quarta-feira, 9 de abril de 2025

POETAS CAMINHANTES

 

“Eu adoro uma estrada pública: poucas coisas

Me agradam mais ver; ela teve poder

Sobre a minha imaginação desde a aurora

Da infância, quando a sua linha que sumia,

Vista diariamente muito ao longe, numa escarpa desguarnecida

Além dos limites pisados pelos meus pés,

 Era como um guia para a eternidade,

Pelo menos para coisas desconhecidas e sem limite.”

William Wordsworth

 

Nem tudo é como desejamos. Diminui drasticamente minhas caminhadas ou passeios pela cidade. O campo não me atrai. Sou um bicho essencialmente urbano. Para compensar essa momentânea pausa que, espero, dure pouco, dedico-me a ler o relato das experiências de caminhantes famosos. Um dos pioneiros foi Jean-Jacques Rousseau, na França, mas teriam sido os românticos que se lançaram às caminhadas, moda considerada extravagante pelos contemporâneos, pois até o século XVIII as pessoas costumavam caminhar apenas por necessidade econômica e não como recreação. Esses primeiros caminhantes eram uma espécie de caçadores de paisagens – suas andanças eram feitas em direção ao campo e destinadas à apreciação da natureza.

O reverendo William Gilpin (1724-1804) foi um pintor inglês amador, que apreciava paisagens selvagens e acidentadas; ele desenvolveu pela primeira vez a ideia do pitoresco. Na mesma época, surgiram as excursões a pé, atividade em que o poeta inglês William Wordsworth e a irmã Dorothy logo se destacaram. William Wordsworth (1770-1850) tinha 20 anos quando fez sua primeira excursão a pé, considerada por todos como “louca e impraticável”: atravessar a Europa continental – passando pela França, Itália, Alemanha e Suíça. Ele foi na companhia de um amigo e colega de estudos; percorreram 550 quilômetros na primeira quinzena, fazendo em média 50 quilômetros diários!!! Em um poema ele diz que “foi uma marcha de velocidade militar”. O poeta nunca mais deixou de caminhar e viveu de suas caminhadas.
O escritor inglês Thomas De Quincey (1785-1859) escreveu que “Wordsworth não era, no geral, um homem bem acabado. Suas pernas eram enfaticamente condenadas por todas as conhecedoras de pernas que ouvi palestrarem sobre esse tópico. (...) Não havia nelas nenhuma deformidade, e sem dúvida elas prestaram um serviço além do padrão médio da exigência humana, porque eu calculei, baseado em bons dados, que com aquelas pernas Wordsworth deve ter percorrido uma distância entre 175 mil a 180 mil milhas – uma forma de esforço que para ele se igualava ao vinho, à aguardente e a todos os outros estimulantes do espírito animal, ao qual ele foi devedor por uma vida de felicidade sem nuvens, e nós, por seus escritos mais excelentes”.
Dorothy Wordsworth (1771-1855) começou a caminhar ainda na infância por influência do irmão e, naturalmente, a família e os amigos a criticavam pela excentricidade de suas caminhadas, consideradas vergonhosas pela família. A primeira caminhada de longa distância que ela fez com William foi em 1794, quando percorreram em um único dia 55 quilômetros; porém a primeira excursão a pé foi em 1797, ocasião em que os dois irmãos foram à casa do amigo e poeta Samuel Taylor Coleridge (1772-1834), que se uniu à dupla em outras jornadas. Dorothy mantinha um diário dessas andanças, mas com informações lacônicas. Fotos: Fragmentos de mural: Termas de Caracala., Roma, 2014.





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