sexta-feira, 30 de maio de 2025

AOS VENCEDORES, AS BATATAS

 

"Os comedores de batata", Vincent Van Gogh (1853-1890).

Quem diria! Hoje é o Dia Internacional da Batata, aquele tubérculo feioso ou desajeitado, mas delicioso não importa a forma como seja preparado e servido. A data foi designada pela ONU em 2023 “para aumentar a conscientização sobre os múltiplos valores nutricionais, econômicos, ambientais e culturais do alimento”. A batata foi “descoberta” pelos conquistadores espanhóis na região do Lago Titicaca, onde atualmente Bolívia e Peru têm fronteira. E se deu muito bem do outro lado do Atlântico a partir de onde ganhou o mundo. Cozida, assada ou frita, a batata agrada a praticamente todos os paladares; combina com carne e verduras. Que tal um pãozinho de batata? 

De acordo com a ONU, cerca de dois terços da população mundial consomem batatas como alimento básico. A previsão é de que a produção de batatas até 2030 atinja 750 milhões de toneladas anuais! Atualmente, o título de maior produtor de batatas do mundo é da China, que responde por um terço da produção mundial: 341 milhões de toneladas anuais.  

Gastronomia – Para comemorar a data que tal batatas ao murro, receita tradicional portuguesa? Depois de cozidas, aperte ligeiramente as batatas com a mão – é recomendável fazê-lo com um pano seco para não se queimar – e as coloque numa assadeira com duas colheres de azeite. Tempere com alho, alecrim, pimenta-do-reino, sal e regue com mais duas colheres de azeite. Leve ao forno pré-aquecido por 40 minutos, virando as batatas na metade do tempo. Retire do forno e... Saboreie com peixe ou carne bovina.

Literatura – O romance é “Quincas Borba”, de Machado de Assis (1838-1908), publicado em 1891, e a frase que sintetiza a desilusão do personagem ao reconhecer que, na vida, vence o mais forte: "Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas”.

quinta-feira, 29 de maio de 2025

A CIDADE UNIVERSITÁRIA

 


O município de São Paulo com seus ‎1.521,11 km² abriga uma cidade de 4.800 km², com prefeito, um pequeno número de moradores e uma grande população de passagem. Por suas ruas, avenidas e praças arborizadas circulam diariamente milhares de pessoas. Ônibus lotados e carros nem tanto entram por um dos três portões dessa cidade. Ela tem teatro, cinema, orquestra e coral, clube, bibliotecas, museus, hospital, farmácia, correios, bancos, dois jornais, uma estação de rádio e outra de televisão e um centro esportivo. E até um apiário. Enfim, quase tudo que uma cidade precisa. Pela manhã ciclistas disputam espaço com os praticantes de corrida. Muita gente aparece para fazer as mais diferentes atividades físicas. Não apenas passarinhos cruzam os céus, helicópteros também adejam sobre a cobertura verde para observar o trânsito ao redor e informar os meios de comunicação sobre os problemas de tráfego na região. 

Um lugar para se esquecer do tempo? Não é bem assim, porque há o horário das aulas, do trabalho, das refeições e não desculpa para atrasos, pois existem duas praças que impedem que se perca a hora: a Praça do Relógio e a Praça do Relógio Solar. Enfim, só visitando a Cidade Universitária Armando de Salles Oliveira (Campus Butantã) para conhecer um dos oito campi da Universidade de São Paulo. O investimento do Estado na USP (Decreto 29.598 de 02/02/1989 e a LDO – Lei nº 16.511, de 27/07/2017*) é de 5,0295% da arrecadação de ICMS líquido do Estado de São Paulo.

A Universidade de São Paulo foi criada em 25 de janeiro de 1934 pelo governador Armando de Salles Oliveira (1887-1945), que no ano seguinte nomeou uma comissão, presidida pelo Prof. Reynaldo Porchat (1868-1953), para estudar e definir a localização da Cidade Universitária para onde seriam transferidas as diversas faculdades da USP então espalhadas pela cidade. Porchat era santista. O campus é formado por uma área equivalente a 200 alqueires paulistas, destacada da antiga Fazenda Butantã que fora desapropriada. Embora a decisão tenha sido tomada na década de 1940, a Prefeitura foi criada em dezembro de 1969 para planejar e implantar a infraestrutura do campus. O desafio coube ao professor arquiteto Luciano Bernini, primeiro prefeito da Cidade Universitária. A denominação atual é Prefeitura Campus Capital-Butantã da Universidade de São Paulo (PUSP-CB).

Agora o passeio pela Cidade Universitária Armando de Salles Oliveira pode começar. A maioria das ruas e praças homenageia professores da Universidade. Algumas unidades como a Academia de Polícia, Casa de Cultura Japonesa, Centro Tecnológico da Marinha, Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) não pertencem à USP. Logo na entrada encontra-se a Praça Prof. Reinaldo Porchat, com uma escultura em sua homenagem. Mais adiante fica o Relógio Solar, criação do professor da FAU/USP, Caetano Fraccaroli (1911-1987). É de Fraccaroli também o Monumento à Liberdade, que adorna a entrada do Hospital Universitário – escultura de quatro metros de altura em resina e fibra de vidro.

A Torre Universitária ou Torre do Relógio destaca-se nesse ambiente quase bucólico: obra do arquiteto Rino Levi (1901-1965). Ela tem painéis criados pela escultora vicentina Olga Elizabeth Magda Henriette Nobiling (1902-1975). No entorno do espelho d’água pode-se ler que “No Universo da Cultura o centro está em toda a parte”, frase do professor Miguel Reale, ex-reitor da USP.

O monumento em homenagem ao arquiteto Ramos de Azevedo tem lugar especial. Obra do artista ítalo-brasileiro Galileu Ementabili, o monumento foi inaugurado em 1934 na Avenida Tiradentes, próximo à Estação da Luz, mas em 1973 teve que ser removido por causa das obras do metrô e desde então está na USP (Avenida Almeida Prado) próximo à Escola Politécnica. (Foto.)

Como em todas cidades, o campus dispõe dos equipamentos necessários para a vida cotidiana de alunos, professores e visitantes. Alunos, funcionários e professores podem sempre fazer refeições no CRUSP. Nos tempos em que trabalhei no JORNAL DA USP costumava almoçar no restaurante universitário; contudo há vários restaurantes, lanchonetes e até comida de rua tanto para o simples café da manhã como para uma refeição diferenciada.

É bom saber que esta cidade conta com o Hospital Universitário. O HU, como é conhecido, é um hospital-escola regionalizado e integrado ao Sistema Único de Saúde (SUS). Em 25 de março de 1976, o então governador do Estado Paulo Egydio Martins assinou decreto alterando o Estatuto da USP e instituindo o HU, após aprovação do Conselho Universitário da Universidade e do Conselho Estadual de Educação. Houve um atraso para o início das atividades do hospital por falta de recursos financeiros, mas no dia 6 de agosto de 1981 o Hospital começou funcionar a partir do setor de Pediatria e em dezembro do mesmo ano foi a vez do setor de Obstetrícia e Ginecologia iniciar as suas atividades e assim sucessivamente até completar o complexo hospitalar. Há também uma farmácia no campus.

Arte não falta: além do CINUSP, há os museus de Arqueologia e Etnologia, de Geociências, Oceanográfico – a Academia de Polícia mantém o Museu do Crime. Entre as várias bibliotecas do campus, destaca-se a Biblioteca Brasiliana Guida e José Mindlin, aberta ao público em 2013. O Centro de Práticas Esportivas – CEPEUSP é o local onde os alunos praticam esportes e se confraternizam.

A partir de 2008 frequentei cursos da Universidade Aberta para Terceira idade (UNATI) nos Museus Paulista e de Arqueologia e Etnologia (MAE); Institutos de Astronomia e Geofísica, de Estudos Brasileiros, Química, de Biociências e de Medicina Tropical, Faculdades de Economia e de Educação.

O campus Butantã fica afastado do Centro, mas dispõe de um bom serviço de ônibus, metrô (Linha Amarela) e trem (9 – Esmeralda).

domingo, 25 de maio de 2025

HOJE TEM TICO-TICO NO FUBÁ

José Gomes de Abreu ou simplesmente Zequinha de Abreu (1880-1935) é um dos músicos e compositores brasileiros que faz sucesso internacional desde os anos 1940. E por incrível que pareça foi a organista Ethel Smith (1902-1996) quem tornou o chorinho “Tico-tico no Fubá” num sucesso, quando o interpretou no filme Bathing Beauty (1944), estrelado por Esther Williams. O disco que ela gravou chegou a alcançar o 14º lugar nas paradas de sucesso em novembro daquele ano e vendeu dois milhões de cópias em todo mundo. Em 1945 Carmen Miranda, que já trabalhava nos Estados Unidos, gravou o chorinho “Tico-tico no Fubá” com letra de Aloísio de Oliveira (Bando da Lua) e em 1947 interpretou a música no filme “Copacabana”, dirigido por Alfred E. Green.

Este foi o início da carreira internacional da música, que foi gravada pelo violonista espanhol Paco de Lucia (1967), pelo violista italiano Marco Misciagna  (2024), pelo guitarrista brasileiro Raphael Rabelo em (2024), pelas orquestra Filarmônica de Viena, regida pelo maestro Gustavo Dudamel e pela Filarmônica de Berlin, regência do maestro Daniel Barenboin entre outros.

Zequinha de Abreu nasceu em Santa Rita do Passa Quatro, São Paulo.

Link para ver Carmen Miranda interpretando o chorinho no filme que estrelou com Groucho Marx (1890-1977):

https://youtube.com/shorts/pwTip5AKuT0?si=0hgCo2aU6qF4-JoN


https://www.youtube.com/watch?v=PsNcDkwhBMA

sexta-feira, 23 de maio de 2025

A NOVA ARQUEOLOGIA


                                  Praça Manuel da Nóbrega.

A Prefeitura está fazendo obras de infraestrutura no Centro Histórico. Outro dia achei que garimpeiros tinham se instalado na Rua Barão de Paranapiacaba atraídos pela alcunha de “rua do ouro”. Escavada do começo ao fim, homens trabalhavam no subsolo reformando a infraestrutura. Debruçados nos cavaletes que fechavam a rua, pedestres desocupados e o pessoal que distribui cartões das lojas de compra e venda de ouro observavam a obra. Sobrou uma nesga de calçada para os pedestres e comerciantes. Agora é a vez da Rua XV de Novembro. A Rua Padre Anchieta e a Praça Manuel da Nóbrega estão prontas. Todas essas obras no subsolo resultaram num achado arqueológico ao lado da Ladeira General Carneiro. Quando fui espiar o que tinham encontrado me deparei com trilhos de bonde. Trilhos de bonde já são arqueológicos? E eu que andei tanto de bonde... Como dizem os gaúchos: Barbaridade!  


Ladeira General Carneiro.

Rua XV de Novembro.
 Arqueologia é a “ciência que trata das culturas e civilizações antigas e desaparecidas, estudando-as por meio de artefatos, fósseis, habitações, monumentos e outros testemunhos materiais que delas restaram”.  Não é o caso desse achado porque bondes continuam circulando mundo afora.


quarta-feira, 14 de maio de 2025

ESTRADA DO SOL

É DE MANHÃ
Vem o Sol
Mas os pingos da chuva
Que ontem caiu
Ainda estão a brilhar
Ainda estão a dançar
Ao vento alegre
Que me traz esta canção...  

Tom Jobim e Dolores Duran.

Há algum tempo comecei a fotografar o amanhecer da minha janela. Levanto cedo todos os dias. Questão de hábito. Abro as janelas e há sempre um novo espetáculo protagonizado pelo Sol e a coparticipação de nuvens e um toque dos ventos, o que resulta num chiaroscuro único, no pequeno espaço que me sobra do lado Leste da minha rua. Moro no quinto andar e a copa das árvores dão um toque especial nesse quadro matinal.

Para as imagens que selecionei das minhas manhãs, escolhi “Estrada do Sol”, na voz deliciosa de Agostinho dos Santos (1932-1973), um dos meus cantores preferidos.














https://www.youtube.com/watch?v=6prTDir2I2g


domingo, 11 de maio de 2025

“A XÍCARA DA HUMANIDADE"

 


“O chá era a princípio um remédio e se transformou em uma bebida. Na China do século VIII, entrou para o campo da poesia como um entretenimento refinado. O século XV viu o Japão elevá-lo à categoria de religião estética, ou seja, à de ‘chaísmo’. O ‘chaísmo’ é um culto que se fundamenta na veneração da beleza em meio à sordidez dos acontecimentos diários. Incute a pureza e a harmonia, o mistério da caridade mútua, o romantismo da ordem social. É essencialmente a veneração do imperfeito, uma tentativa singela de conquistar o possível em meio a esta coisa impossível que conhecemos como vida.” O LIVRO DO CHÁ – tradução Leiko Gotoda.


quinta-feira, 8 de maio de 2025

VOCÊ SABE DE ONDE EU VENHO?

Há 80 anos terminava a II Guerra Mundial (1939-1945). As retaliações da Alemanha contra o Brasil começaram em 1942, quando o governo brasileiro rompeu relações com Itália e Alemanha.  Como consequência, o Brasil teve 34 navios torpedeados e desse total apenas uma embarcação era de guerra – o “Vital de Oliveira”, abatido em 19 de julho de 1944. Todos os demais eram da marinha mercante. Esses ataques causaram a morte de 1.081 pessoas.

A COBRA VAI FUMAR – A mobilização fora decretada em 1942, mas a convocação só aconteceu em 1943, com a criação da Força Expedicionária Brasileira – FEB.  A demora para a decisão de embarque da força expedicionária para a Europa por uma série de problemas políticos e de treinamento dos pracinhas tornou-se motivo de ironia e dizia-se que era “mais fácil uma cobra fuma do que a FEB lutar”. A chacota virou desafio e o bordão depreciativo virou grito de Guerra e um símbolo da FEB. Dos 25.334 homens embarcados morreram 451.

O poeta Guilherme de Almeida e o maestro Spartaco Rossi são os autores da Canção do Expedicionário, gravada por Francisco Alves, em 1944. Em 1960, quando foi inaugurado o Monumento Nacional aos Mortos da Segunda Guerra Mundial no Rio de Janeiro, Guilherme de Almeida contou que: "Era já a madrugada de 8 de março de 1944 quando escrevi a última sextilha da 'Canção do Expedicionário'. (...) Apenas uma rapsódia. Mapa lírico do Brasil: fragmentos de canções do povo, com que o 'pracinha' – o novo, desconhecido soldado dos Exércitos Aliados – havia de apresentar-se a gentes outras, terras de outrem, dizendo: Você sabe de onde eu venho?” O poeta usou referências musicais, poesias populares e fragmentos literários que tornam o poema comovente, o que certamente contribuiu para o grande sucesso da música.

Você sabe de onde eu venho?
Venho do morro, do engenho
Das selvas, dos cafezais
Da boa terra do coco
Da choupana, onde um é pouco
Dois é bom, três é demais.

Venho das praias sedosas
Das montanhas alterosas
Dos pampas, do seringal
Das margens crespas dos rios
Dos verdes mares bravios
Da minha terra natal

Por mais terras que eu percorra
Não permita, Deus, que eu morra
Sem que volte para lá
Sem que leve por divisa
Esse V que simboliza
A vitória que virá.

(...)





Monumento Nacional aos Mortos da Segunda Guerra Mundial no Rio de Janeiro.




Cemitério Militar Brasileiro de Pistoia, Itália, onde até 1960 ficaram os despojos dos pracinhas. Foto: 2011.


 

Porreta Terme, Itália: monumento em homenagem aos soldados da FEB.

(Infelizmente, o sol não ajudou na hora da foto.) 2011.


Homenagem aos ex-combatentes da FEB no Ibirapuera. 2018.


https://www.facebook.com/groups/MONTECASTELOHISTORIA 

segunda-feira, 5 de maio de 2025

TACNOLOGIA FACILITANDO A VIDA

Ouço pessoas reclamarem das tarefas domésticas cotidianas e penso que elas se queixam sem saber do que escaparam, pois ainda em meados do século passado não dispúnhamos de tantas facilidades como nos dias atuais. Houve uma grande evolução tecnológica que nos livrou de coisas que para as novas gerações parecem absurdas, mas chegaram a ser consideradas “muito práticas”.

Gosto demais da avó das geladeiras elétricas, a chamada “caixa de gelo” porque funcionava com uma pedra de gelo que era entregue diariamente em casa pela Fábrica de Gelo que em Santos era na Vila Matias. Em casa tínhamos uma grande, que só foi substituída por uma geladeira elétrica Frigidaire em 1950. Já escrevi sobre a enceradeira de casa, igualzinha à da foto. Cresci ouvindo rádio que funcionava com válvulas e ficava em um lugar especial na sala de visitas ao lado do qual minha avó fazia crochê escutando a programação; tínhamos também um telefone de parede na copa, bem mais moderninho do que o exibido no museu. Nos anos sessenta ganhei uma vitrola portátil e um rádio Spica de pilha, que me acompanhou por muitos anos.

Os museus guardam essas preciosidades – sim, preciosidades, inclusive muita coisa com que a minha geração ainda conviveu já faz parte dos acervos. Um exemplo: a máquina do cartão de crédito. O funcionamento era simples: o lojista colocava um impresso do cartão devidamente preenchido com o valor da compra, imprimia manualmente e o cliente assinava, ficando com uma via. Isso ainda no final do século XX. 


Museu da Energia, São Paulo, Campos Elíseos. São Paulo.

O secador de cabelos ao lado do ventilador. 


Máquina de lavar roupas. Após a lavagem, a roupa era passada pelo rolo na parte de cima (área vermelha) para tirar o excesso de água.😆

Telefone de parede.


Fogão a gás e a "caixa de gelo".

Gramofone, Museu do Tribunal de Justiça. São Paulo.


Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro, 2015.

Imagem, Internet.



Museu da Energia:  Alameda Cleveland, 601 - Campos Elísios. 

Museu Histórico Nacional: Praça Marechal Âncora, Rio de Janeiro.

Museu Tribunal de Justiça de São Paulo: R. Conde de Sarzedas.

domingo, 4 de maio de 2025

LEMBRANÇAS

 

Mercado Trajano (113 D.C.), no Monte Quirinal, Roma, 2006.

Hoje estou me desfazendo das lembranças físicas das viagens que fiz pelo exterior – ou seja, mapas de cidades e dos sistemas de transportes, folhetos – alguns com anotações – dos locais que visitei: museus, igrejas, monumentos, galerias, pinacotecas etc. Há vários que peguei na rua e nunca fui. Guardarei apenas alguns catálogos que são muito bonitos. A caixa organizadora ainda se mantém cheia e não me considero acumuladora...

Precisava de um critério para a “limpeza”. Pensei no assunto e achei que o melhor seria começar por aqueles lugares a que não voltarei. Logo me lembro da Bélgica e da Áustria. A primeira, porque Bruxelas não me interessava, mas a velha e boa VASP, já nos estertores da existência, oferecia a passagem mais barata para a Europa. A segunda porque, apesar de linda, nela não me senti bem-vinda em Viena e me restou a impressão de que o vienense carece de polidez.

Difícil mesmo foi mexer nos guardados da Grã-Bretanha, França e Itália, países de que gosto muito e tive a oportunidade de visitar várias vezes. Beleza, cultura, acolhimento excepcionais. A primeira vez que vi Paris foi no outono, tempo encoberto e frio. Achei a cidade cinza, mas aproveitei cada momento peregrinando por museus e lugares que a História, a música e a literatura me haviam revelado. Até estendi a visita por mais três dias. De Paris embarquei num trem noturno para Roma (isso antes dos trens de alta velocidade). E Roma foi um deslumbramento – sol, calor, gente maravilhosa e me descobri num museu a céu aberto. Na verdade, a Itália foi uma paixão à primeira vista. Paris me conquistou mesmo na segunda visita. Como não sabia se haveria outra chance de voltar à Europa, escolhi cuidadosamente os lugares que eram essenciais para mim. Na Itália, fui a Pompeia, Veneza e Florença. Beleza de tirar o fôlego. Próxima parada: Grécia – Atenas e algumas ilhas. Descobri a Grécia ainda na infância com a turma de Monteiro Lobato, que vivia no Sítio do Pica-pau Amarelo. Valeu cada minuto!

Como acumulei tanta papelada? Quando pude, voltei à França, Itália e Grã-Bretanha – meus roteiros sempre foram baseados principalmente em História e minha curiosidade por conhecer os principais museus do mundo (faltou o Hermitage). E a papelada foi aumentando... Sem contar os caderninhos, diários de viagem, com anotações sobre coisas que não lembro. Idade? Não, as coisas anotadas não deviam ser relevantes; entretanto, recordo-me de coisas banais, pessoas e lugares que deixaram impressão forte.

Aprendi muito observando, mas também com pessoas que ajudaram a achar um endereço, indicaram um caminho melhor e até me pediram ajuda. Viajar sozinha foi um desafio que me impus – como eu reagiria em situações difíceis, sem conhecer idiomas, lugares e sem a proximidade de amigos (à distância tive muito apoio). Para minha surpresa acho que me saí muito bem. Me perdi, me achei, briguei, bati boca com um espertalhão que me seguiu em Atenas e, muito antes da invenção da Internet, quantas vezes cheguei a cidades sem reserva de hotel confiando nos escritórios municipais de apoio ao viajante que faziam booking na hora, forneciam mapas e ainda desejavam uma feliz estadia (nem todos).

Passei o sábado viajando... Viajando no tempo.

Paris moderna, La Défense, 2011.