sábado, 21 de maio de 2016

VINHO, CAUIM E CACHAÇA

Quando os portugueses desembarcaram na Bahia, traziam entre as provisões vinho, que Cabral serviu aos dois silvícolas que foram levados a bordo. Beberam, mas não gostaram. Cuspiram. Mas fizeram o mesmo com a água depois de bochechar. Assim, com base no registro de nascimento do Brasil, pode-se afirmar com certeza que por aqui se bebe vinho desde abril de 1500. E por mais de 300 anos foi a principal bebida da colônia.
Em matéria de bebida alcoólica os ameríndios dispunham do cauim, preparado com mandioca ou milho para festas e rituais. A preparação cabia às mulheres e, se os europeus pisavam as uvas, o processo de produção do cauim é mais exótico. A mandioca cortada em tiras finas é cozida e posta para esfriar; em seguida as mulheres e meninas se reuniam em torno da panela, levavam à boca uma porção da mandioca e mastigavam bem de forma a revestir a massa com a saliva, cuspindo a porção em outro pote. Essa pasta volta ao fogo e é mexida com uma colher de pau até cozinhar. Quando fica pronta é guardada em potes para fermentar. O segredo encontra-se nas enzimas da saliva, responsáveis pela conversão da massa em açúcares fermentáveis. O processo é o mesmo com o milho.
          Em 1532, a plantações de cana-de-açúcar já vicejavam por aqui: os engenhos de açúcar já estavam em plena operação em Pernambuco e em São Vicente. Abria-se a oportunidade para uma inovação. A cachaça portuguesa (Minho) e espanhola era produzida com a borra do vinho. Com a grande disponibilidade de mel de cana, os portugueses iniciaram a produção da cachaça. No século XVIII, o mel do engenho, considerado melhor que o cubano, era exportado para os Estados Unidos como matéria-prima para o rum.
Os escravos coavam em pano de linho os expurgos do caldo de cana para fabricar um vinho, a que misturavam água. Era a garapa, procurada “avidissimamente pelos habitantes, que se embriagavam com ele quando velho”, como nos conta o historiador e antropólogo Luís da Câmara Cascudo (1898-1986) garante que garapa é palavra de origem africana, enquanto Houaiss diz que a origem é, provavelmente, espanhola. Em 1610, fazia-se “vinho com o sumo da cana, que é barato, mas só para os escravos e filhos da terra” – diz Cascudo. E assim, a produção da cachaça cresceu e tornou-se popular na terra.

Mas havia as bebidas refrigerantes, feitas também com sumos de frutas, xaropes. No século XIX, consumia-se o ponche (chá, açúcar, canela, limão e aguardente). Na França, era servido bem quente: no Brasil, o chá foi substituído por água gelada. 
Saúde! 


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