segunda-feira, 4 de setembro de 2023

MULHERES À FRENTE DO SEU TEMPO


Paulista, nascida em Xiririca (Eldorado), Francisca Júlia da Silva (1871-1920) foi

poeta parnasiana.  Quando publicou seu primeiro livro “Mármores”, tinha 24 anos e já era considerada uma grande poeta, pois seus trabalhos eram publicados em revistas e jornais.  O sucesso, entretanto, foi efêmero, apesar de continuar a fazer poesia de qualidade como atestam Olavo Bilac, Vicente de Carvalho e Mário de Andrade. No livro “As duas mortes de Francisca Júlia – A semana antes da Semana” (São Paulo: Unesp, 2022), o sociólogo José de Souza Martins, professor emérito da USP, afirma que “A história e a tragédia de Francisca Júlia reúnem e sintetizam os desencontros de sua geração. Especialmente o da mulher intelectual, abruptamente arrancada do patriarcalismo estamental e escravista. Confinada, porém, no vazio da transição brasileira com os cacos e restos da sociedade que acabava aos trancos e barrancos”.  

Francisca Júlia se suicidou em 1º de novembro de 1920.

 

INVERNO

Outrora, quanta vida e amor nestas formosas
Ribas! Quão verde e fresca esta planície, quando,
Debatendo-se no ar, os pássaros, em bando,
O ar enchia de sons e queixas misteriosas!

Tudo era vida e amor. As árvores copiosas
Mexiam-se, de manso, ao resfolego brando
Da brisa que passava em tudo derramando
O perfume sutil dos cravos e das rosas...

Mas veio o inverno; e vida e amor foram-se em breve.
O ar se encheu de rumor e de uivos desolados...
As árvores do campo, enroupadas de neve,

Sob o látego atroz da invernia que corta,
São esqueletos que, de braços levantados,
Vão pedindo socorro à primavera morta.

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