segunda-feira, 27 de setembro de 2021

OS ORELHÕES ESTÃO DESAPARECENDO

Quando ele surgiu em 1972, foi saudado com bom humor pelo público que, bem ao estilo brasileiro, logo lhe deu um apelido que se ajustou perfeitamente ao novo equipamento das cidades: orelhão. Pouco menos de cinquenta anos depois, discretamente ele está desaparecendo do cenário urbano, deixando muitas histórias emocionantes na lembrança da população. 

O que pouca gente sabe é que o famoso protetor dos telefones públicos foi criado pela arquiteta Chu Ming Silveira (1941-1997). Chu Ming, na época chefe da seção de projetos do Departamento de Engenharia da Companhia Telefônica Brasileira ‒ CTB, realizou um trabalho perfeito: o novo equipamento urbano protegia o aparelho e o usuário, tinha baixo custo de fabricação, instalação e manutenção, além de boa acústica e estética atraente; era durável e, principalmente, fácil de usar. Ela se inspirou no formato do ovo porque achava que era a forma de melhor acústica. O orelhão foi um sucesso tão grande que logo foi adotado no Paraguai, Peru, Colômbia, China, Angola e Moçambique.

Os primeiros orelhões foram instalados no Rio de Janeiro no dia do padroeiro da cidade: 20 de janeiro de 1972. Em seguida foi a vez de São Paulo que recebeu 170 aparelhos no dia do aniversario: 25 de janeiro. O nome que Chu Ming Silveira dera ao equipamento era bem mais romântico: tulipa, o que (pelo menos no Brasil) não vingou.

Após décadas de relevantes serviços, com o advento da telefonia móvel e a sua popularização, os telefones públicos foram se tornando menos utilizados e os orelhões tornaram-se vítimas de vândalos e passaram a ser usados para colocar adesivos com números de telefone de pessoas que ofereciam serviços (especialmente de acompanhantes para “programas”).

Havia um orelhão em frente ao meu prédio e foi substituído por uma árvore. Sei que há telefones públicos nas Estações do metrô, mas não tenho ideia de onde se compram os cartões que, antigamente, encontravam-se em todas as bancas de jornais.

Chu Ming Silveira nasceu em Xangai, China. A família mudou para o Brasil, estabelecendo-se em São Paulo, onde ela se formou arquiteta pelo Mackenzie em 1964.

As fotos foram tiradas há alguns anos na Avenida Paulista e na Praça da Luz.


Nenhum comentário: