Houve um tempo em que viajar era um risco muito grande e o único meio de transporte eram navios a vela. Só os privilegiados viajavam por prazer, a maioria só se arriscava por necessidade ou obrigação, como militares a caminho da Guerra do Paraguai (1864-1870). Em São Paulo, as pessoas costumavam acompanhar familiares e amigos até o início do Caminho do Mar de onde tomavam o rumo do porto de Santos para embarcar. Ali, se seguiam os abraços e a choradeira costumeira pela separação e pelo futuro incerto. Foi desse modo que o lugar passou a ser conhecido como Estradas das Lágrimas (Ipiranga) e que mais tarde se oficializou. Se tudo mudou no entorno, resiste um marco vivo daqueles tempos incertos: uma figueira sob a qual aconteciam os adeuses e as angústias se projetavam em lágrimas.
Ela é a majestosa Figueira das
Lágrimas (não podia ser outro o nome) que, de acordo com a Prefeitura de São Paulo, data de 1916. Há quem
acredite que ela já estava lá nos tempos da Independência. Entretanto, o
jornalista Emilio Zaluar (1826-1882) a caminho de Santos ali descansou e
registrou: “Pouco adiante de Ipiranga, encontra-se uma belíssima
figueira-brava, cujos galhos bracejando em sanefas de verdura, formam um dossel
em toda a largura da estrada. É este o sítio das despedidas saudosas. Aqui vêm
abraçar-se e jurar eterna amizade aqueles que se separam, para opostas direções
da estrada seguirem depois, e quantas vezes na vida, um caminho e um destino
também diversos”. A mesma figueira? Ou outra? Quem sabe?
Foto: HPPA, 27/08/2019. |
O clone no Parque Villa-Lobos. FOTO: JAPS. |
O importante é que a Figueira
das Lágrimas, testemunha centenária da História, sobrevive a décadas de descaso
(uma placa com versos foi roubada). A boa notícia é que a prefeitura iniciou em
julho deste ano obras de requalificação do entorno da Figueira das Lágrimas (Estrada das
Lágrimas, 513).
*Atual Secretaria de Infraestrutura e Meio
Ambiente.
REMINISCÊNCIAS
No início dos anos 1950, quando era criança, uma família vizinha de origem espanhola arrumou as malas para rever a terra natal. Tempos em que o avião ainda era um luxo, a viagem era de navio, ou seja, a travessia transatlântica durava quinze dias. A aventura mereceu um bota-fora para amigos e vizinhos. Como era muito pequena, lembro-me vagamente do almoço de despedida em um clube da cidade. Em pouco mais de meio século, tudo mudou. Uma viagem para Europa é bem mais acessível e fácil. O avião popularizou-se. Do Brasil ao Velho Continente, leva-se cerca de doze horas. Ninguém dá festas de despedida a menos que o viajante esteja partindo para viver em outras plagas.
REMINISCÊNCIAS
No início dos anos 1950, quando era criança, uma família vizinha de origem espanhola arrumou as malas para rever a terra natal. Tempos em que o avião ainda era um luxo, a viagem era de navio, ou seja, a travessia transatlântica durava quinze dias. A aventura mereceu um bota-fora para amigos e vizinhos. Como era muito pequena, lembro-me vagamente do almoço de despedida em um clube da cidade. Em pouco mais de meio século, tudo mudou. Uma viagem para Europa é bem mais acessível e fácil. O avião popularizou-se. Do Brasil ao Velho Continente, leva-se cerca de doze horas. Ninguém dá festas de despedida a menos que o viajante esteja partindo para viver em outras plagas.
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