quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

AS ESTRELAS DE OLAVO BILAC

Carioca da gema, Olavo Braz Martins dos Guimarães Bilac (1865-1918) estava no quarto ano da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, quando desistiu e veio para São Paulo fazer, imaginem!, Direito. Evidentemente, ficou pouco tempo no Largo de São Francisco. Foi no jornalismo que encontrou seu caminho. Fundou alguns jornais, mas nenhum teve longa duração; foi também no jornalismo que teve sérios problemas por suas posições contundentes contra o presidente Floriano Peixoto (1839-1895), o segundo presidente do Brasil. Perseguido, foi se esconder em Minas Gerais. Fez parte da “geração boêmia de 1880”, que incluía Paula Ney, José do Patrocínio, Artur Azevedo, Raul Pompeia. 

        O jornalismo e a política não sufocaram o talento do poeta. Bilac é considerado o maior poeta brasileiro parnasiano e foi muito popular em sua época. Em um concurso lançado pela revista “Fon-Fon” em 1º de março de 1913 foi eleito “Príncipe dos Poetas Brasileiros”. Sua obra sobreviveu às críticas contundentes dos Modernistas. É também autor da letra do Hino à Bandeira. Olavo Bilac nasceu em 16 de dezembro de 1865 e morreu em 28 de dezembro de 1918. 

           O Centro Acadêmico da Faculdade Direito do Largo de São Francisco (USP) se mobilizou em 1920 para levantar fundos para homenagear o poeta com um monumento. A obra, que continha personagens de vários poemas de Bilac, foi inaugurada no centenário da Independência do Brasil e acabou gerando muita polêmica na cidade. Os puritanos concentraram sua revolta no casal a se beijar (“Idílio” ou “Beijo Eterno”). Enfim, após muita confusão, cansados de tanto bobagem, os estudantes da Faculdade de Direito levaram o casal para o Largo de São Francisco onde até hoje enfeita a calçada.

SONETO XIII

“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...

 E conversamos toda a noite, enquanto
A via-láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: “Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?”

E eu vos direi: “Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas.”

                                                     (PoesiasVIA LÁCTEA, 1888.)

LÍNGUA PORTUGUESA

Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura;
Ouro nativo, que, na ganga impura,
A bruta mina entre os cascalhos vela...

Amo-te assim, desconhecida e obscura,
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela,
E o arrolo da saudade e da ternura!

Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceanos largos!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,

Em que da voz materna ouvi: “meu filho!”
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!

                                                                 (Tarde, 1919.)

"Beijo eterno", obra do suíço William Zagid (1884-1952). 

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