segunda-feira, 18 de setembro de 2017



FÉRIAS DA COMPANHIA.
Até 10 de outubro.


PRIMAVERA DE MUSEUS

Um bom programa para o início da nova estação: o diretor cultural do Instituto Histórico e Geográfico de São Vicente, Edson Santana do Carmo, fará palestra sobre "A História que os livros não contam". Será dia 21 às 16 horas. Endereço: Rua Frei Gaspar, 280, Centro, São Vicente (SP). 




domingo, 17 de setembro de 2017



Santos, 16 de setembro de 2017. Foi um dia muito especial. Reunião dos ex-funcionários do jornal CIDADE DE SANTOS (1967-1987) no Petit Verdot, a adega gourmet de José Rodrigues, grande jornalista que comandou durante anos a sucursal do Estadão em Santos. Muito bom reencontrar dois pioneiros – Flávio Ribas GAZETINHA e Itamar Miranda para contar histórias do início do jornal há 50 anos. E haja história. 



           Já vou dizendo que não sou saudosista, mas as lembranças são importantes para se ter parâmetros para o presente e para o futuro, para definirmos o que mudar ou o que manter em nossa vida. Hoje faz 30 anos que o jornal CIDADE DE SANTOS fechou e quis escrever alguma coisa no blog sobre o diário. A memória, entretanto, costuma pregar peças e mistura muitas vezes fatos e cria outros que nos surpreendem de forma assustadora ao percebermos que não foi bem assim que as coisas se sucederam. Então, se alguém discordar do que escrevi, não foi por querer, mas talvez um truque da memória. Devo confessar que nos últimos anos enjoei do jornalismo, como marinheiro de Mishima que enjoou do mar, mas de forma alguma me arrependo da escolha que fiz e a experiência no jornal CIDADE DE SANTOS foi fundamental na minha vida pessoal e profissional. Muitos colegas daquelas duas décadas já se despediram e entre eles minha homenagem especial a João Sampaio, Argemiro de Paula, Eduardo Leite, Roberto Peres e Reinaldo Sassi – grandes amigos, profissionais e mentores.Enfim, tudo tem o seu tempo e o do nosso querido diário passou. (Publicado no Facebook, 15 de setembro de 2017.)

HOMENAGEM 

Rubens Fortes ERRE é uma personalidade única na história do jornal. Assinava A TOCA, uma coluna com críticas bem humoradas dos fatos políticos e esportivos do momento. Ia à redação no final da tarde e seu bom humor, sua inteligência ágil sempre surpreendiam até os mais escolados com as peripécias que o tornaram famoso no CIDADE DE SANTOS. Continua afiado como sempre. Uma das vítimas foi Fernando Allende – repórter, cronista social e de automobilismo.  Mantinha em sua mesa um arquivo pessoal guardado a sete chaves. Numa folga, Allende fez uma limpeza geral e quando foi embora a lixeira estava repleta de material velho, inclusive um livro de patologias médicas ilustrado. ERRE recolheu parte dos rejeitos. “Depois, quando ele deixava a gaveta aberta, pastas, relises, livretos voltavam para a gaveta, discretamente” – conta o brincalhão, que observava as reações da vítima. “Dava para perceber quando achava a velharia, olhava, olhava... Sabe quando a pessoa tem a sensação estranha, pô, já não tinha jogado isso fora? Aí rasgava bem rasgado o material que teimava em sair do lixo e descartava. Algumas vezes, guardava de novo, carinhosamente!”. Allende percebeu a brincadeira, quando o office-boy lhe entregou o tal livro de patologias médicas. O que o garoto não esperava foi o palavrão... HELOISA COIMBRA, repórter novata, foi quem conseguiu enfrentar ERRE com muito garbo. Numa festa de fim de ano em que sorteou como amigo secreto o ilustre colunista, deu-lhe um presente inspirado. Teve o trabalho de recortar várias edições da TOCA e colar numa longa tira, formando um rolo de papel higiênico. ERRE jura que guarda até hoje para casos de emergência. 

sexta-feira, 15 de setembro de 2017


Santos, 15 de setembro de 1987/2017.

OBITUÁRIO DE UM JORNAL

Sempre que um jornal encerra suas atividades quem perde mais são os cidadãos – muito mais que os funcionários – porque os jornais são indispensáveis para a circulação de informação na sociedade. Há 30 anos, depois de fazer parte da vida da Baixada Santista por 20 anos, circulava pela última vez o jornal CIDADE DE SANTOS, propriedade do grupo FOLHA DA MANHÃ.
Um discreto anúncio na primeira página informava aos leitores a decisão do grupo FOLHA:
“Com a edição de hoje CIDADE DE SANTOS interrompe sua circulação. Os assinantes recebem com este exemplar uma carta pessoal sobre o ressarcimento do valor do saldo de sua assinatura. CIDADE DE SANTOS agradece aos seus leitores e anunciantes a atenção que sempre lhe foi dispensada. Aos nossos funcionários, o nosso agradecimento e a certeza de que todos os seus direitos trabalhistas serão inteiramente atendidos. A Direção.”
A reportagem de última página tinha um título ambíguo: “Esta cidade está abandonada. É o fim.” 

A decisão causou a dispensa de 120 funcionários entre os quais 64 jornalistas. O dia 14 de setembro foi bem estranho. Com um gosto amargo. Todos sabiam que preparavam a última edição do jornal e que o ponto final colocado na matéria tinha um significado mais profundo. Depois dele só haveria o silêncio das máquinas de escrever, das prensas, dos carros de distribuição e, sim, até do leitor que não teria mais como dar sua opinião (boa ou má) sobre o que lia.        
O dia 15 parecia normal. Todos compareceram como se fosse mais um dia de trabalho como tantos outros; contudo entre uma lágrima e outra, um sorriso tristonho, restava apenas esvaziar gavetas, reler recortes... Alguns desceram para o Alvorada, outros para o Paulista chorar as mágoas e tomar cerveja mais cedo. O que fazer? Sim, o que fazer? Uns poucos tinham 20 anos de casa, outros eram novatos e a maioria percorrera boa parte da história do jornal. Aquele foi um dia dedicado às recordações do que se havia feito e às avaliações sobre como o jornal contribuíra para a cidade. O vazio que deixaria...
Evidentemente, havia todo um lado sentimental construído no cotidiano da redação, das viaturas ou das reportagens. Construiu-se um folclore em torno de algumas pessoas e de lugares específicos da sobreloja do número 26 da Rua do Comércio, onde pontificou a Praça da Paz Universal – que em algumas ocasiões lembrava mais Berlim em 1945, mas em vez de bombas choviam caralhos – que me perdoem os mais sensíveis.
O arquivo, único local do jornal aberto ao público, era especial. Ali reinava Eduardo Leite e uma turma da pesada – Erasmo Luna, Marcílio Araújo e Júlio César. Eduardo tinha um dom especial – paciência num ambiente em que o estresse era o padrão. Havia pelo menos dois motivos que, em geral, levavam os jornalistas até lá: pesquisa e um papo com Edu. Apreciador de música erudita e bom cinema, dono de um humor refinado, ele tinha uma rotina que incluía a leitura de uns oito jornais, selecionava o material para o uso da redação e escrevia uma coluna de efemérides. O atendimento dos jornalistas e do público era feito pelos arquivistas. Era também no arquivo que o pessoal ia resolver seus problemas, acertar as diferenças e até namorar. Edu tudo via e nada via. Eduardo Leite foi um dos “pais fundadores”.

Mais adiante estava o Departamento Fotográfico – nome pomposo para um reduto estritamente masculino em que reinou por muitos anos Francisco Rubio PACO com seu inseparável charuto; mais tarde assumiu o pupilo Itamar Miranda, outra lenda do jornalismo fotográfico de Santos. No final do corredor, abriam-se as portas para a Redação com o “Aquário” dominando o salão, que também dava guarida à Secretaria
O jornal CIDADE DE SANTOS era democrático no sentido verdadeiro da palavra. Ali estavam representadas todas as tendências políticas, esportivas e religiosas, que conviveram sem rancores. Antônio Ággio Jr., em seu depoimento para Rubens Fortes ERRE há cinco anos, lembra que “Nunca pedimos atestado ideológico a ninguém. Nenhum colega jamais precisou dar explicação de atos e pensamentos pessoais, embora Santos fosse centro político-ideológico nevrálgico aos olhos da Revolução. Aliás, a militância de vários deles era notória, mas nada tinha a ver com suas obrigações profissionais, cumpridas religiosamente. Nenhum foi preso ou coagido por quem quer que seja, pelo menos enquanto Freddi e eu dirigimos o jornal, mesmo sob a plena vigência do famigerado Ato Institucional (AI-5) de triste memória”.


E que eu saiba em nenhuma ocasião as convicções ideológicas pessoais foram postas em questão. Costuma-se dizer que éramos uma família, mas que ninguém se iluda. Como em toda família houve brigas e desentendimentos; mágoas e ressentimentos, mas no frigir dos ovos havia um consenso sobre a importância da informação e do leitor porque a notícia estava acima de tudo. 
Enquanto em muitas empresas a cúpula incentiva atividades sociais para melhorar o relacionamento dos funcionários, na Rua do Comércio, as pessoas se encarregavam de organizar festas, viagens e passeios embora o esporte preferido fosse a derrubada de garrafas de cerveja pela cidade. Elaine Saboya criou um clube do livro e nos apresentou ao Clube de Cinema de São Vicente.
Da minha parte lembro-me de quatro históricas viagens ao Rio de Janeiro – uma das quais começou com um acidente de carro na Via Dutra que não impediu o trio a bordo de prosseguir para a Cidade Maravilhosa e terminar com muitas histórias para relembrar, não é, Zé? Havia as festas de aniversário do jornal (uma delas teve algumas cadeiradas) e de fim de ano. Houve uma época em que São João foi incluído no calendário, mas não vingou talvez por causa do vocabulário pouco convencional de alguns participantes.
Não faltaram paixões, romances, casamentos e até algumas separações. Ao todo foram cerca de catorze casamentos.

Como diz o poeta “tudo vale a pena se a alma não é pequena”. (Fernando Pessoa)

PAUTEIROS E PAUTAS

 Repórter vive de pautas de pautas que ele recebe, cria ou que outros sugerem, inclusive o público (leitor, ouvinte e telespectador). Evidentemente, grandes matérias podem simplesmente cair no colo dele.
Assim, o dia do repórter pode ser bom ou mau de acordo com a pauta. Quando comecei no jornal CIDADE DE SANTOS (1967), eu era brindada quase todos os dias com pautas sobre casas de benemerência. Mas logo passei a repórter especial, com missões mais importantes, inclusive uma coluna sobre os bairros da cidade que dava grande visibilidade ao jornal. Subi morros, frequentei favelas, ouvi queixas e reivindicações de todos os tipos da população desafortunada. Recebi pautas de todos os tipos. Entrevistei políticos, artistas, atletas, intelectuais e, principalmente, gente anônima que me deu muito mais prazer do que “celebridades”.
Havia aquelas pautas fatídicas que saltavam da gaveta quando o calendário marcava 1º de Janeiro, Dia das Mães, Finados e Natal.  (O primeiro bebê do ano, a mãe do ano, limpeza dos cemitérios e os velhinhos dos asilos.)
Minha primeira cobertura de enchente foi no Vale do Ribeira, onde a chuva intensa provocara deslizamentos e o fechamento da “rodovia da banana”. Estávamos eu e Mário Taddei, o repórter fotográfico, em uma F-100 que não conseguia chegar ao local em que os motoristas se encontravam atolados. Foi a primeira e única vez em que hesitei, mas só até ouvir Mário resmungar que o jeito era ir andando. Então tirei as sandálias e, com nojo, mergulhei os pés na lama. Depois disso cobri inúmeras enchentes na Zona Noroeste de Santos e em Cubatão – com água na cintura em plena Avenida Nove de Abril ou na Vila Parisi, à margem da rodovia Piaçaguera – Guarujá, acompanhando bombeiros ou o pessoal da Defesa Civil. Ercília Feitosa, grande repórter e amiga, foi parceira dessas matérias aquáticas. O que me aborrecia mais era ouvir as declarações de autoridades sobre a situação que se repetia sempre. Algumas vezes, no final do dia, os socorristas ofereciam um copinho de cachaça para espantar o frio e esquecer as roupas encharcadas. (Acho que foi um bom remédio porque nunca tive sequelas por causa daquelas águas contaminadas.)

ZOOLÓGICO – Os animais tiveram um papel interessante na história do jornal, que era a menina dos olhos de Carlos Caldeira Filho. Caldeira tinha outra paixão: cães pastores alemães. Muitas vezes as chefias tinham que atender requisições de veículo da empresa para levar os pastores para algum concurso canino. As notícias que esperassem. E, claro, um repórter era destacado para cobrir o evento. O diretor do jornal adorava curiós e, pasmem, coberturas especiais para os concursos de cantoria das aves. 
No arquivo, Eduardo Leite e companhia viviam às voltas com pombos que arrulhavam e faziam ninhos junto à janela, o que obrigava a manter os vidros fechados. Na redação a situação era diferente. Havia uma população clandestina que se movimentava à noite, quando as luzes se apagavam, deixando vestígios de sua passagem quando novo dia clareava. Eram os ratos, figuras típicas de casarões antigos. Certo dia (contam-me), um líder sindical da região, conhecido pela falta de caráter, foi ao jornal e, no momento em que ele entrava, um roedor (ignorando as regras sobre tráfego diurno) atravessou o salão calmamente. O repórter gaiato não deixou por menos e foi avisando “Rato na redação!”. A bem da verdade eram dois.  

Enfim, vivemos grandes emoções, como disse uma vez um compositor que não muda de penteado há 50 anos.  
GALERIA 

Francisco Rubio PACO, Flávio Ribas, Laudo Natel, Ricardo Schiavetto,
 José Escandon e Blandy.
Carnaval (s/d)- "camarote" da imprensa santista.

Prefeito Oswaldo Justo se exibindo para o nosso editor.





Momento de grandes decisões. 

Confraternização na praia do Gonzaga.

domingo, 10 de setembro de 2017

O BAILE COR-DE-R0SA
Viúvo, D. Pedro I continuava suas conquistas de alcova. Mais uma vez acharam que a solução seria casamento. Felisberto Caldeira Brant, marquês de Barbacena, foi encarregado de encontrar uma esposa para o Imperador. O imperador entregou-lhe três cheques em branco contra os Rothchilds para encontrar uma noiva que “por seu nascimento, formosura, virtudes e instrução venha a fazer a minha felicidade e a do Império”. Se o marquês não conseguisse alguém com as quatro qualidades, ele admitia “alguma diminuição na primeira e na quarta, contanto que a segunda e a terceira sejam constantes” – escreve Paulo Setúbal.
Barbacena gastou a soma de três mil contos de réis! Para se ter uma ideia dessa quantia, na época, comprava-se a melhor casa da Rua do Ouvidor por um conto de réis, segundo Setúbal. Apesar de o Imperador aprovar as contas do marquês, mais tarde esses gastos foram usados para promover a desgraça de Barbacena junto a D. Pedro I.
         As circunstâncias obscuras da morte de D. Leopoldina não ajudaram muito a tarefa. Após receber várias negativas às pretensões do imperador, indicaram ao marquês a sobrinha do Rei da Baviera, D. Amélia Eugênia Napoleona de Leuchtemberg (1812-1873), neta de Josefina de Beauharnais, a mulher de Napoleão Bonaparte. Dizem as más línguas que estava longe de ser o melhor partido para um príncipe, mas foi o melhor que a diplomacia nativa conseguiu.
Finalmente, no dia 16 de outubro de 1829, desembarcou no Rio de Janeiro, a segunda esposa de D. Pedro I. Dois dias depois os salões do Paço de São Cristóvão abriram-se para o “baile cor-de-rosa”. Paulo Setúbal conta (no mesmo livro) que “foi o mais rutilante, o mais famoso da época”.

“D. Amélia, ao chegar ao Rio de Janeiro, trouxera um soberbo vestido cor-de-rosa. Era a cor da sua paixão. E a corte por gentileza, ofereceu à Imperatriz um baile cor-de-rosa. O próprio D. Pedro, por uma galanteria principesca, criara nesse dia a “Ordem da Rosa” cujo lema era Amor e Fidelidade. (A amante Domitila de Castro fora banida da corte assim que o casamento fora acertado.)
Nem é preciso dizer que todos os tecidos cor-de-rosa desapareceram da cidade. “Na Rua do Ouvidor, em frente ao Wallenstein, grandes caleches envidraçadas. Nas oficinas da casa elegante, entre modistas que alinhavam e chuleiam, vai um formigante entra e sai de damas fidalgas.”
Quando os imperadores entram no salão, “a corte inteira vibra. É uma apoteose. Mas aquilo dura um instante. D. Pedro, sem tardar, faz um gesto ao mestre-sala. A música rompe. É a quadrilha! Os pares agitam-se para a velha, a clássica, a queridíssima quadrilha. Tudo a postos! D. Pedro e D. Amélia vão dançar. Os marqueses de Barbacena têm a honra de ser os vis-à-vis dos soberanos. E o mestre-sala, quando as filas cor-de-rosa se estendem ao comprido do salão, grita com entono:
- Atténcion!
Há um relâmpago de silêncio. E o mestre-sala, alto e solene:
- En avant, tous!”
E o baile começou.

O casal teve apenas uma filha: Maria Amélia do Brasil, que nasceu em Paris em 1831.  

sexta-feira, 8 de setembro de 2017

BAILES BRASILEIROS (I)

Era uma vez um príncipe de 17 anos, bonitinho apesar de ser bochechudo (traço que herdara do pai). Ele era do tipo esportivo. Adorava a vida ao ar livre, mas gostava muito de música e até fazia algumas composições (é verdade que só uma faria sucesso). O príncipe, que tinha o fantástico nome de Pedro de Alcântara Francisco Antônio João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim de Bragança e Bourbon (ufa!), era imbatível apenas nas conquistas amorosas. Não ficaria famoso pelo bom gênio. Era temperamental e irascível como a mãe – que, aliás, preferia o filho mais novo, que não primava pelo bom caráter como ela.
D. Pedro e D. Leopoldina, tela de
Simplício Rodrigues de Sá.
Preocupado com o futuro do herdeiro e na esperança de aquietá-lo, o pai decidiu que era tempo de casar o rapaz e garantir a sucessão do reino. Assim, mandou um embaixador percorrer as cortes mais importantes da época em busca de uma princesa para o seu rapaz.  Uma tarefa difícil porque todas as boas casas europeias queriam o melhor (do ponto de vista político, naturalmente) para suas filhas e o obscuro príncipe em questão vivia em terras longínquas e estranhas. Após longas negociações a escolhida foi a arquiduquesa Carolina Josefa Leopoldina Francisca Fernanda Beatriz de Habsburgo-Lorena, 19 anos, com esmerada educação. Ela era  filha do segundo casamento do imperador Francisco I, da Áustria.
Paulo Setúbal conta no livro As Maluquices do Imperador (SP. Saraiva Livreiros Editores. 1926) que D. João determinou que o Marquês de Marialva, Pedro José Joaquim Vito de Meneses Coutinho (1775-1823), embaixador português em Paris, fosse a Viena tratar das núpcias com as pompas adequadas à casa imperial austríaca.
O marquês de Marialva não se limitou a “gastar as grossas ordens que vieram de D. João”. Ele dissipou em um baile em honra da princesa toda a herança que herdara do pai! O casamento do príncipe brasileiro, herdeiro do trono de Portugal, do Brasil e Algarves, foi marcado por um baile excêntrico e milionário.
Nesse baile, o embaixador recebeu a toda a corte de Viena. “Às nove horas, ao som do hino, entraram os Imperadores. Vieram com Suas Majestades todos os arquiduques e todas as arquiduquesas. Vieram também o Príncipe Real da Baviera e o Duque de Saxe. Metternich, com o fardão recamado de crachás, compareceu em grande gala. (...) Rompeu o baile a Senhora D. Leopoldina. Sua Alteza dançou uma polonaise com o Senhor Marquês de Marialva. Os monarcas não dançaram. Mas Suas Majestades felicitaram rasgadamente o Embaixador pelo deslumbramento da festa. Aquilo era um conto de fadas!”         


quinta-feira, 7 de setembro de 2017

 INDEPENDÊNCIA OU MORTE

Nos 195 anos da Independência do Brasil, uma homenagem à mulher por trás do trono: Carolina Josefa Leopoldina Francisca Fernanda (1797-1926), a arquiduquesa da Áustria, que atravessou o Atlântico para se casar no Brasil com o príncipe português Pedro de Alcântara. Ela foi mais que esposa. Teve papel político importante e tinha a confiança do segundo homem mais poderoso do Brasil: José Bonifácio de Andrada e Silva (1763-1829). Antes de partir para Santos no dia 13 de agosto de 1822, D. Pedro nomeou Leopoldina chefe do Conselho de Estado e Princesa Regente Interina do Brasil, com poderes legais para governar o país durante a sua ausência. Em setembro em meio a uma crise, Paulo Beregaro partiu do Rio de Janeiro encarregado de entregar três cartas a D. Pedro. Uma delas era de Leopoldina incentivando o marido a dar o passo decisivo para a independência do Brasil. As outras duas eram de José Bonifácio e de Antonio Carlos (1773-1845), que se encontrava em Lisboa. Bregaro encontrou o príncipe no alto do Ipiranga de volta para o Rio. 
. As outras duas eram de José Bonifácio e de Antonio Carlos (1773-1845), que se encontrava em Lisboa. Bregaro saíra do Rio de Janeiro em direção a Santos e encontrou o príncipe no alto do Ipiranga de volta para o Rio.
Leopoldina era inteligente e educada. Tinha 19 anos quando se casou com D. Pedro. O casal sete filhos entre eles D. Maria que foi rainha de Portugal e D. Pedro, o segundo imperador do Brasil. Sempre foi querida pelos brasileiros e se interessou pelas questões da terra. Os historiadores se dividem sobre a causa da morte dela. A versão de violência doméstica cujas únicas testemunhas teriam sido ela, o marido e a amante dele, Maria Domitila de Castro Canto e Melo, foi contrariada em 2012 com a exumação do corpo que não revelou fraturas.
A arqueóloga Valdirene do Carmo Ambiel em seu trabalho de mestrado na Universidade de São Paulo (Museu de Arqueologia e Etnologia), declarou que “Com base em fontes primárias, vimos que a morte dela não foi consequência de uma agressão de Dom Pedro I. Não podemos falar que ela nunca tenha sido agredida, mas podemos garantir que nunca houve ato que levasse a alguma fratura, menos ainda que a pudesse levar à morte”. (Veja, fevereiro, 2013.)
Leopoldina era irmã de Maria Luísa da Áustria (1791-1847), segunda esposa de  Napoleão Bonaparte.  



sexta-feira, 1 de setembro de 2017

BRANCA DE NEVE

          Primeiro foi no livro de histórias dos irmãos Grimm e depois no filme da Disney. A história da Branca de Neve certamente deu encanto à minha infância. Na fase adulta, inevitável a descoberta das múltiplas interpretações que a história permite, especialmente, usando a psicanálise como instrumento. O enredo é simples: a beleza da princesa adolescente desperta a inveja da madrasta e a rainha, que contrata um caçador para matar a enteada. A princesa foge e perde-se na floresta, onde encontra o apoio dos animais e a amizade de um grupo de anões. Eles a protegem até que a rainha a localiza e vai até a cabana onde lhe oferece a maçã envenenada. Branca de Neve cai em sono profundo do qual só despertará tempos quando um príncipe a encontra e, encantado com a sua beleza da moça, a beija.
          Grimm usou a versão comum no século XIX, mas há outras versões na tradição alemã e como sempre a história sofreu várias alterações ao longo do tempo. Walt Disney escolheu “Branca de Neve e os Sete Anões” para fazer o primeiro desenho animado em cores da história do cinema.  O lançamento ocorreu em 21 de dezembro de 1937. Que presente de Natal!
          Enfim, tudo isso para dizer que esta semana assisti a “Branca de Neve”, do diretor espanhol Pablo Berger. Maravilhoso. A fotografia, a música, as duas atrizes, a inserção da história na cultura espanhola, a religião e a magia, a crítica ao mau jornalismo; a visão politicamente (quase) correta para as touradas... Um conto para adultos, sem preconceitos e falsos pudores.

          Um bom filme nos leva a ansiar pela próxima cena, especialmente, se já se conhece a história. Berger nos manipula. Ali, estão a princesa, a madrasta, o caçador, a maçã, o príncipe, beijo e todos aqueles sentimentos ruins que movem a humanidade contra aqueles seres bons, ingênuos e desprotegidos... E a história vai se tornando cada vez mais densa, curiosa e mesmo fantástica. Não faltam nas cenas finais daquele misto do culto ao morto com um toque de necrofilia, que longe de ser chocante abre uma infinidade de interpretações.
O filme me remeteu a muitas outras obras – desde o original de Grimm até cenas da “Carmen”, de Saura (“las manos como palomas”, dizia a mestra), de Luis Buñuel (A Bela da Tarde), de “O encontro marcado”, de Fernando Sabino (a ave de estimação servida para a criança), passando pela crítica ao mau jornalismo que aciona a tragédia e por aí vai. E não poderia terminar de forma mais fascinante: só uma lágrima e que daria um tratado sobre os possíveis significados.
Detalhe: o filme é em preto e branco e mudo.
Esta Branca de Neve está entre os meus filmes favoritos.
 
Plaza de Toros de Sevilha (2010).
Branca de Neve (2012), de Pablo Berger. Elenco: Maribel Verdú, Macarena Garcia e Angela Molina.