No final dos anos cinquenta do século passado, um primo recém-nascido
precisou de tratamento urgente e especializado, que recebeu do médico Othon
Feliciano na Gota de Leite (Santos,SP). Acompanhei minha tia em várias ocasiões
e assistia aos difíceis procedimentos. A criança se recuperou plenamente e
cresceu muito saudável. O caso ocorreu-me quando soube que a Gota de Leite
corre o risco de fechar. Quantas crianças, como ele, tiveram suas vidas salvas
graças à instituição ao longo dos seus 104 anos de existência?
As crianças de Santos, no início do século passado, ganharam um grande
presente, quando os médicos Alcides Lobo Viana e Othon Feliciano,
em 11 de junho de 1914, abriram as portas da Assistência à Infância de
Santos, a Gota de Leite, para atender às mães que não podiam amamentar e não
tinham recursos. Elas recebiam uma garrafa de leite fresco para alimentar os
filhos e os dois médicos, que tinham um relevante histórico de serviços na
cidade, atendiam gratuitamente a garotada. Quantas crianças puderam crescer com
saúde graças aos serviços da Gota de Leite?
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Edição dos 50 anos de A TRIBUNA: 26/03/2944.
Imagem: Novo Milênio. |
A entidade começou a funcionar em um
prédio alugado na Rua General Câmara até que, finalmente, em 1924, mudou para o
casarão da Avenida Conselheiro Nébias, 388 e passou a contar com um ambulatório
de pediatria, lactário e uma ala de internação. Logo veio a colaboração da
cidade: os comerciantes de café importaram vacas holandesas para garantir o
leite das crianças. Os animais pastavam nos terrenos ao redor da casa até que
mais tarde foram transferidos para uma área da Avenida dos Bandeirantes.
Em algum momento o perfil da entidade
(privada, filantrópica e sem fins lucrativos) mudou e atualmente funciona como
uma escola atendendo gratuitamente a 220 crianças de 11 meses a seis anos. A
subvenção da Prefeitura de Santos cobre 50% dos gastos; os outros 50% vêm da
locação da escola e do prédio em que funciona o Fundo de Solidariedade de
Santos, mais o valor arrecadado numa grande quermesse anual. Os custos têm
aumentado e os auxílios, minguado. A quermesse desse ano foi cancelada, segundo
o jornal A TRIBUNA, porque o número de patrocinadores caiu muito e tem sido
mais na forma de permuta (material de limpeza, banners e convites), sem contar
que no ano passado aparecem só 20 voluntários para ajudar no evento. A festa
custa cerca de R$ 600 mil; feitas as contas concluiu-se que a realização da
quermesse poderia aumentar o prejuízo da entidade.
A Gota de Leite precisa de R$ 100 mil
mensais para se manter, ainda de acordo com A TRIBUNA. Vários fatos chamaram
minha atenção nesse cenário triste, mas a questão da cidadania prevalece sobre
todos. Sei que há um exército de voluntários trabalhando por causas
importantes em todo o país e fico espantada ao saber que só apareceram 20
pessoas para ajudar na quermesse que, diga-se de passagem, é um evento alegre.
Não consigo calar: as 220 mães não se mobilizaram? Não se dispõem a colaborar
no evento para a manutenção da vaga dos seus filhos e de outras crianças que
virão a precisar da escola? Claro que elas trabalham ou têm dificuldades, mas
poderiam organizar um rodízio para apoiar a entidade. Se a instituição fechar,
vão se queixar da Prefeitura e reivindicar vagas em escolas e creches?
É fácil empurrar tudo para o poder
público, mas nós temos um trabalho a fazer também. Não são só as mães. A
sociedade precisa se mobilizar para manter viva a Gosta de Leite. O comércio se
mobilizou para importar vacas em 1914. Hoje pretende fazer o quê? Eu pretendo
me envolver nessa causa; embora tenha deixado Santos em 1982, mantenho-me
ligada à cidade. Com esforço de todos a instituição centenária pode ser
salva, preservando e honrando assim o trabalho de dois ilustres médicos
santistas que se importaram realmente com as questões sociais.
Na
época das epidemias que assolaram Santos, Dr. Alcides Lobo Viana,
organizou e dirigiu um hospital improvisado no Mosteiro de São Bento para
socorrer as vitimas da febre amarela. “Mesmo alquebrado, já com a saúde muito
comprometida, ele estava sempre disposto a atender aos necessitados. Dotado de
grande capacidade médica, dedicado e generoso, quantas vidas foram salvas por
ele?” – diz a justificativa do coronel Joaquim Montenegro à indicação da
homenagem pública ao médico em 1922. Dr. Othon Feliciano (irmão de Antônio e
Lincoln Feliciano) dirigiu e atuou por muitos anos na Gota de Leite. Médico
sanitarista, chefiou o Centro de Saúde Santos até se aposentar.
Há vários modos de
ajudar: tornando-se sócio com doações mensais de R$15,00 e R$100,00.
Informações no site: www.gotadeleite.org.br
Qualquer valor pode ser depositado na conta da instituição:
Banco Santanter
Agência 3553
CONTA CORRENTE 13000613-0
CNPJ 58.222.910/0001-07 (obrigatório).
Mais detalhes na edição de A TRIBUNA de 19/02/2018.
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