domingo, 10 de setembro de 2017

O BAILE COR-DE-R0SA
Viúvo, D. Pedro I continuava suas conquistas de alcova. Mais uma vez acharam que a solução seria casamento. Felisberto Caldeira Brant, marquês de Barbacena, foi encarregado de encontrar uma esposa para o Imperador. O imperador entregou-lhe três cheques em branco contra os Rothchilds para encontrar uma noiva que “por seu nascimento, formosura, virtudes e instrução venha a fazer a minha felicidade e a do Império”. Se o marquês não conseguisse alguém com as quatro qualidades, ele admitia “alguma diminuição na primeira e na quarta, contanto que a segunda e a terceira sejam constantes” – escreve Paulo Setúbal.
Barbacena gastou a soma de três mil contos de réis! Para se ter uma ideia dessa quantia, na época, comprava-se a melhor casa da Rua do Ouvidor por um conto de réis, segundo Setúbal. Apesar de o Imperador aprovar as contas do marquês, mais tarde esses gastos foram usados para promover a desgraça de Barbacena junto a D. Pedro I.
         As circunstâncias obscuras da morte de D. Leopoldina não ajudaram muito a tarefa. Após receber várias negativas às pretensões do imperador, indicaram ao marquês a sobrinha do Rei da Baviera, D. Amélia Eugênia Napoleona de Leuchtemberg (1812-1873), neta de Josefina de Beauharnais, a mulher de Napoleão Bonaparte. Dizem as más línguas que estava longe de ser o melhor partido para um príncipe, mas foi o melhor que a diplomacia nativa conseguiu.
Finalmente, no dia 16 de outubro de 1829, desembarcou no Rio de Janeiro, a segunda esposa de D. Pedro I. Dois dias depois os salões do Paço de São Cristóvão abriram-se para o “baile cor-de-rosa”. Paulo Setúbal conta (no mesmo livro) que “foi o mais rutilante, o mais famoso da época”.

“D. Amélia, ao chegar ao Rio de Janeiro, trouxera um soberbo vestido cor-de-rosa. Era a cor da sua paixão. E a corte por gentileza, ofereceu à Imperatriz um baile cor-de-rosa. O próprio D. Pedro, por uma galanteria principesca, criara nesse dia a “Ordem da Rosa” cujo lema era Amor e Fidelidade. (A amante Domitila de Castro fora banida da corte assim que o casamento fora acertado.)
Nem é preciso dizer que todos os tecidos cor-de-rosa desapareceram da cidade. “Na Rua do Ouvidor, em frente ao Wallenstein, grandes caleches envidraçadas. Nas oficinas da casa elegante, entre modistas que alinhavam e chuleiam, vai um formigante entra e sai de damas fidalgas.”
Quando os imperadores entram no salão, “a corte inteira vibra. É uma apoteose. Mas aquilo dura um instante. D. Pedro, sem tardar, faz um gesto ao mestre-sala. A música rompe. É a quadrilha! Os pares agitam-se para a velha, a clássica, a queridíssima quadrilha. Tudo a postos! D. Pedro e D. Amélia vão dançar. Os marqueses de Barbacena têm a honra de ser os vis-à-vis dos soberanos. E o mestre-sala, quando as filas cor-de-rosa se estendem ao comprido do salão, grita com entono:
- Atténcion!
Há um relâmpago de silêncio. E o mestre-sala, alto e solene:
- En avant, tous!”
E o baile começou.

O casal teve apenas uma filha: Maria Amélia do Brasil, que nasceu em Paris em 1831.  

Nenhum comentário: