As chaminés já foram o símbolo do desenvolvimento e da riqueza paulista e à medida que o tempo passou se transformaram em um problema ambiental; as indústrias foram se modernizando ou deixando a cidade. Hoje as chaminés são monumentos solitários da paisagem urbana.
E como sempre acontece, com a modernização das cidades, desapareceram os limpadores de chaminés domésticas, uma profissão rude, causadora sérias doenças profissionais.
Rua Deputado Salvador Julianelli, Água Branca.
O LIMPADOR DE CHAMINÉS
E meu pai me vendeu quando
ainda a língua minha
Dizia “vale-dor!” De
“varredor” não fujo,
Pois limpo chaminés, e sigo
sempre sujo.
Chorou Tom Dacre ao lhe
rasparem o cabelo,
Cacheado como um cordeirinho.
E eu disse ao vê-lo:
“Não chores, Tom! Porque a
fuligem não mais deve
Manchar, como antes, teu
cabelo cor de neve.”
E ele ficou quietinho; e
nessa noite, então,
Enquanto ele dormia, teve uma
visão:
Viu Dick, Joe, Ned e Jack, -
e mil colegas mais, -
Encerrados em negros caixões
funerais.
E um anjo apareceu, com chave
refulgente,
E abriu os seus caixões,
soltando-os novamente;
E correm na verdura, a rir,
para o arrebol,
E se banham num rio e reluzem
ao sol.
Brancos e nus, sem mais
sacolas e instrumentos,
Eis que sobem as nuvens,
brincam sobre os ventos;
E esse anjo disse a Tom que,
se ele for bonzinho,
Terá Deus como pai, e todo o
seu carinho.
E assim Tom despertou; e,
antes do sol raiar,
Com sacolas e escovas fomos
trabalhar.
Feliz, Tom nem sentia o frio
matinal;
Quem cumpre o seu dever não
teme nenhum mal.
Em “Canções da Inocência”, de William Blake (1757-1827). Tradução:
Paulo Vizioli.
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