quarta-feira, 26 de junho de 2024

RUA DO OURO

 


Uma rara manhã tranquila na Praça da Sé. A banca de jornal –atualmente o que menos tem é jornal – abriu cedo; o pregador madrugou com sua bíblia, mas apenas o homem com vistosas calças parece interessado em ouvi-lo; ao redor alguns homens que parecem viver por ali cuidam de seus míseros pertences. Uns poucos idosos sentados nas muretas dos canteiros parecem esperar como Estragon e Vladimir, mas assim como estes dois personagens de Beckett, eles no fundo sabem que Godot nunca aparecerá. Um pouco afastado, o senhor com o colete amarelo prefere a praça à algazarra da “rua do ouro” e fuma na expectativa de que surja alguém que precise vender suas joias.   

Acredito que João Cardoso de Meneses e Sousa (1827-1915) nunca imaginou que seria mais conhecido por venda de ouro (que nunca praticou) do que pela sua trajetória profissional como político, advogado, professor e jornalista. Santista de nascimento, depois de uma passagem por Taubaté (SP), estabeleceu-se no Rio de Janeiro e por seus serviços recebeu o título de Barão de Paranapiacaba em 1883. Quando ele morreu, uma das ruas do Centro Histórico recebeu o nome de Barão de Paranapiacaba. Com o tempo comerciantes de ouro se estabeleceram por lá e a ruela se tornou temática. Se você caminhar pelo entorno da Praça da Sé, com certeza será importunado por uma das dezenas de pessoas que tentam atrair clientes para lojas que compram e vendem ouro e outros tipos de metal precioso na rua Barão de Paranapiacaba, a famosa “rua do ouro”. Essas pessoas às vezes usam coletes com o nome da loja ou simplesmente empunham catálogos e folhetos que, no afã de ganhar a atenção dos transeuntes (palavrinha feia), acabam brigando entre si. Difícil escapar deles.



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