quinta-feira, 30 de junho de 2016

HISTÓRIAS DE PAPAGAIO

Se você está pensando que estas são anedotas “picantes”, como se costumava dizer antigamente, esqueça. As aves destas histórias são carolas, monarquistas e patriotas. Com a descoberta da América e o desbravamento do Brasil, o debate na Europa girava em torno da identificação destas plagas como inferno ou paraíso. Evidentemente, havia muitas divergências. As narrativas sobre os hábitos antropofágicos (entre outros) dos silvícolas brasileiros não ajudavam em nada os defensores da tese de paraíso.
  • ·        No meio desse debate, o jesuíta Alexandre de Gusmão (1629-1724) lançou em 1685 o livro A arte de criar bem os filhos na idade da puerícia. Em suas críticas, dizia que a nobreza portuguesa não ensinava aos filhos os preceitos cristãos “assimilados pelos filhos dos bárbaros do Brasil, por diligência dos padres missionários” e até pela fauna tupiniquim. O jesuíta lisboeta narra a existência por aqui de dois papagaios – um repetia “o credo de todo, sem errar” e outro “dizia a oração da Ave Maria”. E sem medo de se enveredar pelo exagero o educador diz que “em ocasião de perigo” quando uma das aves caiu nas garras de um gavião, ”foi a fé que lhe serviu de defesa”.
  • ·        No século XVIII, após ter governado a Bahia, o marquês do Lavradio, D. Luís de Almeida Portugal e Mascarenhas, mudou para o Rio de Janeiro onde assumiu o posto de vice-rei. O marquês tinha paixão pela Bahia e não gostou nem um pouco da mudança. Em sua correspondência ele diz que, ao saber de um papagaio que vivia repetindo vivas à Bahia, mandou comprá-lo imediatamente, instalando a ave em seu quarto junto à cama.  (Cartas do Rio de Janeiro, MARQUÊS DO LAVRADIO, Editora SESC/RJ, de 1978.)
  • ·        No fim da guerra da Tríplice Aliança, sob o bombardeio brasileiro, a população de Assunção (Paraguai) deixou a cidade, levando seus cães. Milhares de gatos famintos espalharam-se pelas ruas, devorando o que encontravam. O chefe da legação norte-americana em Assunção, Ministro Washburn, conseguiu salvar da fome dos felinos nove papagaios, acomodando as aves em um grande poleiro e alimentando-as com pedaços de mandioca. Tudo ia muito bem até que um dos papagaios abriu o bico e gritou em bom português: Viva D. Pedro II. O ministro levou um susto, pois não era nada diplomático mostrar simpatias pelo Brasil naquelas circunstâncias. O papagaio, entretanto, repetiu o brado patriótico alto e bom som. A reação do ministro foi rápida. “Torça-lhe o pescoço imediatamente”, ordenou ao seu secretário, Mr. Meinke. O fato foi testemunhado pelo boticário inglês George Frederick Masterman e está em seu livro Siete años de aventuras en El Paraguay. Ele só não diz se Mr. Meinke cumpriu as ordens do chefe.

 

FONTE: Revista Nossa História.

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