Em 24
de janeiro de 1928 o poeta e cronista Guilherme de Almeida escrevia em sua
coluna diária no DIÁRIO NACIONAL sobre as “vaidades ingênuas” do paulistano e, dentre
várias, considerava a mais esquisita a vaidade da temperatura. “São Paulo é
muito frio... ‘Europeu pra burro!’, – exclama o homem de julho, que não tem
fogo no seu living-room e anda pela rua, afogado em cache-cols,
soltando fumacinhas pela boca”.
Depois
de tratar da esquisitice paulistana, ele se queixa das temperaturas dos últimos
dias: “A cousa está simplesmente africana: 32, 34. 36, 38 graus... à sombra dos
plátanos e dos arranha-céus Luís XVI! Mas o paulista, o velho e teimoso
paulista, emperra como uma garrucha enferrujada. Não quer dar o braço a torcer.
Não sente – finge não sentir – este hálito de forno; e continua suando nas suas
limousines calafetadas, tomando cafezinhos escaldantes nas suas casas
nórdicas de telhados oblíquos e janelas estreitas; gemendo, nas suas cheviotes
e nas suas fourrures abrasadoras... – E o que é mais engraçado –achando ‘cafajeste’
o aventureiro gordo, transpirado e ousado que saiu pela avenida numa automóvel
aberto, de esporte; que chupou uma limonada e desabotoou a camisa diante de um
ventilador elétrico, na varanda de jasmins da sua casa inconfessável; que
cobriu de linhas brancos e mousselines ligeiras a sua torturada nudez...
Vaidades!”
Guilherme de Almeida escreveu a coluna “Pela Cidade” no DIÁRIO NACIONAL de 14 de julho de 1927 a 8 de novembro de 1928 e assinava com o pseudônimo de Urbano. O jornal era órgão oficial do Partido Democrático e circulou de 14 de julho de 1927 até 30 de setembro de 1932.
Fourrure – em francês é pele de animal usada em vestimentas, como casaco de pele.
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