Fevereiro
vai chegando ao fim. Este ano sem carnaval. O Ano Novo perde seu encanto e caímos
na rotina. Antes, bem atrasado, o velho Momo chegará com as águas de março,
acompanhado de Como e Baco, para mais um carnaval – nome com que o cristianismo
tentou vencer as saturnálias Greco-romanas. Ofereceu aos adeptos três dias de
festa para um adeus à carne antes da quaresma. Assim, o profano entrou para o
sagrado, embora a maioria das pessoas nem se dê conta.
No Brasil, o carnaval é parte importante da cultura nacional. Divide
opiniões. Uns amam, outros odeiam. Eu não gosto do Carnaval, mas aprecio muito
a riqueza da música que se produziu na primeira metade do século passado a
partir do verdadeiro espírito da festa. Música maliciosa, cheia de crítica
(política e social) e de sarcasmo. Basta uma rápida olhada pelos títulos das
marchinhas, frevos e sambas para saber o que acontecia no país e preocupava o
povo.
É verdade também que a mulher era o tema da maioria das composições – a amada,
gostosa, traidora, indigesta e a ideal. Os rapazes estavam sempre sofrendo por
elas, mas não desistiam embora algumas vezes assumissem o papel de detratores. Quando
se trata de composição musical, os homens são a maioria embora a grande
composição de Carnaval seja de autoria de uma mulher, a maravilhosa Chiquinha
Gonzaga (1847-1935), muito à frente do seu tempo: "Ô ABRE ALAS". Contudo, as músicas contavam com grandes
intérpretes e cantoras como Cynara Rios (?), Aracy de Almeida (1914-1988),
Carmen Miranda (1909-1955), Odete Amaral (1917-1984) e Dircinha (1922-1999) e
Linda Batista (1919-1988). Ah! Claro! Emilinha Borba (1923-2005) e Marlene
(1922-2014) entre muitas outras.
O carnaval mudou e o que se fazia antes nesses três dias agora é
rotineiro. A malícia, a sutileza e o insinuante das músicas foram trocados pelo
explícito e grosseiro, mas os adeptos da hipocrisia do politicamente correto
estão atentos para criticar a realidade de um tempo que não viveram.
Enquanto não se ouve soar a Fanfarra do Carnaval Brasileiro (domínio
público), podemos nos deleitar com a arte de grandes pintores.
O Triunfo de Baco, 1628/29, óleo sobre tela do pintor espanhol
Diego Velázquez (1599-1660). Museu do Prado.
Baco, de Peter Paul Rubens (1577-1640).
A Juventude de Baco, 1884, do pintor francês William-Adolphe Bouguereau, (1825-1905).
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