Em 1819, o botânico e naturalista francês Auguste
Saint-Hilaire (1779-1853) fez uma viagem até a nascente do rio São Francisco a
partir do Rio de Janeiro. A aventura originou o livro “Viagem
às nascentes do Rio São Francisco e pela província de Goiás”, publicado em 1848 em Paris. O rio São Francisco nasce na
serra da Canastra em Minas Gerais e percorre 2.863 km até o Oceano Atlântico
depois de atravessar a Bahia, fazendo a divisa desse estado com Pernambuco e
mais adiante faz a divisão entre os estados de Alagoas e Sergipe. O velho
Chico, o chamado rio de integração nacional, tem 36 afluentes, sua bacia
hidrográfica, a terceira maior do Brasil, banha 503 municípios e abrange sete
estados. O rio é navegável em dois trechos: o médio entre Pirapora (MG) e as
cidades de Juazeiro (BA) e Petrolina (PE) tem 1.371 km; e o baixo, com 208 km, vai de Piranhas (AL) ao
Atlântico.
Em janeiro de 1974 empreendi a aventura de Pirapora a
Petrolina a bordo da gaiola Benjamim
Guimarães, barco a vapor movido a rodas de pás, fabricado em 1913 pelo
estaleiro James Rees, de Pittisburgh, Pensilvânia (EUA). Barco lotado –
populações ribeirinhas, estudantes do eixo Rio/São Paulo/Minas e alguns
turistas estrangeiros dormindo em redes no convés por Cr$ 94 – uma ninharia.
Uma cabine de primeira classe custava Cr$
1.000,00, mas não era tão animada. Duração da viagem: seis ou sete dias. A
passagem incluia três refeições por dia e o passageiro da geral tinha que levar
o próprio prato, talher e copo na bagagem. (Lembro de um operário que fazia as
refeições no capacete). Uma multidão aguardava a hora do embarque e assim que
se alcançava o convés era preciso pendurar a rede para garantir o lugar. Aos
retardatários, o chão! E o chão logo estava repleto de mochilas.
Partimos no dia 25 de janeiro. Para quem não sabe a
gaiola é um barco dotado de uma caldeira que produz energia para mover as rodas
de pás que funcionam como mecanismo de propulsão. O primeiro vapor a navegar
pelo São Francisco foi o “Saldanha Marinho”, importado dos Estados Unidos em
1871 e montado em Barbacena (MG).
Benjamim Guimarães singrava bravamente pelas águas barrentas do rio parando
rapidamente aqui e ali para pegar ou deixar passageiros ou em estadas mais
demoradas para se prover de lenha para abastecer a caldeira voraz.
O São Francisco ofereceu-me uma gama de paisagens
inesquecíveis e algumas irrecuperáveis porque desapareceram com a construção da
barragem de Sobradinho. Foram vinte e três localidades ao longo dos 1.371 km
até Petrolina.
O Benjamim
Guimaraes é tombado pelo patrimônio histórico local e estadual, e atualmente,
passa por reformas. O nome é homenagem a Benjamim Ferreira Guimarães (1861-1948),
industrial, banqueiro e filantropo mineiro.
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Foto: Prefeitura de Pirapora (MG). |
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