sexta-feira, 1 de setembro de 2017

BRANCA DE NEVE

          Primeiro foi no livro de histórias dos irmãos Grimm e depois no filme da Disney. A história da Branca de Neve certamente deu encanto à minha infância. Na fase adulta, inevitável a descoberta das múltiplas interpretações que a história permite, especialmente, usando a psicanálise como instrumento. O enredo é simples: a beleza da princesa adolescente desperta a inveja da madrasta e a rainha, que contrata um caçador para matar a enteada. A princesa foge e perde-se na floresta, onde encontra o apoio dos animais e a amizade de um grupo de anões. Eles a protegem até que a rainha a localiza e vai até a cabana onde lhe oferece a maçã envenenada. Branca de Neve cai em sono profundo do qual só despertará tempos quando um príncipe a encontra e, encantado com a sua beleza da moça, a beija.
          Grimm usou a versão comum no século XIX, mas há outras versões na tradição alemã e como sempre a história sofreu várias alterações ao longo do tempo. Walt Disney escolheu “Branca de Neve e os Sete Anões” para fazer o primeiro desenho animado em cores da história do cinema.  O lançamento ocorreu em 21 de dezembro de 1937. Que presente de Natal!
          Enfim, tudo isso para dizer que esta semana assisti a “Branca de Neve”, do diretor espanhol Pablo Berger. Maravilhoso. A fotografia, a música, as duas atrizes, a inserção da história na cultura espanhola, a religião e a magia, a crítica ao mau jornalismo; a visão politicamente (quase) correta para as touradas... Um conto para adultos, sem preconceitos e falsos pudores.

          Um bom filme nos leva a ansiar pela próxima cena, especialmente, se já se conhece a história. Berger nos manipula. Ali, estão a princesa, a madrasta, o caçador, a maçã, o príncipe, beijo e todos aqueles sentimentos ruins que movem a humanidade contra aqueles seres bons, ingênuos e desprotegidos... E a história vai se tornando cada vez mais densa, curiosa e mesmo fantástica. Não faltam nas cenas finais daquele misto do culto ao morto com um toque de necrofilia, que longe de ser chocante abre uma infinidade de interpretações.
O filme me remeteu a muitas outras obras – desde o original de Grimm até cenas da “Carmen”, de Saura (“las manos como palomas”, dizia a mestra), de Luis Buñuel (A Bela da Tarde), de “O encontro marcado”, de Fernando Sabino (a ave de estimação servida para a criança), passando pela crítica ao mau jornalismo que aciona a tragédia e por aí vai. E não poderia terminar de forma mais fascinante: só uma lágrima e que daria um tratado sobre os possíveis significados.
Detalhe: o filme é em preto e branco e mudo.
Esta Branca de Neve está entre os meus filmes favoritos.
 
Plaza de Toros de Sevilha (2010).
Branca de Neve (2012), de Pablo Berger. Elenco: Maribel Verdú, Macarena Garcia e Angela Molina. 

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