DOCES CAMICASES
Tudo o que elas precisam para viver
está na própria natureza: as árvores, as flores, o pólen, a água, o sol e uma
temperatura amena. Moradia? Elas mesmas constroem. Trabalho? Não falta: elas
começam a lida logo cedo, com a primeira claridade do dia e só param quando o
sol se põe. Vivem tranquilas, mas podem se tornar perigosas ao se sentirem
ameaçadas.
Uma abelha operária vive em media um
mês e meio. Se há escassez de néctar, ela é obrigada a voar muito para
conseguir o alimento, sobrecarregando a musculatura; mas se ela for pouco
exigida, dura até oito meses, principalmente no frio. A rainha vive até seis
anos porque recebe a geleia real rica em proteína. Para um inseto que depende de
flores, as cores não são o principal atrativo das abelhas, mas o perfume. O
vermelho não passa de cinza para a abelha que, no entanto, enxerga o
ultravioleta, imperceptível para a vista humana; ela vê ainda o azul, o amarelo
e o branco.
É nas flores que elas encontram o
néctar – líquido açucarado com o qual produzem o mel armazenado por elas nas colmeias.
À medida que recolhem o néctar polinizam as plantas, propiciando a reprodução
das espécies. O mel pode ter perfume suave e sabores diferentes, dependendo das
flores que as abelhas visitam.
Essas pequenas criaturas conquistaram
um dia um advogado a ponto de fazê-lo trocar os livros de Direito pelos de
História Natural e se tornar uma das maiores autoridades em meio ambiente: Paulo
Nogueira-Netto (94), um dos fundadores do Departamento de Ecologia do Instituto
de Biociências da Universidade de São Paulo. O professor criou o apiário do IB onde
ministrou um curso sobre O Mundo das Abelhas, dentro do Programa USP para a
Terceira Idade. (O curso não existe mais.)
Há alguns anos ele contava em
entrevista que apareceram pessoas com diferentes ideias sobre abelhas e até
aquelas que não distinguiam uma abelha de uma mosca. Para enfrentar um público
tão heterogêneo Nogueira-Netto adotou como técnica a linguagem da televisão.
“Quando a televisão estava no inicio, fui convidado para fazer um programa e
quis saber como deveria me expressar. O professor Paulo Vanzolim me disse que
todo texto deveria ser acessível a uma criança de doze anos e dessa forma todos
entenderiam o conteúdo da matéria”.
Há muitas espécies de abelhas, mas no
curso ele tratava apenas de três: as mamangabas, Apis melífera e as meliponídeas. Ele
ensinava as características de cada uma e falava sobre os seus produtos: a
cera, o mel, a própolis e a polinização. As mamangabas são abelhas sociais que
se veem nas flores, encontram-se por toda parte. A irapuã é inoportuna – corta
o broto de plantas (como a laranjeira) e se enrosca no cabelo das pessoas como
forma de defesa. A jataí não tem ferrão e faz suas colmeias
em pedras, relógios de luz e muros. As mais bravas são as abelhas africanas,
introduzidas no Brasil em 1956.
Os alérgicos podem sofrer ataque anafilático e
morrer após a picada da abelha e por isso é recomendável procurar logo ajuda no
Instituto Butantã. Pouca gente sabe que a abelha deixa o ferrão e parte do
intestino na vítima, o que causa a morte do inseto (exceto a mamangaba cujo
ferrão tem estrutura diferente). “O ataque é uma ação de camicase” – explicava
o professor.
(Sumário de entrevista que me foi
concedida pelo professor Paulo Nogueira-Netto para o Calendário de Extensão
Universitária – USP, s/d)
Av. Vital Brasil, Butantã, SP, 2014. Hilda Araújo.
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