sexta-feira, 4 de abril de 2025

MAIS QUE UM SIMPLES JOGO

Quando o basquete se tornou um produto importante da televisão, o astrônomo e astrofísico norte-americano Carl Sagan (1934-1996) vislumbrou nesse esporte um meio para o ensino de Ciência e Matemática. Sagan foi divulgador científico e explicou muito bem o motivo que o levou a pensar em algo aparentemente tão excêntrico. Num artigo, ele definiu o basquete como um jogo que se tornou “em seus melhores momentos – a síntese esportiva suprema de inteligência, precisão, coragem audácia, intuição e astúcia, espírito de equipe, elegância e graça”. 

E aí pergunta-se, onde entra a ciência nesse coletivo de adjetivos? Sagan explicou que “para entender uma média de arremesso livre de 0,926 é preciso saber converter as frações em decimais. Uma bandeja é a primeira lei newtoniana do movimento posta em ação. Todo arremesso representa o lançamento de uma bola de basquete num arco parabólico, uma curva determinada pela mesma física gravitacional que especifica o voo de um míssil balístico, a Terra girando ao redor do Sol ou uma nave espacial indo ao encontro de um mundo distante. Quando o jogador enterra a bola na cesta, o centro de massa do seu corpo fica por breve instante em órbita ao redor do centro da Terra.”

E ele continua. “Para enfiar a bola na cesta, é preciso levantá-la na velocidade correta: 1% de erro, e a gravidade deixa o jogador em má situação. Os arremessadores de três pontos, sabendo ou não, compensam a resistência aerodinâmica. Cada uma das pancadas sucessivas de uma bola solta fica mais próxima do chão por causa da segunda lei da termodinâmica. Daryl Dawkins ou Shaquille O’Neal espatifando a tabela é uma oportunidade para ensinar – entre outras coisas – a propagação das ondas de choque.”

Essa é a beleza da Ciência. A Ciência e a Matemática permeiam nossas vidas e aprender a encontrá-las é o jogo mais fascinante que se pode praticar – a cada passo sempre há possibilidade de uma nova descoberta. 

Carl Sagan – “O mundo assombrado pelos demônios. A ciência vista como uma vela no escuro.” Companhia das Letras.

Foto: Wikipedia.