domingo, 20 de dezembro de 2020

NATAL


De repente o sol raiou 
E o galo cocoricou: 

‒Cristo nasceu! 

O boi, no campo perdido 
Soltou um longo mugido: 

‒ Aonde? Aonde? 

Com seu balido tremido 
Ligeiro diz o cordeiro: 

‒ Em Belém! Em Belém! 

Eis senão quando, num zurro 
Se ouve a risada do burro: 

‒ Foi sim que eu estava lá! 

E o papagaio que é gira 
Pôs-se a falar: ‒ É mentira! 

Os bichos de pena, em bando 
Reclamaram protestando. 

O pombal todo arrulhava: 
‒ Cruz credo! Cruz credo! 

Brava 
A arara a gritar começa: 

‒Mentira? Arara. Ora essa! 
‒ Cristo nasceu! - canta o galo. 
‒ Aonde? - pergunta o boi. 
‒ Num estábulo! - o cavalo 
Contente rincha onde foi. 

Bale o cordeiro também: 

‒ Em Belém! Mé! Em Belém 

E os bichos todos pegaram 
O papagaio caturra 
E de raiva lhe aplicaram 
Uma grandíssima surra.

VINICIUS DE MORAES
Rio de Janeiro, 1962.

Nenhum comentário: