logo começou o loteamento da área, sobrando apenas a casa seiscentista. No mesmo ano, começou o processo de tombamento da Casa pelo IPHAN. Nos anos 1980, sob a responsabilidade do Departamento do Patrimônio Histórico, em conjunto com o Museu do Ipiranga (USP) foram realizadas pesquisas arqueológicas. Posteriormente, foi iniciado o restauro da casa – reconstituição de paredes que ameaçavam desabar, madeiramento e telhado, além de janelas, balaústres e portas almofadadas. O piso de um dos cômodos foi mantido em terra batida para realçar as características originais.

Muito bem conservada, a casa museu fica no meio de um jardim, tem seis cômodos, alpendre reentrante (corredor) e dois sótãos e tem telhado de duas águas. O visitante pode observar a técnica da construção de taipa de pilão em uma parede sem acabamento. O sistema ainda é adotado por causa da adequação térmica, custo e sustentabilidade.

Parede de taipa de pilão.


Sótão. O telhado e o chão de madeira corrida.


"Morador".



sábado, 6 de dezembro de 2025

NATAL ILUMINADO

   

Foto: divulgação SPTrans.

A Prefeitura paulistana criou uma linha noturna de ônibus para quem desejar ver a decoração das vias públicas para as festas de final de ano. O ônibus também é decorado, o que não só ajuda a identificá-lo como também ajuda a amenizar os congestionamentos que, ultimamente, se generalizam pela cidade. Eu já havia ido por minha conta ao Centro, mas não fiz o roteiro completo – caminhei apenas da Praça da República e Anhangabaú até a Sé (decoração muito bonita). Gostei da ideia do ônibus e ontem no início da noite fui para o Terminal Parque D. Pedro II.

Meses atrás, por falta de opção, peguei um ônibus que para o Terminal D. Pedro II e de lá fui para a Sé. Nem lembrava se alguma vez havia estado no Terminal, embora o veja sempre à distância. É imenso, com intenso movimento (nem era horário do rush) e tive que perguntar onde era a saída. Lá fora atravessei uma imensa feira – frutas, verduras, laticínios, roupa e que tais – para sair no início da Rua Vinte e Cinco de Março. Limpeza? Deixa para lá!  Decidi subir a Rua Bittencourt Rodrigues em direção à Praça da Sé.

Ontem, muito esperta, após seguir as indicações visuais, fiquei sabendo que teria de tomar um ônibus para o Terminal! Como assim? Pode-se ir a pé, como explicou o funcionário, ou fazer a conexão com o veículo do Expresso Tiradentes, direção Mercado. Chegaram três senhoras. Via-se claramente que viviam a experiência popular pela primeira vez. Eu já escolhera o Expresso Tiradentes, conhecido de um passeio pelo Sacomã, e quando aconselharam as senhoras a ir caminhando, intimamente, desejei-lhes boa sorte, pois o entorno não é agradável.

No Terminal, encontrei logo a plataforma e o local onde Papai Noel iria estacionar o ônibus para o embarque dos passageiros. Havia apenas uma senhora no ponto e esperava as amigas – mais três que chegam em seguida. Vários minutos depois chegaram as senhoras que encontrara no metrô. “Vieram a pé?” – perguntei. Tiveram bom senso e pegaram o Expresso.

O ônibus chegou pontualmente. Detalhe: Papai Noel, que era bem jovem e não tinha barba, dirigia o possante. O cobrador não se fantasiou e dormiu boa parte do percurso; porém, estava acordado quando, na Avenida Paulista, uma equipe de TV (provavelmente da Gazeta) fez uma rápida entrevista com Papai Noel – sim, ele estava apreciando a experiência; sim, o público estava se divertindo bastante etc. e tal. Quando Papai Noel prosseguiu a viagem, o cobrador se queixou por não ter sido entrevistado também. Uma senhora ao entrar dá parabéns ao Papai Noel, que agradece polidamente.

A viagem foi bem agradável. Do que eu gostei? De rever lugares por onde não passava havia anos – como Avenidas Brasil e Nove de Julho. Os lugares que achei mais bonitos: Largo de São Bento, Avenidas Paulista e Vinte e Três de Maio, e Ibirapuera.

PARQUE D. PEDRO: O ônibus
NATAL ILUMINADO sai da plataforma 6, nicho 60, de meia em meia hora a partir das 18 horas até as 23h30. O percurso dura cerca de duas horas. E o ideal é pegar o segundo horário, quando já está mais escuro. Passagem: R$ 5,00. Maiores de sessenta anos não pagam. É possível tomar o ônibus no percurso.

Prefeitura. 1/12/2025.

                                                            Shopping Light1/12/2025.





quarta-feira, 3 de dezembro de 2025

GRINALDA-DE-NOIVA



Nunca se toma banho no mesmo rio, diz o provérbio. Não importa quantas vezes você passe pelo mesmo lugar porque ele nunca é igual ao dia anterior. Quantas vezes percorri a Rua Vergueiro, entre a Vila Mariana e o Paraíso, sem reparar na árvore que ontem me surpreendeu por sua beleza! Como a árvore fica ao lado de um restaurante onde às vezes almoço, entrei para perguntar aos proprietários, se eles sabiam o nome daquela maravilha. A dona lembrava apenas que era cássia alguma coisa. Prometi pesquisar e agradeci. Trata-se de uma Cassia leptophilla, mas em alguns lugares é conhecida como grinalda-de-noiva, um nome perfeito pois as flores, que exalam um perfume característico, formam pequenas coroas. Aqui no Sul, floresce na época de natal.

É conhecida também como barbatimão. 





terça-feira, 2 de dezembro de 2025

DESCOBRINDO O TATUAPÉ

 

O nome do bairro sempre me atraiu – em Tupi significa caminho dos tatus, mas há quem acredite que se refere a um hábito da população colonial de caçar tatu a pé; entretanto, quando descobri que o primeiro explorador da região foi o português Brás Cubas, fiquei muito mais interessada. O motivo é simples: Brás Cubas foi o fundador da cidade de Santos (SP) em 1534, principalmente porque notou as qualidades do porto abrigado para a exportação do açúcar produzido nos engenhos da Vila de São Vicente – o primeiro município do Brasil, instalado por Martim Afonso de Souza.

Mais interessante ainda é o fato de que Brás Cubas – um empreendedor incomum – deixou a vila de Santos com uma pequena expedição em busca de ouro no Planalto, seguiu até a foz de um riacho denominado Tatu-ape onde encontrou o Rio Grande, como era conhecido o rio Tietê. Brás Cubas gostou do que viu e ali o grupo se estabeleceu, iniciando a criação de animais e o plantio de diferentes cultivares, além da cana-de-açúcar. E a novidade foi a introdução da parreira. Mais uma vez Brás Cubas acertou: a uva produzia um bom vinho, que se tornou popular e, com o tempo, tanto a viticultura (produção de fruta) quanto vinicultura (produção de vinho) se desenvolveram e ganharam prestígio. Em tempos mais recentes o italiano Francesco Marengo (1875-1959), estabelecido em São Paulo, foi um grande produtor de uvas premiadas pela excelente qualidade.

A ocupação da região cresceu a partir do século XVII, quando os herdeiros venderam as terras para o padre Mateus Nunes de Siqueira que se tornou o proprietário da Fazenda Tatuapé. Daqueles tempos restou a casa de taipa de pilão do administrador da fazenda Mathias Rodrigues da Silva, que acabou servindo de pouso para os tropeiros de passagem por ali. Ela é a mais antiga casa bandeirantista paulistana.

O Tatuapé é um bairro em plena ascensão. Com quase cem mil habitantes, um Índice de Desenvolvimento Humano bastante elevado (0,936), vem atraindo grandes construtores que estão investindo em condomínios de alto padrão (não necessariamente bonitos). O chamariz são os edifícios Figueira Altos do Tatuapé e Platina 220, que estão entre os mais altos da cidade. 

Dezembro começa numa segunda-feira com jeito de verão e a Praça Silvio Romero tem bancos convidativos e o arvoredo oferece sombra para quem quer descansar ou aproveitar esse conforto singelo para fazer negócios. Caso dos dois homens indiferentes à paisagem: um perdido em pensamentos (acho) e o outro falando ao telefone. 

A praça ganhou árvore de natal e enfeites típicos da época. A Igreja Nossa Senhora da Conceição domina a praça. Ela foi construída no local da antiga capela do século XIX, erigida em terras do tenente Luís Americano que doou um terreno de 7.500 m² para a Igreja com a condição de que ali fosse construída uma igreja em louvor à santa de sua devoção. Em 1931 a Prefeitura mudou o nome do Largo da Conceição para Praça Sílvio Romero – uma homenagem ao escritor e político maranhense.

Os amantes de esporte contam com o Parque Municipal do Tatuapé Sampaio Moreira que tem quadra de futebol, quadra de basquete, academia ao ar livre e pistas para bicicleta, skate, correr ou caminhar. Rua Monte Serrat, 230. No Parque do Piqueri (97 mil m²) há 116 espécies de fauna – de peixes até aranhas, sapos-cururu e lagartos em meio à vegetação. Há uma alameda com sibipirunas, uma área reflorestada com eucaliptos e um bosque com árvores nativas. Além do contato com a natureza, os visitantes aproveitam vários equipamentos para prática de esportes. Rua Tuiuti, 515.

Essa região é servida pelo Metrô Tatuapé (Linha 3 Vermelha com transferência para a CPTM 11 e 12); e Carrão (Linha 3 Vermelha). O Complexo Comercial Tatuapé, formado pelos Shoppings Metrô Tatuapé e Boulevard Tatuapé – interligados pela passarela da estação do metrô –, têm quinhentas lojas, treze salas de cinema, duas praças de alimentação e três mil vagas de estacionamento. Cerca de 25 linhas de ônibus atendem o Terminal.

Umas gotinhas de chuva começam a cair. Esperança de que a chuva amenize o calor. Algumas pessoas correm. Acho que são precipitadas e decido caminhar até o metrô.

Praça Sílvio Romero.

GRANDES E FEIOSOS
                                             Ao fundo, o Platina 200, Rua Bom Sucesso



Edifício Figueiras Alto do Tatuapé. Rua Itapeti, 141.


sábado, 29 de novembro de 2025

AMIGO DA ONÇA

 

Aviso no computador: Pesquisar Dia Internacional da Onça-Pintada. Como sou do contra, resolvi homenagear o Amigo da Onça, aquele personagem de língua ferina que sabia como arruinar um momento importante das pessoas com uma pergunta insidiosa e um olhar cínico estampado no rosto peculiar. Um personagem que destruiu psicologicamente seu criador, o cartunista pernambucano Péricles de Azevedo Maranhão (1924-1961) que se suicidou aos 37 anos no dia 31 de dezembro de 1961. Péricles desenhou o personagem, publicado pela revista semanal CRUZEIRO (Diários Associados, Assis Chateaubriand) por dezessete anos. Carlos Estevão (1921-1972) deu continuidade ao trabalho de Péricles.








Carlos Estevão (1921-1972) deu continuidade ao trabalho de Péricles.



quinta-feira, 27 de novembro de 2025

PAUL VALÉRY

 

Santos (SP) a partir do Monte Serrat.

“Já não sei e me pergunto, em meio a meus anéis de fumo, se irei esta tarde ao mar, através das árvores, ou até o monte carregado de rochas, ou então visitar alguns amigos em suas moradas; ou se deixarei puramente escorrer o bom tempo límpido, toda a massa do começo da tarde lento e tépido até a sua última luz? Oscilo, pinto-me o possível e apago. Digo-me sem querê-lo que os animais não o fazem nada mais que o útil. Até suas brincadeiras são justos dispêndios. Mas nós, o excesso de espírito turva e difere, com sua duração, todas as contas de nossa vida. Ganhamos, perdemos tempo, nosso saldo nunca é nulo. Sonho com essa moeda estranha. Ouço uma água que silva e segue não sei onde; um martelo não sei onde que martela não sei o quê...”

ALFABETO, do poeta e filósofo francês Paul Valéry (1871-1945). Tradução: Tomaz Tadeu.

“Je m’interroge au milieu de ma fumée si j’irai tantôt vers la mer à travers les arbres, ou sur le mont accablé de roches, ou bien visiter quelques amis dans leurs demeures; ou si je laisserai couler purement le beau temps limpide, toute la masse de l’après-midi lente et tiède jusqu’à sa dernière leur? Je varie, je me peins le possible et j’efface. Je me dis sans le vouloir que les bêtes ne font rien que d’utile. Même leurs jeux sont de justes dépenses. Mais nous, Le trop d’esprit trouble et differe tous les comptes de notre vie avec sa durée. Nous gagnons, nous perdons du temps, notre solde n’est jamais nul. Je rêve a cette monnaie étrange. J’entends une eau qui chuinte et se suit je ne sais où; un marteau je ne sais où qui martèle je ne sais quoi...”

quarta-feira, 26 de novembro de 2025

VIRIATO CORREIA

 

Depois de passar a manhã tentando falar com a atendente eletrônica da Comgás, que não entende o que eu preciso, à tarde fui à Biblioteca Viriato Correia, na Vila Clementino, que só conhecia de passagem. Uma surpresa agradável. Ela é ampla, com farta luz natural e muito convidativa. No momento, tem uma exposição dos trabalhos realizados pelos alunos das seis Escolas Municipais de Iniciação Artística, voltadas para crianças de cinco a treze anos. De acordo com a Prefeitura, o projeto dessas escolas é conduzido por corpo docente composto por artistas e educadores e integra música, dança, teatro e artes visuais em processos criativos. As escolas estão localizadas nas Zonas Norte (Brasilândia), Oeste (Chácara do Jockey), Leste (Chácara das Flores), Noroeste (Perus) e Sul (Parelheiros).

            No início, achei estranhas as obras expostas, mas soube que desde 2008 a biblioteca tem como tema a literatura fantástica.  Confesso que achei muito melhores os trabalhos da garotada do que alguns que tenho visto em espaços nobres da cidade.

Criada em 1952, a Biblioteca Infantil da Vila Mariana ocupou por uma década um sobrado na Rua Domingos de Moraes até mudar em 1962 para o prédio moderno e adequado à finalidade na Rua Sena Madureira, 298. O projeto é do arquiteto José Augusto Barros Arruda. Em 1969, a biblioteca ganhou o nome do escritor maranhense Manuel Viriato Correia Baima do Lago Filho, ou seja, Viriato Correia (1884-1969), um mestre da literatura infantil.

            Não foi por acaso que fui até lá. Há tempos quero ler “O Teorema do Papagaio”, do escritor francês Denis Guedj, e que só está disponível para empréstimo lá. Saí muito satisfeita com o atendimento e com tudo o que vi.

                E já que o tema é infância, fui procurar Papai Noel pela cidade.




domingo, 23 de novembro de 2025

A QUERIDA MARIA-FUMAÇA

 

TREM DE FERRO

Café com pão
Café com pão
Café com pão
Virge Maria que foi isto maquinista?

Agora sim
Café com pão
Agora sim
Voa, fumaça
Corre, cerca
Ai seu foguista
Bota fogo
Na fornalha
Que eu preciso
Muita força
Muita força
Muita força

Oô...
Foge, bicho
Foge, povo
Passa ponte
Passa poste
Passa pasto
Passa boi
Passa boiada
Passa galho
De ingazeira
Debruçada
No riacho
Que vontade
De cantar!

Oô...
Quando me prendero
No canaviá
Cada pé de cana
Era um oficiá

Oô...
Menina bonita
Do vestido verde
Me dá tua boca
Pra matá minha sede
Oô...
Vou mimbora vou mimbora
Não gosto daqui
Nasci no Sertão
Sou de Ouricuri
Oô...

Vou depressa
Vou correndo
Vou na toda
Que só levo
Pouca gente
Pouca gente
Pouca gente...

O poeta pernambucano Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho, ou simplesmente, Manuel Bandeira (1886-1968), é o autor do poema . FOTO: Museu da Imigração, 23 de novembro de 2025. Um passeio delicioso e com Vinicius, um ótimo guia.

Rua Visconde de Parnaíba, 1316 - Mooca. Perto da Estação Bresser-Mooca do Metrô. A Maria Fumaça só "trabalha" nos finais de semana. Afinal, é uma senhora centenária.

sexta-feira, 21 de novembro de 2025

ESMERALDA... QUE ATRIZ!

Esmeralda é feiosa e nada sexy.  Para nossos padrões de beleza está bem acima do peso. Tem uma boca enorme desproporcional à cabeça e ornamentada por um bigode nada discreto. A voz? Um horror – parece um velho portão enferrujado, talvez porque aprecie um bom charuto. E se move sem elegância; não dança, mas gosta muito de música. Felizmente não canta. Nas cenas em que aparece usa apenas um colar. Sim, ela não é recatada e sempre que tem oportunidade dá sonoras beijocas nos companheiros de viagem. É impossível não gostar dessa grande atriz. Esmeralda nunca leria o que acabei de escrever porque se trata de uma foca amestrada que brilha no pequeno papel que tem no filme de Disney “20 mil léguas submarinas”, baseado no livro de Júlio Verne. A foca contracena com Kirk Douglas, que canta para ela a música “A Whale of a Tale” – impagável.  

É sempre um prazer rever esse filme que mostra a genialidade do escritor francês Júlio Verne (1828-1905) e do cineasta norte-americano Walt Disney (1901-1966). O primeiro escreveu sobre máquinas “maravilhosas” que só se concretizaram no século XX; o segundo foi mestre em transformar a ficção em obras cinematográficas impecáveis.

O filme de 1954, dirigido por Richard Fleischer, venceu o Oscar de 1955 nas categorias de melhores efeitos especiais e melhor direção de arte em Cores. No elenco, além de Kirk Douglas (Ned Land) e Esmeralda (ela mesma), estão James Mason (capitão Nemo) e Peter Lorre (Counseil). Disponível para assinantes no Cinema Livre – Filmes Clássicos da Era de Ouro do Cinema. 


https://www.youtube.com/watch?v=CP3_sOEo8gg

quinta-feira, 20 de novembro de 2025

FESTA DO LIVRO DA USP

A Festa acontecerá entre os dias 26 e 30 de novembro, de quarta a sexta das 9h às 21h e no sábado e domingo das 9h às 19h, na Travessa C, situada entre a a avenida Prof. Mello Moraes e a Praça do Relógio Solar.

Linha 4 Amarela do Metrô, sentido Vila Sonia, estação Butantã; no Terminal de ônibus, linha 8022-10. No local, há várias linhas circulares para os diversos locais da Cidade Universitária. 


quarta-feira, 19 de novembro de 2025

"SALVE, LINDO PENDÃO DA ESPERANÇA"

 

Às 12 horas, os sinos da Sé tocam e acontece uma singela cerimônia promovida pelo Tribunal de Justiça de São Paulo. Dia da Bandeira.

O título é a primeira estrofe do Hino à Bandeira, composto por Olavo Bilac (1865-1918) e musicado pelo maestro Francisco Braga (1868-1945).

"Salve, lindo pendão da esperança,
Salve, símbolo augusto da paz!
Tua nobre presença à lembrança
A grandeza da Pátria nos traz.

Recebe o afeto que se encerra
Em nosso peito juvenil,
Querido símbolo da terra,
Da amada terra do Brasil!

Em teu seio formoso retratas
Este céu de puríssimo azul,
A verdura sem par destas matas,
E o esplendor do Cruzeiro do Sul.

Recebe o afeto que se encerra
Em nosso peito juvenil,
Querido símbolo da terra,
Da amada terra do Brasil!

sexta-feira, 14 de novembro de 2025

NOITE PAULISTANA

 

Ontem, para variar, fui caminhar à noite na Avenida Paulista que, em matéria de decoração natalina, está bem longe de tempos idos e vividos. Calçadas movimentadas e pistas congestionadas, forte policiamento, muitos ambulantes estabelecidos, aquele pessoal que assedia os pedestres tentando interrompê-los para ouvir alguma nova “maravilha” que vai resolver seus problemas existenciais, bicicletas circulando por onde não deviam... Na escadaria da Casper Líbero, jovens se divertiam em um evento musical (depois soube que era a final nacional de um campeonato de Tetris – jogo eletrônico). Bares lotados (como quase sempre). A ornamentação natalina é pouca – gostei do que vi no Conjunto Nacional e no Shopping Paulista (na Rua Treze de Maio). Voltarei em breve.


Uma lembrança de Tomie Ohtake e um símbolo da Paulista.

Conjunto Nacional.

Casper Libero



1313 da Avenida Paulista: FIESP.


quarta-feira, 12 de novembro de 2025

RETIRO DA SAUDADE

Há 116 anos nascia em São Cristóvão, Rio de Janeiro, o garotinho Antonio Nássara – Antonio sem o circunflexo e sem o Gabriel que ele acrescentou décadas depois. Nássara era filho de imigrantes libaneses e um dos sete filhos do casal. Demonstrou desde cedo talento para o desenho, a caricatura e a música; em 1927, ele ingressou na Escola de Belas Artes, mas deixou o curso no último ano. O talento garantiu-lhe trabalho nos principais jornais e revistas cariocas – entre os quais A NOITE, O GLOBO, DIRETRIZES, FLAN, ULTIMA HORA, CARETA, CRUZEIRO e O PASQUIM – como paginador, diagramador e caricaturista. Foi um compositor profícuo – compôs sozinho e também em parceria com grandes nomes da música popular da primeira metade do século XX – como Noel Rosa, Ary Barroso, Wilson Batista e João de Barro. Seu maior sucesso foi “Allah-la-ô, ô, ô, ô, ô, ô, ô”, em parceria com Haroldo Lobo, mas escolhi “Retiro da Saudade”, que compôs com Noel Rosa e foi gravada por Carmen Miranda e Francisco Alves em 1934.


https://www.youtube.com/watch?v=dnn8aCsdiY0

Quando por amor suspiro,
A saudade vem, então,
Encontrar o seu retiro,
Encontrar o seu retiro,
Dentro do meu coração.

Dentro do teu coração,
Não me diga que não,
Só existe falsidade,
Eis a pura verdade,
Eu já fiz um trocadilho,
Pra cantar feito estribilho,
Teu retiro da saudade.

Dentro do teu coração,
Não me diga que não,
Só existe falsidade,
Eis a pura verdade,
Eu já fiz um trocadilho,
Pra cantar feito estribilho,
Teu retiro da saudade....

 

sábado, 8 de novembro de 2025

BASTIDORES

Ontem, aproveitei o sol para refazer as fotos das esculturas das Praças Clóvis e Sé. Fazer fotos por lá é bem complicado. Sem querer flagrei um homem tomando banho. Os espelhos d’água se tornaram local de banho, lavagem de roupas e descarte de lixo
Na Sé, o monumento do Anchieta é um dos lugares preferidos para descanso (?) e observação do movimento do entorno - que não é pouco; ou dormir sossegado.



CONDOR – peça de Bruno Giorgi (1905-1993).

 
Atrás da escultura de Vlavianos há uma pessoa dormindo.


Obra de Heitor Usai (1889-1989), artista ítalo-brasileiro. Material: bronze.


A vida continua...





quinta-feira, 6 de novembro de 2025

ARTE NA SÉ E NA CLÓVIS

Se você quer conhecer obras de alguns dos mais importantes artistas brasileiros contemporâneos, alguns de renome internacional, precisa ir à Praça Clóvis Beviláqua, no Centro Histórico. Ali, espalhadas pelo jardim, há dezesseis esculturas realizadas em aço, bronze e concreto – a “Garatuja”, de Marcello Nistche (1942-2017), pode ser vista na estação do metrô.

Emblema de São Paulo: Rubem Valentim. Material: concreto armado.


Sem título, de Sérgio Camargo Material: mármore.

Nuvem sobre a cidade, de Nicolas Vlavianos (1929-2022). Material: aço inoxidável.



Obra de Joaquim Pinto de Oliveira (1711-1821), o Tebas, escravo alforriado.

AS OUTRAS ESCULTURAS

ABERTURA – obra de Amilcar de Castro (1920-2002). Material: ferro. Antes de se voltar para a arte, Amilcar de Castro foi quem introduziu a reforma gráfica do Jornal do Brasil nos anos de 1950 e em seguida reformulou a diagramação dos jornais Correio da Manhã, Última Hora, Estado de Minas e Jornal da Tarde.

CONDOR – peça de Bruno Giorgi (1905-1993). Ele nasceu em Mococa, filho de italianos, estudou em Roma e retornou ao Brasil em 1939 e integrou-se ao Modernismo. Material: bronze.

DIÁLOGO – escultura de Franz Weissmann (1911-2005). Nasceu na Áustria e chegou ao Brasil com onze anos. Formado pela Escola de Belas Artes da UFRJ. Material: aço.

EMBLEMA DE SÃO PAULO – Rubem Valentim (1922-1991), baiano, autodidata, referência no construtivismo brasileiro. Material: betão e concreto armado.

ESPAÇO CÓSMICO – Yutaka Toyota (1931). Japonês naturalizado brasileiro em 1971. Material: aço inoxidável, granito e aço.

IMPACTO – Mário Cravo Junior 1923-2018, baiano de Salvador. Material: aço inoxidável e granito.

NUVEM SOBRE A CIDADE – Nicolas Vlavianos (1929-2022). Grego naturalizado brasileiro, estabeleceu-se em São Paulo em 1960 e lecionou na FAAP.

OS PÁSSAROS – Felícia Leirner (1904-1996), artista plástica polonesa, naturalizada brasileira. Iniciou seus estudos com Brecheret aos 44 anos de idade. Em 1957 o MASP já havia incorporado obra de Leirner no acervo. Material: bronze e granito.

QUADRO NEGRO – José Resende (1945). Paulistano é um dos fundadores do Centro de Experimentação Artística Escola Brasil, foi professor da Escola de Comunicações e Artes da USP e participou de várias bienais e da Documenta Kassel 1992. Material: betão e ferro.

SATÉLITE – Francisco Stockinger (1919-2009). Artista plástico austríaco naturalizado brasileiro e que manteve intensa atividade. Material: granito e betão.

TOTEM DA SÉ – Doménico Calabrone (1928-2000) nasceu na Itália e veio para o Brasil em 1954. Material: granito, betão e mármore.

Voo – de Caciporé Torres (1935). Paulista de Araçatuba. Peça em aço inoxidável, betão e aço.


Na Praça da Sé, os destaques são o Marco Zero de São Paulo (1934), criação de Jean G Villin. Material: mármore, bronze e granito. As estátuas de São Paulo, autor desconhecido, e de José de Anchieta (1954), de Heitor Usai (1899-1989).

Marco Zero da Cidade (1934), Autor Jean G. Villin (1906-1979). Material: mármore, bronze e granito 

Apóstolo São Paulo, autor desconhecido.


1.                             Um homem dormia aos pés do monumento de José de Anchieta, então o jeito foi fotografar este lado da obra do artista Heitor Usai (1899-1989), japonês naturalizado brasileiro.