A casa
número 4 da Praça José Bonifácio desapareceu há muito tempo; entretanto, o
garotinho que lá nasceu em 25 de junho de 1884 cresceu, foi poeta, formou-se
médico, cuidou de ricos e pobres com o mesmo empenho. Numa época amarga
encontrou tempo para fazer poesia e, 86 anos depois da sua morte, continua
lembrado e homenageado por seus conterrâneos. José Martins Fontes (1884-1937)
nasceu em Santos e a partir de amanhã tem início a 16ª Semana Martins Fontes,
promovida pela Academia Santista de Letras.
Martins Fontes foi um poeta precoce:
tinha oito anos quando teve sua poesia publicada no jornal “A Metralha” – é verdade
que o semanário era publicado pelo avô dele, o coronel Francisco Martins dos
Santos. Ainda adolescente recitou o hino a Castro Alves de sua autoria no Centro
Socialista, entidade fundada pelo pai Silvério Martins Fontes, que era marxista-leninista.
A fase santista foi interrompida, quando ele foi para o Rio de Janeiro estudar
medicina, época em que se tornou amigo de Olavo Bilac e Emílio de Meneses, entre
outros intelectuais, participando da vida boêmia carioca. Formado, dedicou-se à
medicina com paixão. Ao retornar a Santos prestou serviços na Santa Casa de Misericórdia de Santos, Beneficência
Portuguesa, ainda atuou como inspetor sanitário e diretor do Serviço Sanitário
da cidade. Durante a epidemia da Gripe Espanhola, teve uma atuação intensa no
atendimento da população. Dedicou parte da sua vida para fazer conferências pelo
Brasil, Europa, Estados Unidos e outros países.
O médico não sufocou
o poeta e o escritor: Martins Fontes deixou 59 títulos publicados entre poesia e literatura. É
o patrono da cadeira 26 da Academia Paulista de Letras e foi titular da Academia
das Ciências de Lisboa.
A Semana Martins Fontes, que faz parte do Calendário Municipal (Lei nº 2.445/2007), começará amanhã às 10 horas com uma tertúlia poética em homenagem ao poeta. O evento será nos jardins da praia ao lado do canal 2, junto ao busto do poeta.
SONETO
Antes
de conhecer-te, eu já te amava.
Porque sempre te amei a vida inteira:
Eras a irmã, a noiva, a companheira,
A alma gêmea da minha que eu sonhava.
Com o coração, à noite, ardendo em lava
Em meus versos vivias, de maneira
Que te contemplo a imagem verdadeira
E acho a mesma que outrora contemplava.
Amo-te. Sabes que me tens cativo.
Retribuis a afeição que em mim fulgura,
Transfigurada nos anseios da Arte.
Mas, se te quero assim, por que motivo
Tardaste tanto em vir, que hoje é loucura,
Mais que loucura, um crime desejar-te?
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