O IDÍLIO E OS PURITANOS
Em
1920, o Centro Acadêmico Onze de Agosto (Faculdade de Direito do Largo de São
Francisco) se mobilizou para homenagear o poeta Olavo Bilac (1865-1918) com um
monumento. Depois de levantarem fundos com bailes, festas e doações privadas,
os estudantes encomendaram a obra ao artista sueco William Zagid (1884-1952). A
prefeitura definiu o final da Avenida Paulista (atual complexo viário Dr.
Arnaldo) para colocação do monumento, inaugurado durante os festejos do
centenário da Independência do Brasil. Lá estavam as figuras do poeta, do bandeirante
Fernão Paes Leme (“O Caçador de Esmeraldas”), do
pensador (representando o poema “Tarde”), de uma família e
a bandeira nacional (“Pátria e Família”)
e
de um francês e uma índia se beijando (“Idílio ou Beijo Eterno”).
Não demorou a se iniciar uma polêmica. A
população se rebelou contra a obra: uns diziam que ela atrapalhava o trânsito,
outros que era feia demais e havia aqueles puritanos de plantão que consideravam
escandalosa a representação do Idílio. Em 1936 a prefeitura desmontou o
monumento por causa de obras viárias e espalhou os grupos pela cidade; os
apaixonados, entretanto, foram mantidos em um depósito de onde foram resgatados,
imaginem, por ninguém menos do que o prefeito Jânio Quadros (1917-1992), que
apreciava a obra. E lá foram os dois eternos enamorados para o bairro do
Cambuci. Desta vez foi um morador indignado que se rebelou contra o casal:
escreveu uma carta para todos os jornais paulistanos dizendo que o monumento
era um “ataque à inocência de sua filha”. Adivinhem. Novamente o casal foi para
o depósito da prefeitura.
Mais
uma década de recolhimento até que o prefeito Faria Lima (1909-1969) resolveu colocar
o casal no jardim do túnel Nove de Julho; porém, logo ficou demonstrado que
aquele não era o jardim do paraíso. Foi a vez de um vereador se insurgir contra
a escultura: alegava que era “obra do demônio”.
Cansados
de tanta tolice e antes que as autoridades a recolhessem ao depósito, os
estudantes (que haviam pago pelo monumento) resgataram a escultura e a levaram
para a frente da Faculdade, no Largo de São Francisco, onde os enamorados
encontraram, enfim, um endereço fixo.
A
população paulistana agradece.
(Foto: Hilda Araújo.)
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