terça-feira, 24 de agosto de 2021

O MACARRONISMO DE JUÓ BANANÉRE

Neste final de semana li dois livros. E ainda saí para tomar sol. O primeiro livro até reli. Explico: ele tem menos de quarenta páginas e é bem divertido. A primeira leitura foi um pouco complicada porque pulei os prolegômenos, mas descobri que se lesse em voz alta iria entender melhor as poesias e as histórias. O problema foi identificar os personagens estropiados pelo autor, aliás, personagens verídicos. Antes de reler busquei ajuda de Otto Maria Carpeaux (1900-1978) e Antônio Alcântara Machado (1901-1935), que assinam a introdução de “La Divina Increnca” (1915), de Alexandre Ribeiro Marcondes Machado (1892-1933), cronista paulistano que usava o pseudônimo de Juó Bananére e escrevia na “língua misturada do Brás”. O livro reúne paródias de poesias dos grandes poetas da época e sátiras contra políticos (especialmente Hermes da Fonseca) e figuras de prestígio social de São Paulo. 

       Marcondes Machado, que era muito querido e popular, usou o macarronismo, nome que se dá ao emprego intencional e literário de duas línguas para fins parodísticos, como explica Otto Maria Carpeaux. E ainda de acordo com Carpeaux, os poetas parnasianos eram as vítimas preferidas de suas paródias. Um deles foi Raimundo Correia (1859-1911), autor de “As Pombas”.


As pombigna

P’ro aviadore chi pigó o tombo

 Vai a primiéra pombigna dispertada,

I mais otra vai disposa da primiéra;

I otra maise, i maise otra, i assi dista maniéra,

Vai s’imbora tutta pombarada.

 

Pássano fora o di i a tardi intêra,

Catáno as formiguigna ingoppa a strada;

Ma quano vê a notte indisgraziada,

Vorta tuttos in bandos, in filêra.

 

Assi tambê, o Cicero avua,

Sobi nu spaço, molto ale da lua,

Fica piqueno uguali d’un sabiá.

 

Ma tuttos dia avua, allegre, os pombo!...

Inveiz chi o Muque, desdi aquillo tombo,

Nunca maise quiz sabê di avuá.


La Divina Increnca (1915), Juó Bananére. São Paulo: Editora 34, 2001.

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