sábado, 2 de setembro de 2023

SEXTA-FEIRA NA PAULISTA

Depois de fazer uma compra em uma loja enorme, mas que só tem meia dúzia de funcionários e nenhum caixa – tudo autoatendimento, resolvi tomar um café no Benjamin. Há apenas dois rapazes no fundo da loja conversando. A balconista, que deve ter vinte e uns poucos anos, eleva e dobra o braço, boceja de acordo com os protocolos de higiene e comenta que também precisa de um cafezinho para espantar o sono. Nem tenho tempo para responder porque ela me conta que está grávida, o médico proibiu café, chá preto... Eu já vou incluindo chocolate – nem sei se tem cafeína, mas só para dizer alguma coisa. A moça se anima e continua falando da gravidez.  O café fica pronto e eu me refugio em outro balcão, mas ela tem uma boa visão do lugar e continua. As duas colegas dela também estão grávidas, o que está aborrecendo bastante o gerente, segundo ela. Felizmente, entram duas pessoas e tenho sossego, mas resolvo bater em retirada.
                   

Na rua, resolvo ir de ônibus. Poucos passageiros. O cobrador cochila. Tudo tranquilo até que uma jovem começa uma conversa no celular: ela explica que está indo para Ana Rosa onde vai pegar um ônibus para casa. Repete isso umas dez vezes ao longo da conversa. Acho que deveria ter ficado em casa, penso com meus botões. Tento me distrair olhando os prédios, o movimento das ruas e... E vejo uma procissão na calçada da avenida Paulista! O sacerdote todo paramentado sob a umbela carrega o sacrário, uns poucos fieis o seguem entoando algum hino e passam entre pedestres. Uma cena inusitada! O mesmo não acontece no ônibus. O motorista intrigado se pergunta a que se deve a procissão, pois o dia de São Judas foi 28 passado, a senhora no banco junto à porta, que parece ouvir música no celular, palpita cheia de certeza que é um grupo de turistas estrangeiros; o motorista, entretanto, não concorda. “São católicos. Acho que é dia de Ramos.” A senhora, no banco ao lado do meu, dá risada. “Dia de Ramos?” E eu não deixo por menos: “grupo de turistas?”. A segunda parte da conversa é a origem da procissão – minha vez de dar palpite: deve ser da igreja Santa Generosa... 

A observação mais importante essa senhora fez logo em seguida: a indiferença das pessoas à passagem da procissão. Não estou me referindo à questão da religiosidade e nem ela. Ninguém se voltou para observar a passagem do grupo tão incomum numa tarde de sexta-feira. Procissões já fizeram parte do cotidiano das cidades, que eram menores, tinham menos trânsito e as igrejas mais fiéis. Enfim, cheguei ao meu destino. (Foto:HA)

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