sexta-feira, 3 de janeiro de 2025

MÁRIO DE ANDRADE E O CARNAVAL



Então resolvi ir tomar café na Casa de Mário de Andrade logo no dia 2 de janeiro pois, após semanas nubladas, tinha um sol de verão. Com a desculpa do cafezinho, que eu nem sabia se haveria, queria ver a exposição “Eu mesmo, Carnaval” e a residência do escritor depois da anexação da casa do irmão dele, que era ao lado. Vivi em Santos onde estudei em escolas particulares muito boas (primário e ginásio) e frequentei o colegial no Instituto de Educação Canadá, escola pública em que se entrava após passar em concorridíssima prova seletiva. A principal diferença é que as primeiras eram conservadoras e o Canadá, mais sintonizado com os anos 1960.  O que me choca é que os escritores modernistas não fizeram parte da grade de ensino de nenhum deles. Fato que constatei, provavelmente, na faculdade e, confesso que, na minha ignorância, achei que Mário e Oswald eram irmãos. Meu primeiro contato foi Mário de Andrade (1893-1945). Como já havia ouvido falar de Macunaíma, fui assistir ao filme de José Pedro de Andrade (1932-1988) e me apaixonei pelo personagem (“ai que preguiça”) e por Mário de Andrade. Oswald de Andrade (1890-954) é outra história – foi o “enfant terrible” e ousou na literatura e no comportamento.

            Ontem, o dia era de Mário, que nasceu na rua Aurora, morou no Paissandu e viveu desde 1921 na rua Lopes Chaves, na Barra Funda, “espaço vibrante de samba e Carnaval”. Mário contou que descobriu o samba por acaso, no Carnaval de 1931: uma roda de samba diferente de tudo o que já tinha visto e ouvido. Começou a pesquisar e o resultado foi o ensaio sobre “O samba rural paulista”, de 1937. Em 1923 ele passou o Carnaval no Rio de Janeiro e a experiência gerou o poema “Carnaval Carioca”; e em 1924 ele presenciou o Carnaval fora de época em São João Del-Rei (MG) que ele cita no poema “Noturno de Belo Horizonte”. Já a experiência no Recife, em vez de maracatu vivenciou um porre histórico (mas isso é outra história).

            “Em sua busca por um país, Mário de Andrade identificou nessa festa uma síntese original da nacionalidade. E confundindo a si mesmo com os destinos do brasil, tornou-se, ele mesmo, Carnaval” – diz a apresentação da mostra, que tem curadoria de  Arthur Major e Fábio Parra, logo na entrada.

            A Barra Funda, onde Mário e família viveram, foi reduto Grupo Carnavalesco da Barra Funda, formado por Benedito Barbosa e um grupo de amigos, que teve um período de interrupção até que em 1953  ressurgiu como Cordão Camisa Verde e Branco por obra de Inocêncio Tobias, e mais tarde o cordão virou Escola de Samba Camisa Verde e Branco. Mário teria gostado. Como teria amado a homenagem da escola no Carnaval passado

            Vale muito uma visita à Morada do Coração Perdido – e a entrada é gratuita.

Casa Mário de Andrade, rua Lopes Chaves, 540, Barra Funda, Metrô Marechal Deodoro.



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