O BAILE COR-DE-R0SA
Viúvo, D. Pedro I continuava suas conquistas de alcova. Mais uma vez
acharam que a solução seria casamento. Felisberto Caldeira Brant, marquês de
Barbacena, foi encarregado de encontrar uma esposa para o Imperador. O
imperador entregou-lhe três cheques em branco contra os Rothchilds para
encontrar uma noiva que “por seu nascimento, formosura, virtudes e instrução
venha a fazer a minha felicidade e a do Império”. Se o marquês não conseguisse
alguém com as quatro qualidades, ele admitia “alguma diminuição na primeira e
na quarta, contanto que a segunda e a terceira sejam constantes” – escreve
Paulo Setúbal.
Barbacena gastou a
soma de três mil contos de réis! Para se ter uma ideia dessa quantia, na época,
comprava-se a melhor casa da Rua do Ouvidor por um conto de réis, segundo
Setúbal. Apesar de o Imperador aprovar as contas do marquês, mais tarde esses
gastos foram usados para promover a desgraça de Barbacena junto a D. Pedro I.
As circunstâncias obscuras da morte de
D. Leopoldina não ajudaram muito a tarefa. Após receber várias negativas às pretensões
do imperador, indicaram ao marquês a sobrinha do Rei da Baviera, D. Amélia
Eugênia Napoleona de Leuchtemberg (1812-1873), neta de Josefina de Beauharnais,
a mulher de Napoleão Bonaparte. Dizem as más línguas que estava longe de ser o
melhor partido para um príncipe, mas foi o melhor que a diplomacia nativa
conseguiu.
Finalmente, no dia
16 de outubro de 1829, desembarcou no Rio de Janeiro, a segunda esposa de D.
Pedro I. Dois dias depois os salões do Paço de São Cristóvão abriram-se para o
“baile cor-de-rosa”. Paulo Setúbal conta (no mesmo livro) que “foi o mais
rutilante, o mais famoso da época”.
“D. Amélia, ao chegar
ao Rio de Janeiro, trouxera um soberbo vestido cor-de-rosa. Era a cor da sua
paixão. E a corte por gentileza, ofereceu à Imperatriz um baile cor-de-rosa. O
próprio D. Pedro, por uma galanteria principesca, criara nesse dia a “Ordem da
Rosa” cujo lema era Amor e Fidelidade. (A amante Domitila de Castro fora banida
da corte assim que o casamento fora acertado.)
Nem é preciso
dizer que todos os tecidos cor-de-rosa desapareceram da cidade. “Na Rua do
Ouvidor, em frente ao Wallenstein, grandes caleches envidraçadas. Nas oficinas
da casa elegante, entre modistas que alinhavam e chuleiam, vai um formigante
entra e sai de damas fidalgas.”
Quando os
imperadores entram no salão, “a corte inteira vibra. É uma apoteose. Mas aquilo
dura um instante. D. Pedro, sem tardar, faz um gesto ao mestre-sala. A música
rompe. É a quadrilha! Os pares agitam-se para a velha, a clássica, a
queridíssima quadrilha. Tudo a postos! D. Pedro e D. Amélia vão dançar. Os
marqueses de Barbacena têm a honra de ser os vis-à-vis dos soberanos. E o
mestre-sala, quando as filas cor-de-rosa se estendem ao comprido do salão,
grita com entono:
- Atténcion!
Há um relâmpago de
silêncio. E o mestre-sala, alto e solene:
- En avant, tous!”
E o baile começou.
O casal teve
apenas uma filha: Maria Amélia do Brasil, que nasceu em Paris em 1831.
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