A primavera vai chegando ao fim, mas a
aproximação do verão não traz a costumeira animação. Aqueles que têm bom senso viram
da janela de casa terminar o verão de 2020, passar o outono, se desvanecer o
inverno e florescer a primavera... Os que puderam trabalhar à distância também
se apoiaram à janela nos momentos de descanso. O perigo invisível continua
ameaçador. Contra ele luta-se com isolamento social, água e sabão, álcool gel,
máscaras e paciência. Música e livros são companhias muito especiais, estimulantes
e enriquecedoras. Nesta segunda-feira, lembrei-me de Alberto Caeiro, heterônimo
de Fernando Pessoa (1888-1935). Escolhi a bela e melancólica poesia que fala do
início da primavera! O que importa? Começo ou fim vale a beleza da obra. A ilustração
é o quadro “À Janela” (1881) do pintor norueguês Hans
Heyerdahl (1857-1913).
Quando vier a Primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.
Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma
Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.
Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.
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