quarta-feira, 2 de março de 2022

TRÁGICA HISTÓRIA DE UM PALACETE

A cidade de São Paulo ganhou um castelinho em 1912, em plena República. Situado na Rua APA, 236 (Santa Cecília), o palacete era propriedade do professor e empresário Virgílio Guimarães dos Reis, casado com Maria Cândida. O casal teve dois filhos. Em 1937, Virgílio morreu. Na época, Maria Cândida estava com 73 anos e tinha como companhia uma empregada que morava com o marido na edícula, sem comunicação com a casa. Os filhos, ambos advogados e solteiros, moravam nas vizinhanças.

Na noite do dia 12 de maio de 1937, ela jantou sozinha e mais tarde os rapazes chegaram para visitar a mãe. A empregada contou a polícia que os tiros foram ouvidos por volta das 21 horas. Quando a polícia chegou, encontrou os três corpos e um grande mistério que nunca foi desvendado. Após investigação constataram que foram usadas duas armas, uma delas de uso privativo do Exército, e ao todo foram disparados sete tiros. Quem atirou em quem? Havia uma quarta pessoa na casa? O motivo? A manchete sensacionalista (e mal escrita) do CORREIO DE S. PAULO dizia: “Matando a mãe e o irmão a tiros de ‘Parabellum’ advogado suicidou-se”. Suspeitou-se à época que fosse desentendimento sobre a divisão da herança de Virgílio dos Reis.

Enfim, o caso não foi resolvido. Sem herdeiros, o palacete tornou-se herança vacante e passou para o patrimônio da União. Nos anos de 1950, tornou-se residência da família Otávio Manzaro que lá morou até 1982. Depois o imóvel foi do abandono ao uso irregular como depósito para catadores de papel. O processo de tombamento, iniciado em 1991, se concretizou em 2004; mais treze anos até começar o restauro. Atualmente, é sede de uma ONG.

        Nos anos de 1990, foi cenário de uma peça que envolvia a plateia: o público acompanhava os atores pelos diversos cômodos da casa e, no final, todos participavam de um jantar cujo valor estava incluído no ingresso. 

    PS. ‒ Como alguém me perguntou por que a rua se chama Apa, informo que se trata do nome de um rio na fronteira do Brasil com Paraguai. 

Foto: Hilda Araújo, 27/02/2022. 

Fonte: Fundação Biblioteca Nacional. 


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