O filósofo dinamarquês Søren Kierkegaard
(1813-1855) foi o precursor do flâneur francês: gostava de caminhar a
esmo pelas ruas de Copenhague, onde nasceu e viveu seus 42 anos. Por causa de
uma queda na infância, Kierkegaard tinha uma forte curvatura na coluna e por
isso caminhava um tanto inclinado para trás, o que dava a impressão de
insegurança ao seu deslocamento. Caminhar era uma fonte de diversão e prazer para
ele, apesar de todos os problemas de saúde que enfrentou. E como se isso não
bastasse, após uma disputa pública com uma revista satírica, tornou-se vítima
de uma campanha impiedosa de zombarias nas ruas de Copenhague. Kierkegaard
passou de observador a observado, como registrou Coverley. “Por causa da minha
melancolia e do meu enorme trabalho, eu precisava de uma situação de solidão na
multidão para descansar. Por isso me desespero. Já não posso encontrá-la. A
curiosidade me cerca por todos os lados.”
O filósofo não desistiu: “Acima
de tudo não perca o desejo de andar: todo dia eu caminho num estado de
bem-estar, e andando me afasto de todas as doenças. Tenho tido meus melhores
pensamentos enquanto ando, e não sei de nenhum pensamento tão opressivo que a
pessoa não possa afastar enquanto caminha. Mesmo que alguém precisasse caminhar
por razões de saúde e que ela estivesse constantemente um pouco adiante – ainda
assim eu diria ‘Ande!’”.
Durante uma de suas
caminhadas desmaiou e morreu.
(Embora não tenha cunhado o
termo que só surgiu em meados dos anos 1940, ele foi o primeiro filósofo a
abordar o existencialismo.)
Retrato inacabado de Kierkegaard feito por seu irmão Neils
Christian Kierkegaard – Royal Library of Denmark.
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