Estátuas também
têm seus percalços. O Pescador é um bom exemplo. Nos anos 1970, o
bairro da Ponta da Praia ainda era coberto por vegetação rústica, onde se
encontravam casebres de pescadores e até pequenos estaleiros. No final da tarde,
era possível assistir à chegada de barcos na praia, donas de casa esperando
para comprar o pescado fresquinho, o transporte dos peixes e os urubus que
faziam a festa com o que restava na areia. Por que me lembro disso? Bem, a
questão é que a cidade homenageou a Colônia de Pescadores do Estado de São
Paulo com uma pequena e simpática estátua, inaugurada em 1941 em frente ao
Instituto Dona Escolástica Rosa, no bairro de Aparecida. O criador foi Ricardo Cipicchia
(1885-1969), artista
italiano radicado em São Paulo.
Entretanto, a cidade
lembrou, tardiamente, de homenagear João Otávio dos Santos
(1830-1900), o idealizador do Instituto Dona Escolástica Rosa, destinado à "educação
intelectual e profissional de meninos pobres, em princípios
prevocacionais". Foi encomendado um monumento e a obra assinada por
Caetano Fracarolli foi inaugurada em 1960 em frente ao Escolástica Rosa. Nem
precisa dizer que o Pescador foi despejado, ou melhor, exilado para a outra
extremidade da praia, no José Menino, na divisa com São Vicente.
Se o bom senso
nem sempre é o forte de administradores em geral, a prudência não caracteriza
muitos motoristas como pôde provar a pobre estátua, vítima por duas vezes de
abalroamento de veículos. Para salvá-la dos maus motoristas, no dia de São
Pedro de 1976, foi transferida para a Ponta da Praia. Ficou por muitos anos em
frente à estação das balsas; contudo, o destino errante da obra de arte ainda não
havia terminado. Em 2009 a Prefeitura levou o Pescador para os jardins da praia,
perto do Aquário Municipal, e o colocou em meio a um espelho d’água. Uma ideia simples
e muito boa. Com um cardume de metal cromado adicionado ao lago, o Pescador parece
estar sempre em ação, lançando a tarrafa em direção aos peixes. Enfim, está
próximo da população.
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