AO LONGO DE UM RIO: 1975.
A primeira cidade
da rota do barco Benjamim Guimarães, SÃO ROMÃO, que surgiu em 1668 com o nome
de Santo Antonio da Manga, depois tornou-se Vila Risonha de Santo Antônio da Manga de São Romão e quando foi elevada à
categoria de cidade em 1923 teve o nome reduzido para S. Romão. Vamos em
frente. "E a formosa cidade de SÃO FRANCISCO, a quem o rio olha com tanto
amor", nos dizeres do escritor Guimarães Rosa. São Francisco foi fundada
em 1887. É famosa pelo pôr do sol, mas o que não falta é um belo entardecer ao
longo do rio. O espetáculo do nascer do sol também se renova diariamente.
Chegamos a PEDRAS DE MARIA DA CRUZ, na época distrito de Januária (cidade desde
1992). O nome da cidade é homenagem a Maria da Cruz, educadora e benemérita do
século XVII. Quem nasce em Pedras de Maria da Cruz? Pedrenses.
Chegamos a JANUÁRIA.
Boa parte dos passageiros se abastece com o principal produto da cidade:
cachaça. A malvada é essencial para ajudar a enfrentar a comida de bordo. A
cidade foi fundada no século XVII. A Igreja da Nossa
Senhora do Rosário, construída em 1688, é uma das mais antigas de Minas.
O barco toma o rumo
de ITACARAMBI – (rio das pedras arranhadas), famosa pela
Gruta Olhos d’água; Matias Cardoso – distrito na época, elevada á cidade em
1993. O nome é homenagem ao bandeirante. Passamos por MANGA cuja origem também
é o bandeirantismo. O lugar teve vários nomes até a instalação do município em 1923.
Chegamos à Bahia. Porta de passagem é CARINHANHA, que se tornou vila em
1832 e cidade em 1909. Numa curva do rio surge uma torre medieval. Visão
estranha naquele sertão. Chegamos a BOM JESUS DA LAPA, cidade santuário que, atualmente, atrai dois milhões de peregrinos por ano. O lugar tem origem com a chegada por volta
de 1680 do português Mendonça Mar, que se instalou na gruta onde viveu em
isolamento até que garimpeiros o encontraram e espalharam a notícia do homem
santo. Mendonça Mar (ironia do destino sua vida à beira-rio) tinha uma bela
visão do São Francisco a partir da gruta.
Navegar é preciso como diz o poeta.
Passamos por PARATINGA (rio branco em tupi) e IBOTIRAMA (flor promissora) ambas
formadas no século XVIII; MORPARÁ e COPIXABA. Chegamos à BARRA – antiga Vila de
São Francisco de Chagas da Barra Grande do Rio (ufa!). A história do lugar
remonta a um arraial do século XVII, mas só se tornou cidade em 1873 e mais tarde foi desmembrada formando outras cidades entre as quais Pilão Arcado e Carinhanha à margem do rio. Anotação da época:
“cidade das casas rebuscadas, três igrejas e três praças – as árvores ficam na
rua ao redor da praça. Pessoas se oferecem para guiar os turistas”.
Passamos por IBIRABA chegamos a XIQUE-XIQUE – o nome provém de um cacto comum na região. Quase
meia-noite. Cidadezinha agitada. Nos barzinhos ou botecos, o rock corre solto.
Grande decepção. Nada de música regional. Enfim,os xiquexiquenses têm
direito de apreciar um bom rock.
A viagem prossegue
para SALDANHA – nenhuma anotação. No dia 29 de janeiro chegamos a PILÃO ARCADO,
que já estava em processo de abandono – atracadouro quebrado, porcos soltos
pelas ruas, nenhum armazém funcionando. Chama atenção as pedras cor-de-rosa.
Essa cidade não existe mais. A população foi transferida no final daquele ano
para a nova Pilão Arcado, planejada e construída pelo Governo Federal, por meio
da Companhia Hidrelétrica do São Francisco (CHEFS). A antiga cidade com origem no século XVII foi inundada por causa da
construção da barragem de Sobradinho.
Destino igual tiveram REMANSO,
SENTO SÉ, CASA NOVA e SOBRADINHO. Muito estranho saber que estava vendo pela
última vez aquelas cidades – as cidades originais. Angustiante para os
moradores que veriam suas histórias de vida desaparecerem completamente sob as águas do rio... E o futuro como seria? Espero que tenha sido melhor.
Chegamos a Petrolina
(PE) no final de janeiro. Os passageiros com destino a Juazeiro (BA) do outro
lado do rio tiveram direito a transporte a bordo de um pau-de-arara – outra
experiência irrecusável.
Pôr do sol na cidade de São Francisco (MG). Foto: Prefeitura. |
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