MÁQUINAS
DE ESCREVER
A moça
estava sentada ao meu lado escrevendo uma mensagem por um aparelhinho minúsculo.
Os dois polegares movem-se loucamente. Ela está alheia ao barulho do trem, do
movimento dos passageiros em torno e à voz impessoal que avisa a próxima estação.
Essa jovem
munida de IPOD me faz refletir sobre várias coisas. A primeira: o fantástico
salto tecnológico das ultimas décadas que tenho o privilégio de testemunhar. A
evolução das velhas máquinas de escrever mecânicas, pesadas e barulhentas para o
sistema elétrico – mais suave e discreto; depois foram desbancadas pelos
computadores pessoais até estas maravilhas que cabem na palma da mão. E bastam
os dois polegares para operá-la. Os jovens da minha geração faziam curso de datilografia
para enfrentar adequadamente o mercado de trabalho. Não bastava escrever
corretamente, era preciso ser veloz e conhecer o teclado (Qwerty) de cor.
Por
incrível que pareça, o processo de seleção nas empresas em geral incluía um
temível teste de datilografia. Um anúncio, publicado em A Tribuna de Santos, da primeira metade do século passado, incluía o
desenho de uma mulher com os olhos vendados, datilografando em uma Remington. A
marca da máquina dava nome á escola que funcionava na Praça Mauá, 42 e por
onde, certamente, milhares de santistas passaram em busca de um certificado de
datilografia, que ajudasse na hora de procurar um emprego.
A
escola ficava nos altos do Bar Chic (quem falhasse nos testes sempre podia
descer para esquecer seus males) e o responsável era o professor Moreira Júnior. Nos
anos de 1970 (até hoje) ouvi sempre as pessoas se gabando de que conseguiam
datilografar não sei quantas palavras por minuto.
Se aquela
garota tiver alguma dúvida pode fazer, no mesmo aparelho, uma ligação para
tirar as dúvidas ou entrar na web para pesquisar o assunto em algum site
específico. Sem contar que a geringonça tira fotos profissionais, que podem ser
enviadas na hora junto com a mensagem. Não sei o que ela escrevia (algo
irrelevante ou extremamente importante?), mas naquele banco do metrô a caminho
de algum lugar ela se sentia no seu escritório particular.
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