O RANGER DAS RODAS
“(...) as ferrovias são irresistíveis bazares,
serpenteando perfeitamente nivelados qualquer que seja a paisagem, melhorando
seu estado de ânimo com sua velocidade sem jamais derramar seu drinque. O trem
pode inspirar segurança em lugares muito desagradáveis – muito diferente dos
suores de pânico provocados pelos aviões, do odor nauseabundo dos ônibus de
longa distância, ou da paralisia que aflige os passageiros de automóveis. Se um
trem é grande e confortável, pouco importa seu destino: um assento num canto
basta e você pode ser um daqueles viajantes que permanecem em movimento em cima
dos trilhos, e nunca chegam nem sentem que precisam chegar – como aquele homem
de sorte que passa a vida nos trens da ferrovia italiana porque é aposentado e
tem um passe livre”.
Paul
Theroux, autor do livro “O grande bazar ferroviário – de trem pela Ásia”, em que
ele narra a viagem de trem (ida e volta) feira em 1975 a partir de Londres para
a Ásia por rotas distintas, retratando viajantes e suas diferentes culturas,
pintando as paisagens e contando histórias saborosas de suas andanças por
lugares pouco conhecidos em busca de uma passagem de trem, as esperas em estações
nos locais mais improváveis ou descrevendo as populações que vivem à margem das
ferrovias. Seus eventuais companheiros de viagem parecem saltar de contos de
ficção. Falam de sonhos, frustrações, do cotidiano, de sexo e de política. Ou
não falam, apenas aparecem e ficam ao seu lado. A passagem pelo Vietnã parece
ter desconcertado o americano, afinal, as tropas dos EUA haviam se retirado no
ano anterior. Se a beleza do país o comove, a destruição física e moral a que
os norte-americanos levaram o país o chocam profundamente.
Foram
quatro meses viajando de trem – em alguns pontos o percurso teve que ser feito
de barco ou de avião. A viagem foi financiada com as palestras sobre literatura
inglesa, que o professor fez em alguns lugares sob promovidas pela embaixada
americana. Pelo que Theroux conta boa parte dos ganhos deve ter sido gasta em
bebida. Um livro ótimo, que está longe de ser um guia de viagem.
Locomotiva a vapor "Jiboia", importada da Alemanha pela Cia. Paulista de Estrada de Ferro em 1939, ganhou esse apelido porque puxava longas composições. Só foram fabricadas três unidades. Palácio das Indústrias, São Paulo. Foto: Hilda Araújo, 2016.
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