segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

CURIOSIDADES


CURIOSIDADES DO CARNAVAL

Carnaval, rádio e cinema. A indústria fonográfica teve no rádio o melhor veículo para o seu produto: discos; entretanto, foi o surgimento do rádio que deu aos artistas (compositores, cantores e músicos) popularidade. E logo o cinema brasileiro entrava nesse circuito com a produção de filmes com grandes artistas – nada de sofisticação, apenas um enredo ligeiro para dar voz aos astros do rádio. O carnaval sempre foi uma boa época para o lançamento desses produtos, que acabavam divulgando as músicas para a festança nacional.
Como “Alô Alô Brasil”, uma coprodução da Waldown Filmes e da Cinédia em 1935. Foi um grande sucesso. O roteiro de João de Barro (Braguinha) e Alberto Ribeiro tratava de um fanático em busca de uma cantora que, aliás, nem existe, e que dá oportunidade para a apresentação de Carmen e Aurora Miranda, Francisco Alves, Ary Barroso, Almirante, Mário Reis entre muitos outros.
A curiosidade: a censura federal (vivíamos sob a ditadura Vargas) cortou duas músicas do filme. A marchinha “Garota Colossal”, de Ary Barroso e Nássara, cantada por Francisco Alves, porque tinha um único compasso do hino nacional. A outra, também cantada pelo rei da voz, foi “Liberdade” (irônico) e o motivo do corte deveu-se à referência ao Hino da Independência tanto na abertura quanto na final da música, quando o namorado que se viu livre de uma garota indesejada grita “Independência ou morte”.

Garota colossal

Você
Você

É o meu Hino Nacional
Seu sorriso é uma bandeira
Que domina a terra inteira

Ó garota colossal!

Por você faço tudo
Fico cego, surdo e mudo
Sou capaz de trabalhar
Eu amarro o sol com a lua
Por uma vontade sua
Faço o mundo acabar

Para a crise mundial
E a falta de capital
Só tem uma solução
É você com seu prestígio
Conseguir este prodígio (prestígio?)
Dar um tiro na questão

LIBERDADE

Liberdade, liberdade
O meu amor foi embora
Pensando deixar saudades
Eu nunca fui tão feliz
Agora sou eu quem diz...
Foi uma felicidade (Eu vou gritar...)

Meu bem querer
Não mais me quis
Foi um favor que me fez
Posso dizer que sou feliz
E que chegou minha vez (Eu vou gritar...)

Se eu já gozei
Mas vou gozar
Com essa separação

Nunca pensei em esperar
Ter tanta satisfação
Independência ou morte.

“Yes, nós temos bananas…” é uma composição de João de Barro (Braguinha) de 1938 para responder ao fox norte-americano ”Yes, we have no bananas” (F. Silver e I. Cohen), que fez muito sucesso em 1923. A marchinha de Braguinha (1907-2006) é um clássico e foi gravada originalmente por Almirante (Henrique Foréis Domingues, 1908-1980), que era cunhado dele.

There's a fruit store on our street
It's run by a Greek
And he keeps good things to eat
But you should hear him speak!
When you ask him anything, he never answers "no"
He just "yes"es you to death, and as he takes your dough
He tells you
"Yes, we have no bananas
We have-a no bananas today
We've string beans, and onions
Cabbageses, and scallions
And all sorts of fruit and say
We have an old fashioned to-mah-to
A Long Island po-tah-to
But yes, we have no bananas
We have no bananas today."


Yes, nós temos bananas
Bananas pra dar e vender
Banana menina tem vitamina
Banana engorda e faz crescer

Vai para a França o café, pois é
Para o Japão o algodão, pois não
Pro mundo inteiro, homem ou mulher
Bananas para quem quiser

Mate para o Paraguai
Ouro do bolso da gente não sai
Somos da crise, se ela vier

Bananas para quem quiser.  


sábado, 10 de fevereiro de 2018

CARNAVAL FOLGAZÃO



           Escolhi a visão de três grandes autores nacionais sobre o Carnaval: Oswald de Andrade, Raimundo Correia e Machado de Assis. 

brasil
Oswald de Andrade (1890-1954)


O Zé Pereira chegou de caravela 
E perguntou pro guarani de mata virgem 
-Sois cristão? 
-Não, Sou bravo, sou forte sou filho da morte 
Tetetê tetê Quizá Quizá Quecê! 
Lá de longe a onça resmungava Uu! Ua! uu! 
O negro zonzo saído da fornalha 
Tomou a palavra e respondeu 
-Sim pela graça de Deus 
Canhem Babá Canhem Babá Cum Cum! 
E fizeram o carnaval 

TRISTEZA DE MOMO
Raimundo Correia (1859-1911)

Pela primeira vez, ímpias risadas
Susta em pranto o deus da zombaria;
Chora, e vingam-se dele, nesse dia,
Os silvanos e as ninfas ultrajadas;

Trovejam bocas mil escancaradas,
Rindo; arrombam-se os diques da alegria;
E estoira descomposta vozeria
Por toda a selva, e apupos e pedradas...

Fauno, o indigita; a Náiade o caçoa;
Sátiros vis, da mais indigna laia,
Zombam. Não há quem dele se condoa!

E Eco propaga a formidável vaia,
Que além, por fundos boqueirões reboa
E, como um largo mar, rola e se espraia...
Bacantes em festa, óleo sobre tela de Rodolfo Chamberlland (1879-1967).
Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro. 
AO  CARNAVAL DE 1860

 Machado de Assis(1839-1908)
Morreste, seriedade!
Momo, o deus das zombarias,
Usurpou-te, por três dias,
Teu esplêndido bastão!
De um exílio temporário
Toma a longa e nova rota;
Agora reina a chacota
E o carnaval folgazão!

Diante das aras da rubra folia,
Cabeça a mais séria não vale um real;
Doidice, festança e alegria,
Tudo isto é fortuna que traz — carnaval.

Homem sério e bem formado,
Neste dia é contrabando;
Respeitado e venerando
É coisa que não se diz;
A razão abrindo os lábios,
Onde tem berço o juízo,
Vestiu um chapéu de guizo,
E pôs um falso nariz!

Nem pai de família, nem velho empregado,
Doutor, diplomata, caixeiro ou patrão,
Ninguém, ó loucura, no dia aprazado,
Não pode negar-te seu grande quinhão.

Tudo a loucura nivela,
Nem há luta de inimigos:
Esqueçam-se ódios antigos
De algum ferrenho eleitor;
Há tréguas por três dias
No campo dos candidatos,
Que o feijão ferve nos pratos
E os guizos falem melhor.

Esqueça-se tudo, são todos convivas,
Os ódios se apaguem no abraço comum:
Que doce batalha! Que lutas festivas!
Daqui deste campo não foge nem um!

Todas as belas amáveis
Podem ter parte na festa:
Sacerdotisas e Vesta,
Acendei os corações!
Pra sustentar a empresa
Não tendes armas faceiras?
É não tirar as pulseiras
E conservar os balões.

Daí das janelas olhando curvadas.
Sem dar um só passo na luta venceis:
Ao fogo, que corre das vossas sacadas
Aquiles se curvam e algemam-se reis.

Os reis, conquanto pintados,
Sempre são reis por três dias;
E sabem as galhardias
Das vossas armas leais.
Nós somos a Roma Inerte
Com a invasão peregrina
Que os hunos de crinolina
São mais que os outros fatais. 

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

Carmen Miranda: "Rebola a Bola" (1941)

Carnaval
Aniversariante do dia

       Alô, alô, chegou a hora da folia. Minha embaixada chegou, na batucada da vida. I like you very much. O tique taque do meu coração... Adeus, batucada.  Carmen Miranda nasceu em 9 de fevereiro de 1909 em Marco de Canaveses, Portugal, e faleceu em 1955 em Beverly Hills, Califórnia (EUA). Continua uma artista inimitável e nunca saiu de moda. E por falar em moda, foi precursora dos sapatos de plataforma que são tão populares atualmente. Carmen viveu intensamente seus 46 anos. 


quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

REQUERIMENTOS EM PENDÊNCIA


Carnaval


      A viagem pelas músicas carnavalescas continua e mostra que, embora cantadas a plenos pulmões nas ruas e nos salões, vendendo discos à beça, a classe política – que provavelmente cantava junto e achava tudo muito engraçado – não se sensibilizou com os problemas sociais ao longo dos anos. As novas gerações sabem muito bem o que é salário baixo, falta de moradia e de trabalho. O abastecimento de água foi exceção nesse leque de antigas reivindicações pendentes.  

TÁ FALTANDO UM ZERO NO MEU ORDENADO*
Ary Barroso e Benedito Lacerda, 1948.
Gravação: Francisco Alves.

Trabalho como louco
Francisco Alves (1898-1952).
Mas ganho muito pouco
Por isso eu vivo sempre atrapalhado
Fazendo faxina
Comendo no "China"

Tá faltando um zero no meu ordenado
Trabalho como louco
Mas ganho muito pouco
Por isso eu vivo sempre atrapalhado
Fazendo faxina
Comendo no China".

Tá faltando um zero
No meu ordenado
Tá faltando um zero no meu ordenado
Tá faltando sola no meu sapato
Somente o retrato
Da rainha do meu samba
É que me consola
Nesta corda bamba.

MISERÊ
Haroldo Lobo e Milton de Oliveira, 1939.
Gravação: Aracy de Almeida.

Quem me viu e quem me vê
Nesse misere, nesse misere
Que há de dizer:
O emprego eu perdi,
O anel, empenhei
Vejam só a que ponto eu cheguei
Antigamente eu dava carta
E jogava de mão
Mas hoje não, tudo mudou
Se almoço, não janto
E se janto não almoço.
Ai, meu deus do céu,
Continuar assim não posso.

TOMARA QUE CHOVA
Paquito e Romeu Gentil, 1949.
Gravação: Emilinha Borba.
Emilinha Borba (1923-2005). 

Tomara que chova
Três dias sem parar
Tomara que chova
Três dias sem parar

A minha grande mágoa
É lá em casa
Não ter água
Eu preciso me lavar

De promessa eu ando cheio
Quando eu conto a minha vida
Ninguém quer acreditar
Trabalho não me cansa
O que cansa é pensar
Que lá em casa não tem água
Nem pra cozinhar

Tomara que chova
Três dias sem parar
Tomara que chova
Três dias sem parar

A minha grande mágoa
É lá em casa
Não ter água
Eu preciso me lavar

De promessa eu ando cheio
Quando eu conto a minha vida
Ninguém quer acreditar
Trabalho não me cansa
O que cansa é pensar
Que lá em casa não tem água
Nem pra cozinhar

PEDIRAM PRA CHOVER
José Mariano da Fonseca e Aristides Zacarias, 1951.
Gravação Carlos Galhardo.
"Carnaval", Di Cavalcanti. 

Já faz um ano
Que pediram pra chover
Já faz um ano
Que pediram pra chover
Tal pedido
Francamente não se faz
Porque se vem a chuva
Nenhum pobre fica em paz
O meu telhado está furado
E o teu?
O meu está pior, suponho eu,
Porém se arranjo alguns mil réis
Se mando tirar a goteira
Tiram uma e deixam dez.

MARCHA DO CARACOL
Peter Pan e Afonso Teixeira, 1950.
Gravação: Quatro Ases e um Coringa.

Há tanto tempo que não tenho onde morar
Se é chuva,apanho chuva
Se é sol,apanho sol
Francamente pra viver nessa agonia
Eu preferia ter nascido caracol
Levava minha casa nas costas muito bem
Não pagava aluguel nem luvas a ninguém
Morava um dia aqui, o outro dia lá
Leblon, Copacabana, Madureira e Irajá

O PEDREIRO WALDEMAR
Wilson Batista e Roberto Martins, 1946.
Gravação: Blacaute .
Blacaute (1919-1983).

Você conhece o pedreiro Waldemar?
Não conhece?
Mas eu vou lhe apresentar
De madrugada toma o trem da Circular
Faz tanta casa e não tem casa pra morar
Leva marmita embrulhada no jornal
Se tem almoço, nem sempre tem jantar
O Waldemar que é mestre no oficio
Constrói um edifício
E depois não pode entrar
Você conhece o pedreiro Waldemar?
Não conhece mas eu vou lhe apresentar
De madrugada toma o trem da Circular
Faz tanta casa e não tem casa pra morar
*Não publicada ontem por falta de espaço.

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

DO ENTRUDO AO CARNAVAL


Eu não gosto de carnaval. Não entendo essa sofreguidão que se estende por três dias durante os quais as pessoas saem dançando, cantando e fingindo ser o que não são. Ele é um forte componente da cultura brasileira, cultivado desde os tempos de colônia, quando atendia pelo nome de entrudo. E o entrudo era realmente uma festa transgressora que deixava muitas vezes as autoridades em desespero – espalhava-se pelas ruas e era violenta. No entrudo podia-se ser alvo dos limões-de-cheiro, receber na cabeça o conteúdo dos penicos dos sobrados e pancadas de capoeiristas.
Debret: escrava vendendo limões-de-cheiro, 1823.

A terça-feira gorda de 1854 ficou bem murcha com a decisão da polícia de proibir o carnaval nas ruas do Rio de Janeiro. Aquele dia 28 de fevereiro entrou para a história, mas a luta da igreja e dos cidadãos pacíficos contra a desordem já era antiga e o jeito era apelar para alvarás e decretos “para inserir pudores onde não havia” (Revista da Biblioteca Nacional). Os jesuítas tiveram até a brilhante ideia de propor a adoração do Santíssimo Sacramento durante os festejos, mas o povo não levou a sério e ainda estendeu a festança para além da Quarta-feira de Cinzas. Não somos nem originais!
 O historiador e cientista político Luiz Felipe de Alencastro conta que em 1840 uma trupe italiana falida organizou no teatro São Januário “um carnaval veneziano de máscaras”. A novidade agradou aos cidadãos pacatos. Anos depois um editorial do JORNAL DO COMMERCIO aprovava a nova festa: “O Carnaval [...] é mil vezes preferível ao entrudo de nossos pais, porque é mais próprio de um povo civilizado e menos perigosos à saúde”. Alencastro lembra que foi considerado mais civilizado por ter procedência europeia; mais saudável porque se podia andar mais tranquilamente pela cidade. Surgiram os desfiles de carros alegóricos com entrada paga e organizaram-se bailes de máscaras. Diretamente da commedia dell’arte Arlequim, Pierrô e Colombina entram na brincadeira nacional. A festa popular de rua separa-se da festa de salão: o entrudo e o Carnaval. O povo parece que continuou com o entrudo (bem mais barato e, provavelmente, mais divertido para quem não era a vítima das brincadeiras), pois catorze anos depois a polícia teve que interferir na farra!

Augustus Earle (1793-1838): cenas  do entrudo no Rio, c. 1822. 

Vida Privada e ordem privada no Império”, in História da Vida Privada no Brasil, vol. 2.

terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

CARNAVAL DA REALIDADE



         Se alguém quiser saber como era o Brasil na primeira metade do século passado e fugir dos livros convencionais da história tupiniquim, pode muito bem fazer uma viagem carnavalesca pela música brasileira. Aconselho a ter do lado um velhinho que, além de se divertir com as recordações momísticas, servirá como guia esclarecedor nessa viagem no tempo. Embora seja uma transgressão autorizada, como diz Umberto Eco, o carnaval é uma boa época para sair por aí pondo o rei nu (não Momo).
Em “Alegria do nosso carnaval”, Milton Paz diz que o carnaval desfaz nossas tristezas. Será? Acho que ele frequentemente as expõe, denunciando a funcionária apadrinhada que só bate o ponto e não cumpre com suas obrigações, apontando o sofrimento da população por causa da falta de água, o sacrifício do trabalhador mal remunerado movido à marmita pobre e em trem lotado. E que tal lembrar as autoridades que ”Falta um zero no meu ordenado"? Apesar da inflação, vai tudo bem porque o Brasil ganhou a Copa do Mundo de 1958... Se Dicró (Carlos Roberto de Oliveira) achou o culpado de tudo isso, o eleitor, Ary Lobo preferiu uma solução drástica, mudar para a Lua, mas não antes de apontar tudo que desgostava a população.


ALEGRIA DO NOSSO BRASIL
Heitor dos Prazeres
Gravação: Napoleão e seus Soldados Musicais, 1939.

 Carnaval,
Alegria do nosso Brasil
"Frevo", Cândido Portinari, 1958.
Que seduz
Com seus encantos mil
Que tudo faz esquecer
Que faz o trovador sonhar
E nos dá prazer.
E os clarins
Anunciam este grande dia,
De alegria sem igual,
Que todos nós festejamos,
Alegres cantamos
Em louvor ao carnaval.
O carnaval
É a nossa maior alegria
É o nosso ideal
O carnaval que desfaz
Até nossas tristezas
Neste mundo não há igual.

MARIA CANDELÁRIA
Klecius Caldas e Armando Cavalcanti.
Gravação Blackout, 1952.

Maria Candelária
É alta funcionária
Saltou de paraquedas
Caiu na letra "O", oh, oh, oh, oh
Começa ao meio-dia/
Coitada da Maria
Trabalha, trabalha,
Trabalha de fazer dó oh, oh, oh, oh
A uma vai ao dentista
Às duas vai ao café
Às três vai à modista
Às quatro assina o ponto e dá no pé
Que grande vigarista que ela é.


LATA D’AGUA
Luiz Antônio e Jota Junior

Gravação: Marlene, 1951.

Lata d'água na cabeça
Lá vai Maria, lá vai Maria
Sobe o morro e não se cansa
Pela mão leva a criança
Lá vai Maria
Lata d'água na cabeça
Lá vai Maria, lá vai Maria
Sobe o morro e não se cansa
Pela mão leva a criança
Lá vai Maria
Maria lava roupa lá no alto
Lutando pelo pão de cada dia
Sonhando com a vida do asfalto
Que acaba onde o morro principia

ZÉ MARMITA
Gravação: Marlene.

Saí de casa o Zé Marmita
Pendurado na porta do trem
Zé marmita vai e vem
Numa lata Zé Marmita traz a bóia
Que ainda sobrou do jantar
Meio-dia, Zé marmita faz o fogo
Para a comida esquentar
E Zé marmita, barriga cheia
Esquece a vida, num bate-bola de meia.

VAI TUDO BEM
Antonio Almeida e José Batista
Gravação: Jorge Goulart, 1959.


Vai tudo bem
 Pelo lado de lá.
Pelo lado de cá,
O que é que há

Não há água
Nem leite, nem pão
Carne não se come
Faz baixar a pressão
O café
 Vai de marcha a ré
Em compensação,
O Brasil foi campeão.

O POLÍTICO
Dicró e Pongá,
Gravação: Dicró. 

Dei cimento, dei tijolo
Dei areia e vergalhão
Subi morro, fui em favela
Carreguei nenê chorão
Dei cachaça, tira-gosto
E dinheiro de montão
E mesmo assim perdi a eleição
Traidor, traidor
Se tem coisa que não presta é um tal do eleitor
Prometi a minha nega que ia ser a primeira dama
Porém quando eu perdi, ela perdeu ate a cama
E achei o meu retrato no banheiro da central
Vou dar um coro no meu cabo eleitoral
Traidor, traidor
Se tem coisa que não presta é um tal do eleitor
Hoje eu tenho meus motivos, para estar injuriado
Porque eu só tive um voto e mesmo assim foi anulado
Só tem gente canalha, como tem gente ruim
Nem a minha mãe votou em mim
Ô mamãe eu me admiro a senhora
Se meus inimigos não votarem em mim tudo bem
Mas a senhora que depende de mim, não votar é sacanagem
Eu hein...
Os eleitores que não te conhecem, não votaram
Eu que te conheço vou votar? Ah! To fora...
Carlos Roberto de Oliveira , mais conhecido como Dicró, foi um cantor e compositor brasileiro de sambas satíricos. Fluminense.


EU VOU PRA LUA
Luiz de França e Ari Lobo 
Gravação: Ari Lobo, 1960.   


Eu Vou pra Lua
Mamãe, eu vou morar lá
Sair do meu Sputnik
Do Campo do Jequiá.

Já estou enjoado
Aqui da terra
Onde o povo a pulso
Faz regime
A indústria, roubo
A fome, o crime
Onde os preços
Aumentam todo dia
O progresso daqui
É a carestia
Não adianta mais
Se fazer crítica
Ninguém acredita
Na política
Onde o povo
Só vive em agonia

Na lua não tem

Nome abreviado
IPSEP, PM
Nem Cofap
Nem IPASE
Nem CASEP
Nem Coap
Nem contrabando
De mercadoria
Lá não falta água
Não falta energia
Não falta hospital
Não falta escola
É fuzilado lá
Quem come bola
E morre na rua
Quem faz anarquia...

Lá não tem juventude
Transviada
Os rapazes de lá
Não têm malícia
Quando há casamento
Na polícia
A moça
É quem é sentenciada
Porventura
Se a mulher for casada
E enganar o marido
A coisa é feia
Ela pega dez anos
De cadeia

E o conquistador
Não sofre nada...

Significado das siglas.
IPSEP – antigo Instituto de Previdência dos Servidores do Estado de Pernambuco – atualmente bairro do recife, financiado com recursos da entidade em 1951.
Cofap – Comissão Federal de Abastecimento e Preços (COFAP). Instituída em 1951 no âmbito do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio e com autonomia administrativa, era o órgão responsável pelo tabelamento dos preços dos bens de primeira necessidade. Na área estadual atuavam as  COAPs e na municipal, as COMAPs.
IPASE – antigo Instituto de Previdência e Assistência dos Servidores do Estado, órgão criado em 1938.
CASEP – um mistério. 


segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018


AZEVEDO, SEMPRE AFIADO.

      O cinema mal acabava de ser inventado e a novidade já estava fazendo sucesso no Rio de Janeiro dois anos depois. E, imaginem só, já tínhamos também um critico de cinema – ninguém menos do que o escritor, poeta, dramaturgo e jornalista ludovicense Artur de Azevedo (1855-1908). Artur de Azevedo, que escrevera sua primeira peça aos 15 anos e fizera sucesso, se instalara no Rio de Janeiro onde era funcionário público, professor de português, criador de vários jornais literários e colaborador de outros periódicos. Os cinematógrafos já estavam em pleno funcionamento no Rio de Janeiro e, sempre atento às novidades, ele fez a crítica de um filme na edição de 17 de julho de 1897 do jornal “O PAIZ”, onde mantinha a coluna “A Palestra”.
Infelizmente, não consegui saber o teor da crítica nem o tema do filme – que por aquela época durava uns poucos minutos. Certamente não foi o filme realizado pelo italiano Affonso Segretto: “Uma vista da Baía de Guanabara”, que estreou em 1898 na sede do JORNAL DO COMMERCIO (1827-2016) – que havia promovido a primeira sessão de no Brasil em 1896.
Artur de Azevedo foi um dos batalhadores para a construção do Teatro Municipal do Rio de Janeiro; entretanto, não viveu para assistir à inauguração em 1909, pois morreu alguns meses antes. Entretanto, teve tempo suficiente para fazer críticas cáusticas ao pano de boca criado pelo pintor ítalo-brasileiro Eliseu Visconti (1866-1944) para o Teatro Municipal
Ah! Ludovicense é quem nasce em São Luis do Maranhão.  
Pano de boca do Teatro Municipal do Rio. Imagem: Wikipedia. 


domingo, 4 de fevereiro de 2018


O OUTRO SABUGOSA

Quem não conhece o visconde de Sabugosa, aquele personagem sábio do Sítio do Pica-pau Amarelo, da obra de Monteiro Lobato? Houve, entretanto, outro Sabugosa que em sua passagem pelo Brasil deixou um registro de protesto. Vasco Fernandes César de Meneses, primeiro conde de Sabugosa, (1673-1741), foi vice-rei do Brasil, nomeado em 1720 quando veio para a Bahia.
Por essa época surgiam pela Europa academias, que abriam espaço para literatos, incentivavam discussões e estudos científicos. Em Portugal criaram-se duas e uma delas, Academia de História, tinha representantes de todas as colônias, com exceção do Brasil. Vasco Fernandes César de Meneses considerou importante reunir o conhecimento sobre a história do Brasil e decidiu criar uma academia, aproveitando a oportunidade para dar uma alfinetada na Academia de História Portuguesa. Assim, em abril de 1724 fundou-se a Academia Brasílica dos Esquecidos. Os letrados não se fizeram de rogados e acorreram à nova instituição que, entretanto, durou pouco. Foram 18 reuniões agitadas e com poesias, discursos e escritos sobre “a história política, natural e eclesiástica do Brasil”.  Entretanto, no dia 4 de fevereiro de 1725 a Academia dos Esquecidos encerrou as atividades, mas sua curta existência não foi em vão, pois incentivou a criação de outras entidades literárias na colônia.
Um exemplo da produção da Academia dos Esquecidos é a poesia de Anastácio Ayres Penhafiel - aliás, bem moderninha:


Labirinto cúbico

INUTROQUECESAR
NINUTROQUECESA
UNINUTROQUECES
TUNINUTROQUECE
RTUNINUTROQUEC
ORTUNINUTROQUE
QORTUNINUTROQU
UQORTUNINUTROQ
EUQORTUNINUTRO
CEUQORTUNINUTR
ECEUQORTUNINUT
SECEUQORTUNINU
ASECEUQORTUNIN
RASECEUQORTUNI

sábado, 3 de fevereiro de 2018

SÁBADO COM ARTE


Leisure”, óleo sobre tela de William Worchester Churchill (1858-1926). Museum of Fine Arts, Boston. 






quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

LEPIDOPTEROFOBIA

Borboletário. Palácio das Indústrias. Nem cheguei perto.
Acabo de descobrir que sofro de motefobia. Não sabia que ter medo de borboletas tinha um nome tão exótico. Na verdade, aplica-se ao medo de todos os insetos. Embora não aprecie insetos em geral, eles não me incomodam, mas desde que me entendo por gente borboletas me descontrolam. Só as vivas porque nunca me incomodei com aquela arte kitsch feita com asas de borboletas comum em lojas frequentadas por turistas estrangeiros; entretanto, evito as coleções de insetos de museus de zoologia. Fotos ou desenhos de borboletas não me amedrontam, pois felizmente elas não saem voando de livros ou molduras. Há outro nome, que considero mais adequado para meu “caso”: LepidopterofobiaLepidoptera é palavra grega para identificar grupo ou classe de borboletas e mariposas. 
Ama borboletas? Bom para você. Eu já dei muitos vexames por causa delas – já deixei um restaurante em meio à refeição porque uma inconveniente entrou no recinto. Na rua, saio em disparada ao ver a desagradável criatura. E decepcionei o diretor de um parque estadual que me pediu para fazer uma reportagem sobre um “espetáculo maravilhoso”, mas quando me disse que se tratava de uma revoada de borboletas, fui logo dizendo “nem pensar”. O repórter fotográfico registrou o evento, afinal, uma imagem vale por mil palavras.  
Washington, DC: passei longe.
New Orleans: não, obrigada.
PS. Para mim o assunto nunca é velho.