domingo, 4 de maio de 2025

LEMBRANÇAS

 

Mercado Trajano (113 D.C.), no Monte Quirinal, Roma, 2006.

Hoje estou me desfazendo das lembranças físicas das viagens que fiz pelo exterior – ou seja, mapas de cidades e dos sistemas de transportes, folhetos – alguns com anotações – dos locais que visitei: museus, igrejas, monumentos, galerias, pinacotecas etc. Há vários que peguei na rua e nunca fui. Guardarei apenas alguns catálogos que são muito bonitos. A caixa organizadora ainda se mantém cheia e não me considero acumuladora...

Precisava de um critério para a “limpeza”. Pensei no assunto e achei que o melhor seria começar por aqueles lugares a que não voltarei. Logo me lembro da Bélgica e da Áustria. A primeira, porque Bruxelas não me interessava, mas a velha e boa VASP, já nos estertores da existência, oferecia a passagem mais barata para a Europa. A segunda porque, apesar de linda, nela não me senti bem-vinda em Viena e me restou a impressão de que o vienense carece de polidez.

Difícil mesmo foi mexer nos guardados da Grã-Bretanha, França e Itália, países de que gosto muito e tive a oportunidade de visitar várias vezes. Beleza, cultura, acolhimento excepcionais. A primeira vez que vi Paris foi no outono, tempo encoberto e frio. Achei a cidade cinza, mas aproveitei cada momento peregrinando por museus e lugares que a História, a música e a literatura me haviam revelado. Até estendi a visita por mais três dias. De Paris embarquei num trem noturno para Roma (isso antes dos trens de alta velocidade). E Roma foi um deslumbramento – sol, calor, gente maravilhosa e me descobri num museu a céu aberto. Na verdade, a Itália foi uma paixão à primeira vista. Paris me conquistou mesmo na segunda visita. Como não sabia se haveria outra chance de voltar à Europa, escolhi cuidadosamente os lugares que eram essenciais para mim. Na Itália, fui a Pompeia, Veneza e Florença. Beleza de tirar o fôlego. Próxima parada: Grécia – Atenas e algumas ilhas. Descobri a Grécia ainda na infância com a turma de Monteiro Lobato, que vivia no Sítio do Pica-pau Amarelo. Valeu cada minuto!

Como acumulei tanta papelada? Quando pude, voltei à França, Itália e Grã-Bretanha – meus roteiros sempre foram baseados principalmente em História e minha curiosidade por conhecer os principais museus do mundo (faltou o Hermitage). E a papelada foi aumentando... Sem contar os caderninhos, diários de viagem, com anotações sobre coisas que não lembro. Idade? Não, as coisas anotadas não deviam ser relevantes; entretanto, recordo-me de coisas banais, pessoas e lugares que deixaram impressão forte.

Aprendi muito observando, mas também com pessoas que ajudaram a achar um endereço, indicaram um caminho melhor e até me pediram ajuda. Viajar sozinha foi um desafio que me impus – como eu reagiria em situações difíceis, sem conhecer idiomas, lugares e sem a proximidade de amigos (à distância tive muito apoio). Para minha surpresa acho que me saí muito bem. Me perdi, me achei, briguei, bati boca com um espertalhão que me seguiu em Atenas e, muito antes da invenção da Internet, quantas vezes cheguei a cidades sem reserva de hotel confiando nos escritórios municipais de apoio ao viajante que faziam booking na hora, forneciam mapas e ainda desejavam uma feliz estadia (nem todos).

Passei o sábado viajando... Viajando no tempo.

Paris moderna, La Défense, 2011.



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