Há
alguns anos eu atravessava a Praça Ramos de Azevedo quando o vi trabalhando na
calçada. Um calceteiro! Lembrei-me dos tempos de Santos, onde vi pela primeira
vez o trabalho minucioso desses homens que revestem calçadas com pedras
portuguesas – pedrinha por pedrinha, formando desenhos que admiramos sem
lembrar quem os executou. Uma profissão em extinção pelo que observo atualmente
no Centro Histórico de São Paulo, onde placas de concreto cinzentas cobrem os
calçadões reformados – seguras para os pés apressados do paulistano, porém,
monótonas para os olhos que passeiam pela paisagem.
As
calçadas portuguesas estão desaparecendo silenciosamente. O chão calcetado é
usado desde a Antiguidade, mas a calçada portuguesa data do século XIX e é uma
arte genuinamente lusitana e que faz parte do patrimônio cultural de Portugal. A
Praça do Rossio foi a segunda área de Lisboa ganhar uma calçada portuguesa,
iniciativa que se espalhou pela cidade, pelo país e pelas colônias.
A
Câmara de Lisboa criou em 1986 a Escola de Jardinagem e Calceteiros para renovar o efetivo de profissionais
municipais e preservar e divulgar o calcetamento. Na escola, homens e
mulheres aprendem a “arte de calcetar ao quadrado, o desdobrar da pedra e o
malhetar”, expressões comuns entre os mestres calceteiros. As pedras usadas são
geralmente de calcário branco e preto ou basalto; encontram-se também o
vermelho e o verde. As cores tradicionais são o preto e o branco.
Anotei o nome do calceteiro que
trabalhava na Praça Ramos, mas infelizmente o papelzinho perdeu-se.
A Escola de Calceteiros funciona na Avenida Dr. Francisco Luís Gomes 1800, no Arroios, Lisboa.
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