sábado, 15 de outubro de 2016

 O RANGER DAS RODAS

“(...) as ferrovias são irresistíveis bazares, serpenteando perfeitamente nivelados qualquer que seja a paisagem, melhorando seu estado de ânimo com sua velocidade sem jamais derramar seu drinque. O trem pode inspirar segurança em lugares muito desagradáveis – muito diferente dos suores de pânico provocados pelos aviões, do odor nauseabundo dos ônibus de longa distância, ou da paralisia que aflige os passageiros de automóveis. Se um trem é grande e confortável, pouco importa seu destino: um assento num canto basta e você pode ser um daqueles viajantes que permanecem em movimento em cima dos trilhos, e nunca chegam nem sentem que precisam chegar – como aquele homem de sorte que passa a vida nos trens da ferrovia italiana porque é aposentado e tem um passe livre”.
Paul Theroux, autor do livro “O grande bazar ferroviário – de trem pela Ásia”, em que ele narra a viagem de trem (ida e volta) feira em 1975 a partir de Londres para a Ásia por rotas distintas, retratando viajantes e suas diferentes culturas, pintando as paisagens e contando histórias saborosas de suas andanças por lugares pouco conhecidos em busca de uma passagem de trem, as esperas em estações nos locais mais improváveis ou descrevendo as populações que vivem à margem das ferrovias. Seus eventuais companheiros de viagem parecem saltar de contos de ficção. Falam de sonhos, frustrações, do cotidiano, de sexo e de política. Ou não falam, apenas aparecem e ficam ao seu lado. A passagem pelo Vietnã parece ter desconcertado o americano, afinal, as tropas dos EUA haviam se retirado no ano anterior. Se a beleza do país o comove, a destruição física e moral a que os norte-americanos levaram o país o chocam profundamente.
 Foram quatro meses viajando de trem – em alguns pontos o percurso teve que ser feito de barco ou de avião. A viagem foi financiada com as palestras sobre literatura inglesa, que o professor fez em alguns lugares sob promovidas pela embaixada americana. Pelo que Theroux conta boa parte dos ganhos deve ter sido gasta em bebida. Um livro ótimo, que está longe de ser um guia de viagem. 




Locomotiva a vapor "Jiboia", importada da Alemanha pela Cia. Paulista de Estrada de Ferro em 1939, ganhou esse apelido porque puxava longas composições. Só foram fabricadas três unidades. Palácio das Indústrias, São Paulo. Foto: Hilda Araújo, 2016.

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