BRANCA DE NEVE
Primeiro foi no livro de histórias dos
irmãos Grimm e depois no filme da Disney. A história da Branca de Neve
certamente deu encanto à minha infância. Na fase adulta, inevitável a
descoberta das múltiplas interpretações que a história permite, especialmente,
usando a psicanálise como instrumento. O enredo é simples: a beleza da princesa
adolescente desperta a inveja da madrasta e a rainha, que contrata um caçador para
matar a enteada. A princesa foge e perde-se na floresta, onde encontra o apoio
dos animais e a amizade de um grupo de anões. Eles a protegem até que a rainha
a localiza e vai até a cabana onde lhe oferece a maçã envenenada. Branca de
Neve cai em sono profundo do qual só despertará tempos quando um príncipe a
encontra e, encantado com a sua beleza da moça, a beija.
Grimm usou a versão comum no século
XIX, mas há outras versões na tradição alemã e como sempre a história sofreu
várias alterações ao longo do tempo. Walt Disney escolheu “Branca de Neve e os Sete
Anões” para fazer o primeiro desenho animado em cores da história do cinema. O lançamento ocorreu em 21 de dezembro de
1937. Que presente de Natal!
Enfim, tudo isso para dizer que esta
semana assisti a “Branca de Neve”, do diretor espanhol Pablo Berger.
Maravilhoso. A fotografia, a música, as duas atrizes, a inserção da história na
cultura espanhola, a religião e a magia, a crítica ao mau jornalismo; a visão politicamente
(quase) correta para as touradas... Um conto para adultos, sem preconceitos e
falsos pudores.
Um bom filme nos leva a ansiar pela
próxima cena, especialmente, se já se conhece a história. Berger nos manipula.
Ali, estão a princesa, a madrasta, o caçador, a maçã, o príncipe, beijo e todos
aqueles sentimentos ruins que movem a humanidade contra aqueles seres bons, ingênuos
e desprotegidos... E a história vai se tornando cada vez mais densa, curiosa e
mesmo fantástica. Não faltam nas cenas finais daquele misto do culto ao morto
com um toque de necrofilia, que longe de ser chocante abre uma infinidade de
interpretações.
O
filme me remeteu a muitas outras obras – desde o original de Grimm até cenas da
“Carmen”, de Saura (“las manos como palomas”, dizia a mestra), de Luis Buñuel (A Bela da Tarde), de
“O encontro marcado”, de Fernando Sabino (a ave de estimação servida para a
criança), passando pela crítica ao mau jornalismo que aciona a tragédia e por
aí vai. E não poderia terminar de forma mais fascinante: só uma lágrima e que
daria um tratado sobre os possíveis significados.
Detalhe:
o filme é em preto e branco e mudo.
Esta
Branca de Neve está entre os meus filmes favoritos.
Plaza de Toros de Sevilha (2010).
Branca
de Neve (2012), de Pablo Berger. Elenco: Maribel Verdú, Macarena
Garcia e Angela Molina.
Nenhum comentário:
Postar um comentário