quinta-feira, 26 de agosto de 2021

CHAMINÉS PAULISTANAS

 

As chaminés já foram o símbolo do desenvolvimento e da riqueza paulista e à medida que o tempo passou se transformaram em um problema ambiental; as indústrias foram se modernizando ou deixando a cidade. Hoje as chaminés são monumentos solitários da paisagem urbana.

 Uma chaminé, entretanto, tem uma história especial: a Chaminé da Luz, que pertenceu à antiga Usina Elétrica da Luz e teve um papel importante no processo de eletrificação da cidade de São Paulo. Ela ficou pronta em 1896 e em 1924 foi alvo de bombardeios pelo governo federal durante a rebelião tenentista que ocorreu entre 5 e 28 de julho, matando cerca de mil pessoas e enquanto cerca de quatro mil ficaram feridas. O objetivo da revolta foi a deposição do presidente Artur Bernardes (1875-1955), fato que o levou a decretar estado de sítio até quase o final do governo. Há alguns anos o Ministério Público condenou o governo do Estado a restaurar a chaminé, que ainda mantém resquícios da revolta em suas paredes. (Rua João Teodoro, 155).

E como sempre acontece, com a modernização das cidades,  desapareceram os limpadores de chaminés domésticas, uma profissão rude, causadora sérias doenças profissionais. 

Zona Cerealista de São Paulo.

Incinerador Vergueiro. Vila Mariana, Avenida Dr. Ricardo Jafet. 

Rua Deputado Salvador Julianelli, Água Branca.


O LIMPADOR DE CHAMINÉS

 

 Ao morrer minha mãe, eu era criancinha;

E meu pai me vendeu quando ainda a língua minha

Dizia “vale-dor!” De “varredor” não fujo,

Pois limpo chaminés, e sigo sempre sujo.

 

Chorou Tom Dacre ao lhe rasparem o cabelo,

Cacheado como um cordeirinho. E eu disse ao vê-lo:

“Não chores, Tom! Porque a fuligem não mais deve

Manchar, como antes, teu cabelo cor de neve.”

 

E ele ficou quietinho; e nessa noite, então,

Enquanto ele dormia, teve uma visão:

Viu Dick, Joe, Ned e Jack, - e mil colegas mais, -

Encerrados em negros caixões funerais.

 

E um anjo apareceu, com chave refulgente,

E abriu os seus caixões, soltando-os novamente;

E correm na verdura, a rir, para o arrebol,

E se banham num rio e reluzem ao sol.

 

Brancos e nus, sem mais sacolas e instrumentos,

Eis que sobem as nuvens, brincam sobre os ventos;

E esse anjo disse a Tom que, se ele for bonzinho,

Terá Deus como pai, e todo o seu carinho.

 

E assim Tom despertou; e, antes do sol raiar,

Com sacolas e escovas fomos trabalhar.

Feliz, Tom nem sentia o frio matinal;

Quem cumpre o seu dever não teme nenhum mal.

 

Em “Canções da Inocência”, de William Blake (1757-1827). Tradução: Paulo Vizioli.






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