Carnaval
REQUERIMENTOS EM
PENDÊNCIA
A viagem pelas músicas carnavalescas continua
e mostra que, embora cantadas a plenos pulmões nas ruas e nos salões, vendendo discos
à beça, a classe política – que provavelmente cantava junto e achava tudo muito
engraçado – não se sensibilizou com os problemas sociais ao longo dos anos. As
novas gerações sabem muito bem o que é salário baixo, falta de moradia e de
trabalho. O abastecimento de água foi exceção nesse leque de antigas
reivindicações pendentes.
TÁ FALTANDO UM ZERO
NO MEU ORDENADO*
Ary Barroso e Benedito
Lacerda, 1948.
Gravação: Francisco Alves.
Mas ganho muito pouco
Por isso eu vivo sempre
atrapalhado
Fazendo faxina
Comendo no "China"
Tá faltando um zero no meu
ordenado
Trabalho como louco
Mas ganho muito pouco
Por isso eu vivo sempre
atrapalhado
Fazendo faxina
Comendo no China".
Tá faltando um zero
No meu ordenado
Tá faltando um zero no meu
ordenado
Tá faltando sola no meu
sapato
Somente o retrato
Da rainha do meu samba
É que me consola
Nesta corda bamba.
MISERÊ
Haroldo Lobo e Milton de
Oliveira, 1939.
Gravação: Aracy de Almeida.
Quem me viu e quem me vê
Nesse misere, nesse misere
Que há de dizer:
O emprego eu perdi,
O anel, empenhei
Vejam só a que ponto eu
cheguei
Antigamente eu dava carta
E jogava de mão
Mas hoje não, tudo mudou
Se almoço, não janto
E se janto não almoço.
Ai, meu deus do céu,
Continuar assim não posso.
TOMARA QUE CHOVA
Paquito e Romeu Gentil, 1949.
Tomara que chova
Três dias sem parar
Tomara que chova
Três dias sem parar
A minha grande mágoa
É lá em casa
Não ter água
Eu preciso me lavar
De promessa eu ando cheio
Quando eu conto a minha vida
Ninguém quer acreditar
Trabalho não me cansa
O que cansa é pensar
Que lá em casa não tem água
Nem pra cozinhar
Tomara que chova
Três dias sem parar
Tomara que chova
Três dias sem parar
A minha grande mágoa
É lá em casa
Não ter água
Eu preciso me lavar
De promessa eu ando cheio
Quando eu conto a minha vida
Ninguém quer acreditar
Trabalho não me cansa
O que cansa é pensar
Que lá em casa não tem água
Nem pra cozinhar
PEDIRAM PRA CHOVER
José Mariano da Fonseca e
Aristides Zacarias, 1951.
Gravação Carlos Galhardo.
Já faz um ano
Que pediram pra chover
Já faz um ano
Que pediram pra chover
Tal pedido
Francamente não se faz
Porque se vem a chuva
Nenhum pobre fica em paz
O meu telhado está furado
E o teu?
O meu está pior, suponho eu,
Porém se arranjo alguns mil
réis
Se mando tirar a goteira
Tiram uma e deixam dez.
MARCHA DO CARACOL
Peter Pan e Afonso Teixeira,
1950.
Gravação: Quatro Ases e um
Coringa.
Há tanto tempo que não tenho
onde morar
Se é chuva,apanho chuva
Se é sol,apanho sol
Francamente pra viver nessa agonia
Eu preferia ter nascido caracol
Se é chuva,apanho chuva
Se é sol,apanho sol
Francamente pra viver nessa agonia
Eu preferia ter nascido caracol
Levava minha casa nas costas
muito bem
Não pagava aluguel nem luvas a ninguém
Morava um dia aqui, o outro dia lá
Leblon, Copacabana, Madureira e Irajá
Não pagava aluguel nem luvas a ninguém
Morava um dia aqui, o outro dia lá
Leblon, Copacabana, Madureira e Irajá
O PEDREIRO WALDEMAR
Wilson Batista e Roberto
Martins, 1946.
Você conhece o pedreiro
Waldemar?
Não conhece?
Mas eu vou lhe apresentar
De madrugada toma o trem da
Circular
Faz tanta casa e não tem casa
pra morar
Leva marmita embrulhada no
jornal
Se tem almoço, nem sempre tem
jantar
O Waldemar que é mestre no
oficio
Constrói um edifício
E depois não pode entrar
Você conhece o pedreiro
Waldemar?
Não conhece mas eu vou lhe
apresentar
De madrugada toma o trem da
Circular
Faz tanta casa e não tem casa
pra morar
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