- · No meio desse debate, o jesuíta Alexandre de Gusmão (1629-1724) lançou em 1685 o livro A arte de criar bem os filhos na idade da puerícia. Em suas críticas, dizia que a nobreza portuguesa não ensinava aos filhos os preceitos cristãos “assimilados pelos filhos dos bárbaros do Brasil, por diligência dos padres missionários” e até pela fauna tupiniquim. O jesuíta lisboeta narra a existência por aqui de dois papagaios – um repetia “o credo de todo, sem errar” e outro “dizia a oração da Ave Maria”. E sem medo de se enveredar pelo exagero o educador diz que “em ocasião de perigo” quando uma das aves caiu nas garras de um gavião, ”foi a fé que lhe serviu de defesa”.
- · No século XVIII, após ter governado a Bahia, o marquês do Lavradio, D. Luís de Almeida Portugal e Mascarenhas, mudou para o Rio de Janeiro onde assumiu o posto de vice-rei. O marquês tinha paixão pela Bahia e não gostou nem um pouco da mudança. Em sua correspondência ele diz que, ao saber de um papagaio que vivia repetindo vivas à Bahia, mandou comprá-lo imediatamente, instalando a ave em seu quarto junto à cama. (Cartas do Rio de Janeiro, MARQUÊS DO LAVRADIO, Editora SESC/RJ, de 1978.)
- · No fim da guerra da Tríplice Aliança, sob o bombardeio brasileiro, a população de Assunção (Paraguai) deixou a cidade, levando seus cães. Milhares de gatos famintos espalharam-se pelas ruas, devorando o que encontravam. O chefe da legação norte-americana em Assunção, Ministro Washburn, conseguiu salvar da fome dos felinos nove papagaios, acomodando as aves em um grande poleiro e alimentando-as com pedaços de mandioca. Tudo ia muito bem até que um dos papagaios abriu o bico e gritou em bom português: Viva D. Pedro II. O ministro levou um susto, pois não era nada diplomático mostrar simpatias pelo Brasil naquelas circunstâncias. O papagaio, entretanto, repetiu o brado patriótico alto e bom som. A reação do ministro foi rápida. “Torça-lhe o pescoço imediatamente”, ordenou ao seu secretário, Mr. Meinke. O fato foi testemunhado pelo boticário inglês George Frederick Masterman e está em seu livro Siete años de aventuras en El Paraguay. Ele só não diz se Mr. Meinke cumpriu as ordens do chefe.
quinta-feira, 30 de junho de 2016
HISTÓRIAS DE PAPAGAIO
quarta-feira, 29 de junho de 2016
POLÍTICA DE PESO
segunda-feira, 27 de junho de 2016
sexta-feira, 24 de junho de 2016
domingo, 19 de junho de 2016
Perdeste o senso!"E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las muita vez desperto
E conversamos toda noite, enquanto
A Via Láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir o sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizes, quando não estão contigo?"
E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas.
domingo, 12 de junho de 2016
sexta-feira, 10 de junho de 2016
LIBERDADE
Quinta-feira
gelada em São Paulo. Um dia perfeito para caminhadas despreocupadas. Paulistanos
e turistas movimentavam as ruas do bairro da Liberdade. Na saída do metrô, a
Praça da Liberdade é um ótimo lugar para aproveitar o sol anêmico; depois de
observar as ofertas das barracas da feira, uma esticada até a loja da Rua dos
Estudantes, que oferece maravilhosos produtos de porcelana japonesa entre
outras coisas. Uma festa para os olhos. Depois pode-se bisbilhotar na loja da
esquina com a Rua Galvão Bueno, onde há de tudo que você não precisa, mas
coisas bem interessantes. Uma senhora me pergunta se eu sei que igreja é aquela
na ponta da Praça. O nome é lúgubre, mas é uma lembrança dos tempos coloniais:
Santa Cruz das Almas dos Enforcados. (A curiosa não gosta do nome.)
Para
quem não sabe era ali nas redondezas que se executavam por enforcamento os
criminosos. Em 23 de julho de 1821 as autoridades da cidade receberam uma ordem
régia para levantar uma forca no lugar mais público desta cidade e vizinho do
Cemitério da Glória, complementando a instalação da Junta de Justiça no ano anterior.
A Igreja mantém a capela dos Aflitos (1774), que ficava no meio do cemitério, vendido
pela Mitra e loteado para residências. A capela, como não poderia deixar de
ser, fica na Travessa dos Aflitos.
Enquanto
caminho pela Rua Galvão Bueno, lembro-me de que há algum tempo este é mais um
bairro oriental do que propriamente japonês, pois os coreanos e chineses se
misturam aos japoneses que ainda permanecem nesta parte da cidade. É mais uma
região turística, com uma grande oferta de restaurantes e produtos típicos do
Oriente. Há lojas especializadas em cosméticos (já vi uma fila enorme de jovens
para entrar em uma delas).
Agora,
é a vez da Avenida Liberdade. Há várias casas antigas bem conservadas, embora
tenham uso comercial. Ali fica a Casa de Portugal, fundada em 1935 por
portugueses e brasileiros. O projeto do prédio é do Arquiteto Ricardo Severo,
sócio de Ramos de Azevedo. A inauguração ocorreu no quarto centenário de São
Paulo – 1954. Mais adiante outra igreja. A Catedral Metodista de São Paulo, de
linhas sóbrias. Enfim, o Largo da Pólvora – outro lugar histórico da cidade.
Ali funcionava um paiol de pólvora (claro) até 1832, quando as autoridades da
cidade mandaram demolir, mas a população continuou a chamar o lugar de largo da
pólvora. O nome, entretanto, só foi oficializado em 1978 pelo prefeito Olavo Setúbal.
Atualmente, o jardim japonês, criado por ocasião dos setenta anos da imigração
japonesa, encontra-se abandonado. Próxima parada: estação São Joaquim do metrô.
quarta-feira, 1 de junho de 2016
Antes que me faças mal, olha-me bem.
Eu sou o calor do teu lar nas noites frias de inverno;
Eu sou a sombra amiga que tu encontras
Quando caminhas sob o sol de agosto;
E os meus frutos são a frescura apetitosa
Que te sacia a sede nos caminhos.
Eu sou a trave amiga da tua casa,
A tábua da tua mesa, a cama em que tu descansas
E o lenho do teu barco.
Eu sou o cabo da tua enxada, a porta da tua morada,
A madeira o teu berço e o aconchego do teu caixão.
Eu sou o pão da bondade e a flor da beleza.
Tu que passas, olha-me e não me faças mal.