terça-feira, 13 de fevereiro de 2018


CURIOSIDADES DO CARNAVAL DE 1945

O carnaval de 1945 caiu também nos dias 11/12 e 13 de fevereiro. O Brasil estava envolvido na II Guerra Mundial e 25.334 brasileiros lutavam na Itália sob um frio fora do comum que assolava a Europa ferida nas batalhas contra o nazismo. Os Aliados, com a participação dos soldados da Força Expedicionária Brasileira (FEB), estavam envolvidos havia três meses na luta sangrenta pela tomada de Monte Castelo, situado entre a Toscana e a Emilia.
Enquanto o Regimento Sampaio enfrentava o inimigo, alguns brasileiros aproveitaram para entrar em outro campo de batalha, minando o inimigo interno (a ditadura Vargas) com uma arma poderosa e sutil: a música de carnaval. Com a implantação do Estado Novo em 1937 e a intensificação da censura falar mal do governo não fazia bem à saúde de ninguém; entretanto, o engajamento do Brasil na política de boa vizinhança dos Estados Unidos e o ataque alemão à marinha mercante brasileira criaram um clima propício para a defesa dos ideais democráticos. Sob o pretexto de defender a democracia alhures, atacava-se indiretamente a ditadura aqui. A formação da FEB consolidou essa posição.
Novamente, compositores e cantores traziam para as ondas do rádio assuntos políticos. No dia 6 de março de 1943, por exemplo, Almirante (Henrique Foreis Domingues) avisava a seus ouvintes da rádio Tupi: “Boa noite, ouvintes de todo o Brasil. Eu só venho aqui tomar uns minutos deste programa de Erik Cerqueira, para falar a vocês de uma certa arma de guerra, de que o carioca vai lançar mão neste carnaval, que começa esta noite: a música popular. (...) As cantigas de carnaval deste ano serão como as trombetas dos cariocas, para deitar por terra as muralhas de ridículo e as bazófias das nações do eixo.” Almirante referia-se à passagem bíblica sobre as muralhas de Jericó.
 E a produção foi grande. Só nesse programa foram apresentadas sete músicas e entre elas: “Que passo é esse, Adolfo?” (Haroldo Lobo e Roberto Roberti; gravação: Aracy de Almeida); “Adolfito mata mouros” (João de Barro e Alberto Ribeiro; gravação: Orlando Silva); e “Quem é o tal”, (Ubirajara Nesdan e Afonso Teixeira; gravação: João Petra de Barros).
A FEB chegou à Itália em três etapas e o primeiro grupo foi para a frente de batalha em setembro de 1945. Meses depois alguns pracinhas (como eram chamados os soldados brasileiros) deram um descanso à “lurdinha” (como chamavam a metralhadora) e também pegaram lápis e papel e mataram saudade do Brasil compondo músicas. Nada de insensibilidade nisso. Apenas uma forma de enfrentar a insanidade da guerra.  
Por sorte Francis Wallawell (Chico BBC), um gaúcho que trabalhava na BBC em Londres, fez uma série de reportagens com as tropas brasileiras, gravando várias composições, algumas feitas depois da tomada de Monte Castelo e após o carnaval. O soldado Natalino Cândido da Silva compôs a embolada “Sinhá Lurdinha” e “Pro brasileiro, alemão é sopa”. O cabo José Pereira dos Santos é autor e intérprete da marcha “Tedeschi, portare via”. O terceiro sargento Roldão Alves Gutenberg compôs a marcha “Parabéns à FEB”, interpretada pelo terceiro-sargento Seraphim José de Oliveira. E por aí vai...
Entre tantas escolhi a narração da batalha de feita pelo soldado Natalino Cândido da Silva e as loas feitas ao Cabo Laurindo, um personagem que aparece em três composições em homenagem aos pracinhas.

SINHÁ, LURDINHA
Soldado Natalino Cândido da Silva

Mas onde eu vi muito tedesco
Foi lá no monte de Castelo
Mas onde eu vi muito tedesco
Foi lá no monte de Castelo
Mas onde eu vi muito tedesco
Foi lá no monte de Castelo

Subindo ao monte
Eu encontrei Sinhá Lurdinha
Tava toda afobadinha
Querendo me pegar
Joguei-me ao solo
E comecei a rasteja-la
Farejava, farejava
Mas nada de me encontrar
Mas onde eu vi muito tedesco…
Logo em seguida
Vinha o tal de 88
Que também todo afoito
Queria me acertar
Mas eu também que conduzia o meu 60
Fui metendo a mão nas venta
88 eu fiz calar
Mas onde eu vi muito tedesco…
O 105 que atirava com afinco
E era quatro e era cinco
Nossa tropa avançava
A aviação que causou grande confusão
Pois cada vez que se abaixava
Era um ovo que deixava
Mas onde eu vi muito tedesco…
Major Syzeno também fez a sua guerra
Com a conquista de La Serra com todo seu batalhão
E foi a quarta, e foi a quinta e foi a sexta
E até mesmo a CPC(?), 81 em posição
Mas onde eu vi muito tedesco …
O que valeu foi que a sexta tinha morteiro
Comandava o Carneiro com boa disposição
E cada vez que o morteiro atirava
A granada estourava, era só pena que voava
Mas onde eu vi muito tedesco…

CABO LAURINDO
Haroldo Lobo e Wilson Batista
Gravação: Jorge Veiga.

Laurindo voltou,
Coberto de glória.
Trazendo garboso no peito
A cruz da vitória.

Mas Salgueiro, Mangueira, Estácio e Matriz estão aquiPara homenagear o bravo cabo Laurindo.
As duas divisas que ele ganhou, mereceu.
Conheço os princípios que Laurindo sempre defendeu.

Amigo da verdade,
Defensor da igualdade,
Dizem que lá no morro vai haver transformação.
Camarada Laurindo,
Estamos a sua disposição!

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