domingo, 13 de abril de 2025

KIERKEGAARD, CAMINHANTE ATÉ O FIM

 

O filósofo dinamarquês Søren Kierkegaard (1813-1855) foi o precursor do flâneur francês: gostava de caminhar a esmo pelas ruas de Copenhague, onde nasceu e viveu seus 42 anos. Por causa de uma queda na infância, Kierkegaard tinha uma forte curvatura na coluna e por isso caminhava um tanto inclinado para trás, o que dava a impressão de insegurança ao seu deslocamento. Caminhar era uma fonte de diversão e prazer para ele, apesar de todos os problemas de saúde que enfrentou. E como se isso não bastasse, após uma disputa pública com uma revista satírica, tornou-se vítima de uma campanha impiedosa de zombarias nas ruas de Copenhague. Kierkegaard passou de observador a observado, como registrou Coverley. “Por causa da minha melancolia e do meu enorme trabalho, eu precisava de uma situação de solidão na multidão para descansar. Por isso me desespero. Já não posso encontrá-la. A curiosidade me cerca por todos os lados.”

O filósofo não desistiu: “Acima de tudo não perca o desejo de andar: todo dia eu caminho num estado de bem-estar, e andando me afasto de todas as doenças. Tenho tido meus melhores pensamentos enquanto ando, e não sei de nenhum pensamento tão opressivo que a pessoa não possa afastar enquanto caminha. Mesmo que alguém precisasse caminhar por razões de saúde e que ela estivesse constantemente um pouco adiante – ainda assim eu diria ‘Ande!’”.

Durante uma de suas caminhadas desmaiou e morreu.

(Embora não tenha cunhado o termo que só surgiu em meados dos anos 1940, ele foi o primeiro filósofo a abordar o existencialismo.)

 

Retrato inacabado de Kierkegaard feito por seu irmão Neils Christian Kierkegaard – Royal Library of Denmark.

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