terça-feira, 11 de abril de 2017

AO LONGO DE UM RIO: 1975.

A primeira cidade da rota do barco Benjamim Guimarães, SÃO ROMÃO, que surgiu em 1668 com o nome de Santo Antonio da Manga, depois tornou-se Vila Risonha de Santo Antônio da Manga de São Romão e quando foi elevada à categoria de cidade em 1923 teve o nome reduzido para S. Romão. Vamos em frente. "E a formosa cidade de SÃO FRANCISCO, a quem o rio olha com tanto amor", nos dizeres do escritor Guimarães Rosa. São Francisco foi fundada em 1887. É famosa pelo pôr do sol, mas o que não falta é um belo entardecer ao longo do rio. O espetáculo do nascer do sol também se renova diariamente. Chegamos a PEDRAS DE MARIA DA CRUZ, na época distrito de Januária (cidade desde 1992). O nome da cidade é homenagem a Maria da Cruz, educadora e benemérita do século XVII. Quem nasce em Pedras de Maria da Cruz? Pedrenses.
Chegamos a JANUÁRIA. Boa parte dos passageiros se abastece com o principal produto da cidade: cachaça. A malvada é essencial para ajudar a enfrentar a comida de bordo. A cidade foi fundada no século XVII. A Igreja da Nossa Senhora do Rosário, construída em 1688, é uma das mais antigas de Minas.
O barco toma o rumo de ITACARAMBI – (rio das pedras arranhadas), famosa pela Gruta Olhos d’água; Matias Cardoso – distrito na época, elevada á cidade em 1993. O nome é homenagem ao bandeirante. Passamos por MANGA cuja origem também é o bandeirantismo. O lugar teve vários nomes até a instalação do município em 1923.
Chegamos à Bahia. Porta de passagem é CARINHANHA, que se tornou vila em 1832 e cidade em 1909. Numa curva do rio surge uma torre medieval. Visão estranha naquele sertão. Chegamos a BOM JESUS DA LAPA, cidade santuário que, atualmente, atrai dois milhões de peregrinos por ano. O lugar tem origem com a chegada por volta de 1680 do português Mendonça Mar, que se instalou na gruta onde viveu em isolamento até que garimpeiros o encontraram e espalharam a notícia do homem santo. Mendonça Mar (ironia do destino sua vida à beira-rio) tinha uma bela visão do São Francisco a partir da gruta.
Navegar é preciso como diz o poeta. Passamos por PARATINGA (rio branco em tupi) e IBOTIRAMA (flor promissora) ambas formadas no século XVIII; MORPARÁ e COPIXABA. Chegamos à BARRA – antiga Vila de São Francisco de Chagas da Barra Grande do Rio (ufa!). A história do lugar remonta a um arraial do século XVII, mas só se tornou cidade em 1873 e mais tarde foi desmembrada formando outras cidades entre as quais Pilão Arcado e Carinhanha à margem do rio. Anotação da época: “cidade das casas rebuscadas, três igrejas e três praças – as árvores ficam na rua ao redor da praça. Pessoas se oferecem para guiar os turistas”.
Passamos por IBIRABA chegamos a XIQUE-XIQUE – o nome provém de um cacto comum na região. Quase meia-noite. Cidadezinha agitada. Nos barzinhos ou botecos, o rock corre solto. Grande decepção. Nada de música regional. Enfim,os xiquexiquenses têm direito de apreciar um bom rock.
A viagem prossegue para SALDANHA – nenhuma anotação. No dia 29 de janeiro chegamos a PILÃO ARCADO, que já estava em processo de abandono – atracadouro quebrado, porcos soltos pelas ruas, nenhum armazém funcionando. Chama atenção as pedras cor-de-rosa. Essa cidade não existe mais. A população foi transferida no final daquele ano para a nova Pilão Arcado, planejada e construída pelo Governo Federal, por meio da Companhia Hidrelétrica do São Francisco  (CHEFS). A antiga cidade com origem no século XVII foi inundada por causa da construção da barragem de Sobradinho.
Destino igual tiveram REMANSO, SENTO SÉ, CASA NOVA e SOBRADINHO. Muito estranho saber que estava vendo pela última vez aquelas cidades – as cidades originais. Angustiante para os moradores que veriam suas histórias de vida desaparecerem completamente sob as águas do rio... E o futuro como seria? Espero que tenha sido melhor.
Chegamos a Petrolina (PE) no final de janeiro. Os passageiros com destino a Juazeiro (BA) do outro lado do rio tiveram direito a transporte a bordo de um pau-de-arara – outra experiência irrecusável. 
Pôr do sol na cidade de São Francisco (MG). Foto: Prefeitura.
New Orleans, 2013: matando saudade do  S. Francisco no barco do rio Mississipi. 
Foto: Hilda Araújo.

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