sábado, 30 de abril de 2022

TRABALHO

 NÃO FIZ NADA, bem sei, nem o farei,

Mas de não fazer nada isto tirei,

Que fazer tudo e nada é tudo o mesmo,

Quem sou é o espectro do que não serei.

 

Vivemos aos encontros do abandono

Sem verdade, sem dúvida nem dono.

Boa é a vida, mas melhor é o vinho.

O amor é bom, mas é melhor o sono.

 

Fernando Pessoa/ Obra poética.

Empregada da cervejaria (c. 1878), óleo sobre tela de Édouard Manet.

 

Colheita de feno em Éragny (1901), óleo sobre tela de Camille Pissarro (1830-1903).

 

Homens trabalhando (1922), óleo sobre tela da mineira Zina Aita (1900-1967).

 

Costureiras ( 1936), óleo sobre tela de Tarsila do Amaral (1886-1973)


Varredores de Rua [Os Garis] (1935óleo sobre tela de Carlos Prado (1908-1992).


 

CACAU (1938) afresco de Cândido Portinari (1903-1962)

 

Os pescadores (1943), óleo sobre tela do paraibano Tomás Santa Rosa (1909-1956).

 

A moenda (1951), óleo sobre tela de Heitor dos Prazeres (1898-1966).


HORÁRIO DE TRABALHO

Depois da treze poderei sofrer:
antes, não.
Tenho os papéis, tenho os telefonemas,
tenho as obrigações, à hora-certa.

Depois irei almoçar vagamente
para sobreviver,
para aguentar o sofrimento.

Então, depois das treze, todos os deveres cumpridos,
disporei o material da dor
com a ordem necessária

para prestar atenção a cada elemento:
acomodarei no coração meus antigos punhais,
distribuirei minhas cotas de lágrimas.

Terminado esse compromisso,
voltarei ao trabalho habitual.


Cecília Meireles. 

Nenhum comentário: