segunda-feira, 27 de junho de 2016

MÁQUINAS DE ESCREVER
A moça estava sentada ao meu lado escrevendo uma mensagem por um aparelhinho minúsculo. Os dois polegares movem-se loucamente. Ela está alheia ao barulho do trem, do movimento dos passageiros em torno e à voz impessoal que avisa a próxima estação.
Essa jovem munida de IPOD me faz refletir sobre várias coisas. A primeira: o fantástico salto tecnológico das ultimas décadas que tenho o privilégio de testemunhar. A evolução das velhas máquinas de escrever mecânicas, pesadas e barulhentas para o sistema elétrico – mais suave e discreto; depois foram desbancadas pelos computadores pessoais até estas maravilhas que cabem na palma da mão. E bastam os dois polegares para operá-la. Os jovens da minha geração faziam curso de datilografia para enfrentar adequadamente o mercado de trabalho. Não bastava escrever corretamente, era preciso ser veloz e conhecer o teclado (Qwerty) de cor.
Por incrível que pareça, o processo de seleção nas empresas em geral incluía um temível teste de datilografia. Um anúncio, publicado em A Tribuna de Santos, da primeira metade do século passado, incluía o desenho de uma mulher com os olhos vendados, datilografando em uma Remington. A marca da máquina dava nome á escola que funcionava na Praça Mauá, 42 e por onde, certamente, milhares de santistas passaram em busca de um certificado de datilografia, que ajudasse na hora de procurar um emprego.
A escola ficava nos altos do Bar Chic (quem falhasse nos testes sempre podia descer para esquecer seus males) e o responsável era o professor Moreira Júnior. Nos anos de 1970 (até hoje) ouvi sempre as pessoas se gabando de que conseguiam datilografar não sei quantas palavras por minuto.

Se aquela garota tiver alguma dúvida pode fazer, no mesmo aparelho, uma ligação para tirar as dúvidas ou entrar na web para pesquisar o assunto em algum site específico. Sem contar que a geringonça tira fotos profissionais, que podem ser enviadas na hora junto com a mensagem. Não sei o que ela escrevia (algo irrelevante ou extremamente importante?), mas naquele banco do metrô a caminho de algum lugar ela se sentia no seu escritório particular.  


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