PAUTEIROS E PAUTAS
Repórter vive de
pautas de pautas que ele recebe, cria ou que outros sugerem, inclusive o
público (leitor, ouvinte e telespectador). Evidentemente, grandes matérias
podem simplesmente cair no colo dele.
Assim, o dia do repórter pode ser bom ou mau de acordo com a pauta.
Quando comecei no jornal CIDADE DE SANTOS
(1967), eu era brindada quase todos os dias com pautas sobre casas de benemerência.
Mas logo passei a repórter especial, com missões mais importantes, inclusive
uma coluna sobre os bairros da cidade que dava grande visibilidade ao jornal.
Subi morros, frequentei favelas, ouvi queixas e reivindicações de todos os
tipos da população desafortunada. Recebi pautas de todos os tipos. Entrevistei
políticos, artistas, atletas, intelectuais e, principalmente, gente anônima que
me deu muito mais prazer do que “celebridades”.
Havia aquelas pautas fatídicas que saltavam da gaveta quando o calendário
marcava 1º de Janeiro, Dia das Mães, Finados e Natal. (O primeiro bebê do ano, a mãe do ano,
limpeza dos cemitérios e os velhinhos dos asilos.)
Minha primeira cobertura de enchente foi no Vale do Ribeira, onde a chuva
intensa provocara deslizamentos e o fechamento da “rodovia da banana”.
Estávamos eu e Mário Taddei, o repórter fotográfico, em uma F-100 que não
conseguia chegar ao local em que os motoristas se encontravam atolados. Foi a
primeira e única vez em que hesitei, mas só até ouvir Mário resmungar que o
jeito era ir andando. Então tirei as sandálias e, com nojo, mergulhei os pés na
lama. Depois disso cobri inúmeras enchentes na Zona Noroeste de Santos e em
Cubatão – com água na cintura em plena Avenida Nove de Abril ou na Vila Parisi,
à margem da rodovia Piaçaguera – Guarujá, acompanhando bombeiros ou o pessoal
da Defesa Civil. Ercília Feitosa, grande repórter e amiga, foi parceira dessas
matérias aquáticas. O que me aborrecia mais era ouvir as declarações de
autoridades sobre a situação que se repetia sempre. Algumas vezes, no final do
dia, os socorristas ofereciam um copinho de cachaça para espantar o frio e
esquecer as roupas encharcadas. (Acho que foi um bom remédio porque nunca tive
sequelas por causa daquelas águas contaminadas.)
ZOOLÓGICO – Os animais tiveram um papel
interessante na história do jornal, que era a menina dos olhos de Carlos
Caldeira Filho. Caldeira tinha outra paixão: cães pastores alemães. Muitas
vezes as chefias tinham que atender requisições de veículo da empresa para
levar os pastores para algum concurso canino. As notícias que esperassem. E,
claro, um repórter era destacado para cobrir o evento. O diretor do jornal adorava
curiós e, pasmem, coberturas especiais para os concursos de cantoria das aves.
No arquivo, Eduardo Leite e companhia viviam às voltas com pombos que arrulhavam
e faziam ninhos junto à janela, o que obrigava a manter os vidros fechados. Na
redação a situação era diferente. Havia uma população clandestina que se
movimentava à noite, quando as luzes se apagavam, deixando vestígios de sua
passagem quando novo dia clareava. Eram os ratos, figuras típicas de casarões
antigos. Certo dia (contam-me), um líder sindical da região, conhecido pela
falta de caráter, foi ao jornal e, no momento em que ele entrava, um roedor
(ignorando as regras sobre tráfego diurno) atravessou o salão calmamente. O
repórter gaiato não deixou por menos e foi avisando “Rato na redação!”. A bem
da verdade eram dois.
Enfim, vivemos grandes emoções, como disse uma vez um compositor que não
muda de penteado há 50 anos.
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