Entrei
no trólebus para ir a Higienópolis, mas não consegui chegar até lá. Motivo
banal, mas irritante. Motorista e cobrador jovens parecem ser amigos de longa
data. O cobrador fala aos berros sem parar, conta uma história atrás da outra
sobre o celular – compra, venda, programas, apepês e que tais. Tento
ignorar. Acho que tem problema auditivo e por isso fala tão alto. É gentil com
passageiros idosos, aconselha cuidado, e retoma a conversa; dá informações
precisas a quem pergunta... Na praça da República, minha paciência se esgotou e,
num impulso, desci. Na calçada, hesito. Pegar outro trólebus? Não. Resolvo
tomar um café e lembro da padaria do Olivier, atravesso a rua e percebo que a
praça está em polvorosa – funcionários da prefeitura varrem e esfregam o chão
que brilha. Podaram as árvores, o gramado do jardim foi aparado – passarinhos
saltitam por todo lado, aproveitando a comida farta que aparece nessas ocasiões
em que insetos ficam sem proteção da vegetação. Os lagos estão limpos e as
fontes funcionam.
Sempre achei a República uma das praças mais bonitas da cidade. Até encontrei Baden Powell por lá – não o músico brasileiro que faleceu em 2000, mas o britânico, idealizador do movimento de escoteiros, morto em 1941. Triste mesmo foi constatar que roubaram a escultura do sabiá-laranjeira; entretanto, uma graciosa garça apareceu por lá, pousou numa mureta, olhou em torno e foi pousar numa plataforma, que transformou num palco e, ali, no meio de um dos lagos, arrepiou as penas, se coçou e se imobilizou, no melhor estilo estátua. Um senhor passa por mim e exclama “inacreditável!”.
Há alguns moradores de rua, um sem juízo ronda aqui e ali envolto em seu cobertor “reizinho”, soltando palavras ao vento (aliás, tem muita gente com juízo por aí dizendo palavras ao vento). Hora de ir ao café, mas passo por uma banca de jornal (?) com vários livros em oferta. Nem precisei garimpar –um de Mário de Andrade me atrai de imediato. Compra feita, olho para o edifício Esther e vejo um OXXO onde deveria estar a padaria, que fechou em consequência da pandemia – o restaurante continua funcionando.
A vontade de tomar café passou e caminho até a avenida São Luís para tomar o ônibus. (Verbo tomar com sentidos tão diferentes!) Não espero muito e logo aparece o trólebus, mas assim que a porta se abre – surpresa! Lá está a mesma dupla da viagem até a praça. Quero crer que eles esgotaram o assunto nesse intervalo; porém, assim que os passageiros se acomodam e o veículo se movimenta, os dois prosseguem no bate-papo. Incrível o cobrador não ter perdido a voz. O jeito é tentar ignorar as histórias (agora o assunto são motos), manter os olhos na janela e achar algo interessante de passagem...
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